Divagações: 21 Jump Street
8.5.12
Há muito tempo atrás, no distante ano de 1987, estreava uma série que transformaria Johnny Depp de um ilustre desconhecido em uma figurinha carimbada em Hollywood. 21 Jump Street, ou Anjos da Lei em território tupiniquim, era um seriado sobre jovens policiais enfrentando o crime sob o disfarce de alunos comuns do Ensino Médio, tratando de forma dramática os problemas da juventude na virada da década. Assim, quando os primeiros materiais desta refilmagem chegaram ao público, os antigos fãs não puderam evitar o temor de verem transformado um produto sério em uma comédia. The Green Hornet e Starky & Hutch seguiram pelo mesmo caminho, com diferentes graus de sucesso (ou fracasso), então temos de admitir, esse era um medo... Compreensível.
Durante o Ensino Médio, Schmidt (Jonah Hill) era o típico gordinho tímido e estudioso e Jenko (Channing Tatum) um aluno popular, parte do time de futebol americano e burro como uma porta. Apesar de não se entenderem durante essa época, os dois seguem a mesma carreira policial e, na academia, surge uma inesperada amizade. Como na série original, Schmidt e Jenko são transferidos para a unidade que dá nome ao filme, tratando de crimes da juventude como agentes infiltrados nas escolas. Uma de suas missões é encontrar o fornecedor de uma nova droga sintética. Porém, o que nenhum dos dois esperava é que, nesse meio tempo, muita coisa mudou entre os jovens e o que era considerado legal na época hoje em dia não é mais tão bem visto, colocando os planos em risco.
Mesmo que essa pareça uma premissa para um humor barato e escatológico, o filme consegue encontrar boas saídas para as limitações do gênero. O personagem Captain Dickson (Ice Cube) serve exatamente para enfatizar a maneira com que os clichês são subvertidos ao mesmo tempo que o filme se aproveita dos estereótipos. Assim, temos uma produção engraçada, que surpreende em alguns momentos e que, mesmo nas horas em que é previsível, consegue agradar, justamente por não se levar a sério. Seja nas cenas de ação onde esses temas são trabalhados, seja na relação entre os personagens.
Só me vejo obrigado a avisar uma coisa: esse é um filme para se ver com uma mentalidade bastante aberta, já que o seu humor é sobretudo apoiado no exagero absurdo das situações e não há moderação para nada, quer seja nos palavrões, no humor corporal ou até nas subversões dos clichês do gênero. Então, se o seu negócio é um roteiro mais sutil, 21 Jump Street não é para você.
O roteiro é bastante linear e, já no início do filme, é possível enxergar para onde as coisas irão. Contudo, 21 Jump Street herda um pouco do mal de The Green Hornet. O personagem de Jonah Hill acaba com muito mais destaque e isso é prejudicial para o resultado final, já que talvez tivesse sido mais interessante lidar de modo mais equilibrado com os protagonistas. Falando nisso, os fãs da sua encarnação anterior vão ficar felizes em saber que há várias referências a situações e a personagens da série antiga, inclusive com a participação dos atores originais.
Mesmo que existam críticas pela transformação deste título em uma quase paródia ao seriado e que toda a dimensão de densidade e o drama tenham ficado perdidos, é quase impossível dizer que este seja um filme ruim. Mesmo tendo várias falhas e sendo cansativo em alguns momentos, 21 Jump Street é genuinamente engraçado e interessante para aqueles que estão dispostos a digerir o seu tipo de humor. Se você gosta de comédia e está atrás de alguma coisa diferente, essa é uma boa pedida – caso não seja para o cinema, ao menos vale uma locação.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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