Divagações: Frankenweenie

Em 1984, Tim Burton havia realizado apenas alguns curtas e um filme para televisão. Ele era um jovem de 26 anos, cheio de ideias, mas um...

Em 1984, Tim Burton havia realizado apenas alguns curtas e um filme para televisão. Ele era um jovem de 26 anos, cheio de ideias, mas um tanto deslocado. Além disso, ele não queria trabalhar de animador para grandes estúdios, mas contar suas próprias histórias. Foi nessa época que Burton conseguiu realizar o curta Frankenweenie, uma obra que foi bem recebida no meio e marcou sua despedida dos curtas-metragens, mundo ao qual ele retornou apenas em 2000, com The World of Stainboy.

Por mais que o caminho traçado o tenha levado para o trabalho com atores (seu primeiro longa-metragem foi Pee-wee's Big Adventure), Burton nunca abandonou por completo a animação, especialmente as técnicas do stop motion, que ele utilizou em The Nightmare Before Christmas (onde foi roteirista e produtor, mas não diretor), Corpse Bride e nessa nova versão de Frankenweenie.

A história continua praticamente a mesma. Victor Frankenstien (Charlie Tahan) é um menino solitário que gosta de fazer filmes caseiros (em 3D!) e que tem como melhor amigo seu cachorro Sparky. Quando o animal é atropelado, o menino decide usar seus conhecimentos de ciências (e a enorme quantidade de tempestades de rádios da cidade onde vive) para trazer seu amigo de volta à vida – e ele consegue. Inicialmente, Victor tenta esconder Sparky, mas ele acaba fugindo e assustando a comunidade local.

A título de curiosidade, esse é o primeiro filme do diretor em muito tempo que não conta com as presenças de Johnny Depp e Helena Bonham Carter. Para quem tiver a oportunidade, recomendo assistir em 3D (o efeito é discreto, mas ressalta as texturas dos personagens) e com a dublagem original. Entre as vozes que podem ser ouvidas estão as de Catherine O'Hara, Martin Short, Martin Landau e Winona Ryder.

Como já tive a oportunidade de assistir ao curta que conta a mesma história, não consigo deixar de pensar em Frankenweenie como a versão alongada de algo que estava bom da forma original. Ainda assim, entendo a vontade do diretor em retomar esse trabalho, tido por muitos como um retrato da infância do diretor. A principal diferença é a ampliação do universo infantil, sendo que cada um dos colegas de Victor é repleto de referências.

Feito em preto e branco, o filme é uma homenagem às histórias de terror, especialmente (e obviamente), Frankenstein, livro de Mary Shelley. No decorrer da história aparecem diversos clichês do gênero, contudo, não se pode dizer que o filme tenta assustar em momento algum. Pelo contrário, trata-se de uma obra sobre carinho e amizade. Apenas aquele que realmente ama seu animal de estimação tem o direito de ficar com ele por mais tempo.

Também existe uma crítica ao mundo dos adultos, retratados como ignorantes e alienados. Com isso, acredito que Frankenweenie consegue se aproximar ainda mais do público infantil, fazendo com que as crianças se sintam compreendidas e queridas.

Talvez isso aconteça porque o próprio Tim Burton não parece estar completamente adaptado a esse mundo de gente grande, mas confesso que gosto mais dos filmes dele que mostram esse lado deslocado e infantil. Pensando bem, quem realmente entende o que se passa pela cabeça dos adultos? Somos todos um pouco malucos e nossa sociedade não faz muito sentido. Quando assisto a um filme, prefiro a sensibilidade e a criatividade às responsabilidades e consequências.

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