Divagações: Hitchcock

Alfred Hitchcock foi um dos mais marcantes diretores do cinema moderno. Mesmo que o impacto se sua obra tenha sido imensamente ‘acolchoa...

Alfred Hitchcock foi um dos mais marcantes diretores do cinema moderno. Mesmo que o impacto se sua obra tenha sido imensamente ‘acolchoado’ pelo cansativo uso de suas ideias, que acabariam com os anos se tornando clichês de todo um gênero, não há como não se admitir que Hitchcock foi um homem por trás de grandes e ousadas inovações e que, sem dúvida alguma, a história do cinema teria sido diferente sem ele.

Porém, não são apenas as glórias que definem a imagem de um gênio. As excentricidades do diretor – que levou um pouco da sutileza britânica a Hollywood – o faziam um personagem tão curioso quanto qualquer um em seus filmes. Suas obsessões com os detalhes de suas obras, atores e atrizes, já geraram muita discussão. Assim, esta súbita onda de revisitar a obra do dito mestre do suspense era apenas uma questão de tempo, deixando como resultado o britânico The Girl e este filme, uma adaptação cinematográfica do livro de Stephen Rebello que detalha os bastidores da filmagem de um dos maiores sucessos do diretor, Psycho.

No início dos anos 1960, Alfred Hitchcock (Anthony Hopkins) já era um dos diretores mais conhecidos do cinema americano. Depois de emplacar grandes sucessos como Dial M for Murder e Rear Window, ele parecia estar em um momento onde era impossível se superar. Seu relacionamento com a esposa, Alma Reville (Helen Mirren), parecia se desgastar sobre o peso dos anos e da fama, levando tanto o casamento quanto a carreira a uma perigosa estagnação. A situação muda quando Hitchcock descobre o livro Psycho, uma história de terror baseada na vida de um perigoso serial killer, Ed Gein (Michael Wincott), e resolve o transformar em um filme estrelando Janet Leigh (Scarlett Johansson), apesar de toda a resistência da crítica e do estúdio ao projeto.

Um dos maiores motivos para Hitchcock empolgar é a presença de Anthony Hopkins que, mesmo tendo sumido nos últimos tempos, ainda é o tipo de ator que sabe se entregar completamente a um personagem. Apesar das críticas de que seu sotaque é falho em alguns momentos – o que é imperceptível por esses lados – Hopkins não decepciona em entregar a dose correta de loucura para o protagonista. Apesar de mais contida, Helen Mirren não se sai mal, conseguindo segurar bem a sua ponta do cabo de guerra, uma tarefa complicada, considerando que a trama orbita através da relação entre estes dois personagens.

Mesmo assim, é possível dizer que a porção do filme que se ocupa em tratar do relacionamento entre Hitchcock e Alma seja a mais fraca, ainda que não chegue exatamente a incomodar. Só é uma pena que o making of de Psycho seja um tanto quanto enxuto, já que é uma situação que não dá apenas a Hopkins a chance de brilhar, mas apresenta a quem gosta de cinema uma perspectiva bastante interessante sobre um dos grandes clássicos do terror.

Outro mérito do filme está em uma narrativa que não se leva completamente a sério, imitando em alguns momentos a da famosa série de TV, Alfred Hitchcock Presents – inclusive com a música tema que será eternamente relacionada ao rotundo diretor. Apesar disso, a estética do filme fica a dever, não tanto na até competente recriação da década de 1960, mas na ausência de influências mais marcantes de sua filmografia, o que o pôster deixa a entender.

De modo geral, este é um filme interessante para todos aqueles com o mínimo de curiosidade sobre a vida e obra de Hitchcock, mas que não é necessariamente indicado para quem não tem a mínima noção de quem seja o diretor inglês. Não que não vá agradar os desavisados, mas acredito que, para apreciar o filme como um todo, é necessário entender ao menos um pouco das referencias que permeiam a história. Mesmo com seus momentos mais arrastados, o resultado final é bastante positivo, sendo um filme surpreendentemente mais divertido do que pareceria em um primeiro momento.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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