Divagações: August - Osage County
11.3.14
Um elenco de dar inveja a muita superprodução, indicações ao Oscar, sucesso de crítica e... salas vazias. Por alguma razão, o público brasileiro não compareceu para conferir August: Osage County. O filme pode ter estreado em um cinema perto de você, mas deve ter ficado pouco tempo em cartaz, permanecendo apenas naqueles locais que se dedicam a filmes alternativos ou independentes.
Obviamente, os motivos são de fácil identificação: uma divulgação tímida e uma temática pesada. Por mais que muita gente alegue amar Meryl Streep, são poucos os que realmente pagam para assisti-la – e nem a presença de Julia Roberts, Ewan McGregor e Benedict Cumberbatch consegue mudar isso.
August: Osage County acompanha uma crise familiar em pleno sol escaldante de Oklahoma. Todos reclamam muito do calor (embora eventualmente usem mangas compridas) enquanto as filhas – e seus agregados – se reúnem e tentam entender o sumiço do patriarca da família, Beverly Weston (Sam Shepard), e lidar com os vícios da mãe, Violet (Meryl Streep).
Barbara (Julia Roberts) é a queridinha que foi morar longe e começa a carregar a família nos ombros enquanto tem um marido infiel, Bill Fordham (Ewan McGregor), e uma filha rebelde, Jean (Abigail Breslin). Karen (Juliette Lewis) é a maluquinha que não para em relacionamento nenhum e só sabe falar de seu novo amor, o questionável Steve Huberbrecht (Dermot Mulroney). Além disso, Ivy (Julianne Nicholson) é a quietinha que cuidava de maneira um pouco relapsa da mãe enquanto vivia um romance secreto com o primo, Little Charles Aiken (Benedict Cumberbatch). Completando a mesa está o casal formado pela irmã de Violet, Mattie Fae (Margo Martindale) e seu marido Charlie Aiken (Chris Cooper), além da empregada recém contratada, Johnna Monevata (Misty Upham).
Embora todos estejam reunidos por causa de Beverly, é a loucura de Violet que determina as relações entre os personagens. Mesmo sob o efeito de remédios, ela manipula e joga com as pessoas, fazendo com que todos permaneçam em clima de guerra. Com roteiro baseado em sua própria peça, Tracy Letts constrói e destrói essa família com muita facilidade – e uma boa dose de gritos. A propósito, a origem teatral é facilmente perceptível e me deixou com vontade de ver isso tudo acontecer em um palco.
Não dá para negar que August: Osage County é pesado e exige alguns minutos após a sessão para o espectador respirar fundo e se recompor. Há mais dramas que em muita novela, mas tudo é muito mais rápido: está latente e prestes a ser jogado na cara do familiar mais próximo. Ninguém está feliz e não é difícil entender as razões. Toda a situação acontece em cima de uma verdadeira corda bamba, com a personagem de Meryl balançando o fio a seu bel-prazer. Ainda bem que todo o elenco consegue segurar bem a barra e entregar interpretações críveis.
E por que ir ao cinema para sofrer? Felizmente, o ser humano é movido a muitas emoções e esse é um filme repleto delas. Quem tem família passa por todo o tipo de situação e acredito que jantares ruins devem acontecer em todas as casas. Nesse caso, não se trata apenas de identificação com os personagens, mas de envolvimento. August: Osage County levanta muitas questões válidas para quem tem pais, filhos, irmãos, cônjuge... Não basta conviver. Mas o que é preciso fazer?
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