Divagações: The Amazing Spider-Man 2
22.4.14
Há menos de uma década atrás, era difícil negar que Spider-Man talvez fosse o herói mais conhecido e amado da Marvel, entre os quadrinhos, videogames, filmes e desenhos, o cabeça de teia era sempre recebido com empolgação tanto por neófitos quanto pelos fãs de longa data do aracnídeo. Porém, com a ascensão meteórica do Marvel Studios e seu universo cinemático sinto que o herói foi perdendo força nos cinemas, sendo a competente, porém nada memorável, adaptação de Marc Webb insuficiente para jogar os holofotes de volta para a franquia.
Com isso em mente, a produção do filme tentou enveredar ainda mais para o caminho trilhado por The Avengers, tentando repetir o sucesso de seu concorrente mais bem sucedido ao trazer vários dos personagens mais icônicos do universo do herói. Porém, como já sabemos, quantidade não significa qualidade – que o diga Spider-Man 3 –, então, eu me aproximei de The Amazing Spider-Man 2 com muita cautela, já que qualquer escorregão poderia acabar com as chances desta nova série valer a pena.
Esse episódio começa meses após o fim do filme de 2012, com Peter Parker (Andrew Garfield) mais habituado a sua vida. Mesmo sendo amado pelos habitantes de Nova York, ele passa por um momento conturbado em seu relacionamento com Gwen Stacy (Emma Stone), causado por suas responsabilidades como herói. As coisas se tornam ainda mais confusas com a volta de um antigo amigo, Harry Osborn (Dane DeHaan), e o surgimento de um novo oponente, Electro (Jamie Foxx), que colocam Peter não apenas em contato com o seu passado, mas também o fazem se questionar sobre as escolhas para o seu futuro e o seu papel como herói.
Uma coisa sou obrigado a admitir: esse filme se esforça um bocado para trazer o feeling dos quadrinhos para os cinemas. Ao invés de tentar encaixar um sujeito escalando paredes e batendo em criminosos no mundo real, The Amazing Spider-Man 2 tenta reproduzir aquele clima absurdo e caricato que temos nas revistas, com personagens exagerados e tiradas engraçadas o tempo todo. A primeira metade do filme é pura diversão, sendo um presente para os fãs do amigo da vizinhança, embora as coisas comecem a desandar quando o roteiro tenta se levar a sério e construir uma história grandiosa.
Assim, a trama consegue escapar da maior parte das armadilhas que seriam capazes de estragar o filme. O excesso de personagens é apenas aparente, não passando aquele sentimento de que esse ou aquele vilão foi colocado apenas para satisfazer a exigência dos produtores. Além disso, o trabalho de Dane DeHaan é muito mais interessante do que o seu penteado poderia acusar, com Andrew Garfield e Emma Stone segurando muito bem as pontas como um casal muito mais crível que, por exemplo, Tobey Maguire e Kirsten Dunst – por mais que o excesso de atenção no romance possa incomodar uma parcela do público.
O que realmente atrapalha é a tentativa de inserir drama e conflito na história, de tentar relacionar todo o passado enigmático dos pais de Peter – que recebem especial destaque – com os inimigos que ele enfrenta no presente. A história não precisava disso e o filme estava muito menos tedioso quando o protagonista enfrentava bandidos comuns e outros escroques da mesma laia. Da metade para o final, o roteiro tem seus bons momentos, mas o resultado fica a desejar, sendo que o grande clímax fica um pouco afogado pelo contexto, dando uma incomoda sensação de o filme foi esticado para chegar até lá.
Entretanto, não acho que aqueles que esperavam um filme pipoca vão se incomodar demais, pois as lutas estão bem legais, com um visual bastante bonito e um uso até que interessante do 3D, apesar da mudança sutil na maneira de lutar do herói, causada por um feedback negativo no filme anterior. A trilha sonora é um ponto alto com composições de Johnny Marr, Pharrell Williams e Hans Zimmer, que exploram bem o clima dos quadrinhos e os elementos em cena.
Ainda que um pouco ofuscado pelo lançamento quase simultâneo de Captain America: The Winter Soldier, The Amazing Spider-Man 2 tem suas qualidades e merece ser visto entre punhados de pipoca e goles de refrigerante, apresentando uma visão mais fiel do personagem para aqueles que cresceram lendo ou assistindo as aventuras do herói. Agora, se a Sony será capaz de manter o nível destes dois últimos filmes nos seus planos mirabolantes de criar uma série de spin-offs no universo do Spider-Man, só o tempo dirá.
Outras divagações:
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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