Divagações: Penelope
12.8.14
Acreditem ou não, mas ainda existem filmes (relativamente recentes) nesse mundo que são feitos para serem simplesmente fofos, singelos e amorosos. Eles podem ser vistos por crianças e adultos, têm uma moral interessante e funcionam como um entretenimento de qualidade tanto quanto (ou talvez até mais) aquele blockbuster cheio de ação e explosões.
Um exemplo é Penelope, que tem uma estrutura de conto de fada, mas não precisaria entregar isso de forma tão óbvia (sim, começa com "Once Upon a Time"). A história acompanha Penelope Wilhern (Christina Ricci), herdeira de uma família aristocrática que foi amaldiçoada há algumas gerações e, por isso, a moça nasceu com um focinho de porco no lugar do nariz.
Para quebrar o feitiço, ela precisa ser aceita por um igual, de modo que sua mãe, Jessica (Catherine O'Hara), decide partir em busca de um pretendente que também seja ‘sangue azul’. Como obstáculos no caminho surgem o jornalista Lemon (Peter Dinklage), que quer uma fotografia da moça; o aristocrata falido Max (James McAvoy), que é viciado em pôquer; e o assustado pretendente almofadinha Edward Vanderman (Simon Woods), que sempre mete os pés pelas mãos.
Apesar de ser muito bonitinho, o filme teve uma péssima recepção em sua estreia (depois de ter ficado dois anos esperando ser lançado) e muitas pessoas tiveram dificuldades em comprar a premissa. Ela é absurda? Sim, sem dúvida. Mas não custa dar uma chance. Christina Ricci está uma graça com seu nariz de porquinha e o fato dela espantar todos os seus pretendentes é apenas o retrato exagerado de um comportamento previsível.
É preciso admitir que Penelope é um pouco perdido no tempo e fica confuso ao retratar uma cidade grande com personagens que se comportam como se vivessem em uma pequena vila. Ao mesmo tempo, a primeira parte é ótima ao apresentar toda a situação vivida pela protagonista e criar sua personalidade. Os recursos visuais e o texto funcionam bem em conjunto, de modo que é preciso apenas um coração livre para embarcar na história.
Após a primeira reviravolta do roteiro (que é óbvio, mas tem seus bons momentos), a narrativa se torna mais convencional e o filme se segura em uma espécie de crítica social rasa, que até funciona, mas não deixa de ser desnecessária. Catherine O'Hara capricha em sua veia cômica, mas acaba perdendo espaço na metade final e, embora James McAvoy seja o mocinho, seu personagem tem pouco a acrescentar. Assim, o filme só consegue se manter pela qualidade do trabalho de Peter Dinklage e Christina Ricci, que entregam dilemas ‘trocados’, digamos assim.
Dito isso, não dá para negar que, sem dúvida, muitas ideias interessantes passaram pela cabeça do diretor Mark Palansky. Só acho uma pena ele ter praticamente sumido dos cinemas após essa primeira tentativa – no ano passado, ele dirigiu apenas Rememory (com parte do elenco de Penelope), mas a produção ainda não foi lançada.
De qualquer modo, Penelope é um daqueles filmes água com açúcar que encantam pelo que são, além de serem repletos de boas intenções. Infelizmente, ele não atinge tudo a que se propõe, mas aquele nariz pode fazer você se esquecer disso por alguns instantes.
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