Divagações: Paths of Glory
6.1.15
A guerra foi um tema que acompanhou Stanley Kubrick em sua carreira. Seu primeiro filme, Fear and Desire, acompanhava as agonias de quatro soldados, enquanto sua segunda investida no tema, Paths of Glory, mostra um general idealista em busca de justiça. Passado durante a I Guerra Mundial e levemente baseado em fatos reais, o filme é uma adaptação do livro de Humphrey Cobb, com roteiro de Kubrick, Jim Thompson (com quem ele já havia trabalhado em The Killing) e do escritor Calder Willingham. Na produção, além do diretor e de seu parceiro James B. Harris, também consta o nome da estrela do filme, Kirk Douglas, um detalhe que pode ter garantido a moral inquestionável do personagem principal.
A história se passa em três ambientes distintos. O primeiro é uma casa luxuosa, onde os generais George Broulard (Adolphe Menjou) e Paul Mireau (George Macready) decidem os próximos movimentos do exército francês, mais preocupados com suas confortáveis posições que com a guerra em si. Depois, somos levados para as trincheiras. Lá, o coronel Dax (Douglas) lidera seus homens com mão de ferro, mas consciente da situação degradante das tropas.
Após a derrota em um movimento estratégico importante, chega o momento do julgamento em que três soldados – Maurice Ferol (Timothy Carey), Lejeune (Kem Dibbs) e Pierre Arnaud (Joe Turkel) – são escolhidos por motivos diversos para servirem de exemplo às tropas. Dax assume, então, a posição de advogado, revelando seus verdadeiros pontos de vista sobre a guerra.
Embora seja narrativamente mais convencional que The Killing, Paths of Glory não deixa de subverter o gênero dos filmes de guerra. A batalha acontece muito mais dentro da trincheira do que fora, com os atores em um verdadeiro buraco sujo e opressor, sem qualquer tipo de charme ou glória. Com o decorrer da sessão, o julgamento de três soldados se torna mais importante que as vitórias e derrotas de todo o exército. É uma batalha humana pela defesa de ideais.
Trabalhando com um roteiro de qualidade, capaz de chamar a atenção de vários atores importantes da época, Kubrick parece perceber que sua arte pode ir além em termos de significado e emotividade – que o diga as sequências finais, com a presença da terceira esposa do diretor Christiane Kubrick (à época, Christiane Harlan).
Com nomes reconhecidos no elenco e cenários grandiosos, Paths of Glory poderia ser um caminho fácil para Kubrick se enredar no cinema comercial. Mas não foi isso o que ele fez. Ele abraçou a polêmica e teve seu filme proibido em diversos países, como a Espanha, a Suíça e a própria França. Embora a situação retratada pudesse ser referente a qualquer país, ela tocou fundo nas feridas. Afinal, esse é um dos poucos filmes do gênero que não exalta o patriotismo, focando na imensa responsabilidade deixada na mão de poucos homens, que decidem a vida de muitos como quem joga uma inocente partida de xadrez.
Paths of Glory é um daqueles filmes bonitos de se ver. Ele exalta as pessoas que ainda lutam pela humanidade e possui um protagonista corretíssimo; é uma esperança que dificilmente veremos novamente na filmografia do diretor. Ainda assim, é algo que precisamos e que encontra ecos em muitas produções recentes, como em The Conspirator (que até tenta, mas não consegue ser tão bom).
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