Divagações: Café Society

Uma característica que eu particularmente admiro no trabalho de Woody Allen é sua capacidade de lançar filmes todos os anos. Esse desejo ...

Uma característica que eu particularmente admiro no trabalho de Woody Allen é sua capacidade de lançar filmes todos os anos. Esse desejo de contar novas histórias ininterruptamente faz com que boa parte delas não resulte exatamente em bons filmes. Mas ele continua tentando e, convenhamos, sempre há algo interessante para se tirar de cada um de seus longas-metragens.

Café Society é um exemplo dos filmes que não atingiram toda a notoriedade que se poderia esperar. Ao mesmo tempo, a produção não deve entrar tão facilmente na lista de ‘mais odiados’, já que ela simplesmente não desperta sentimentos tão fortes assim. Inclusive, suponho que os amantes de uma boa nostalgia hollywoodiana consigam se divertir com a quantidade de nomes importantes sendo soltos a torto e a direito, quase como se não houvesse muita pretensão em fazer algo assim (o que não deixa de ser um aspecto que afasta parte do público, que consegue sentir as possíveis piadas sem graça perdidas a cada nova cena).

Bobby (Jesse Eisenberg) é um rapaz ingênuo que quer arrumar um emprego e crescer em Hollywood. Ele não quer ser ator nem nada assim, mas reconhece o poder financeiro dos bastidores, onde seu tio Phil Stern (Steve Carell) vive como um rei. O jovem demora a conseguir qualquer apoio que seja, mas, eventualmente, consegue se virar e conquista a amizade de Vonnie (Kristen Stewart), que trabalha para seu tio. Ela, por sua vez, quer viver o grande sonho de fama e fortuna que a cidade promete, mas está desiludida por não conseguir uma chance de brilhar como atriz e, também, pelas idas e vindas de seu romance com o próprio chefe, que é casado. Eventualmente, os dois jovens também se envolvem, mas seus corações estão voltados para objetivos diferentes.

O detalhe é que Café Society não para por aí. A história do filme se alonga para além do óbvio, ainda que o desenrolar não traga o elemento catártico necessário. Ao mesmo tempo em que o protagonista de Eisenberg cresce, ele segue um caminho que não parece condizer com sua personalidade. Por sua vez, a personagem de Stewart se torna mais plana e desinteressante. Também há toda uma trama paralela envolvendo os irmãos de Bobby (Sari Lennick e Corey Stoll) que, apesar de interessante, acaba se perdendo pela falta de conexão real com o casal principal.

Outro aspecto que também caracteriza o filme é a narração em off, feita pelo próprio Woody Allen (que não interpreta nenhum personagem). Ainda que ela seja coerente com o estilo da produção e com o que se espera do diretor, ela é absolutamente desnecessária narrativamente, tornando-se um aspecto redundante e, por vezes, até mesmo incômodo. O que a salva são algumas poucas linhas mais espertas e intrigantes, ainda que o filme não seja um dos mais inspirados do cineasta, com poucos diálogos memoráveis e sarcásticos.

Ainda que esteja bastante longe de um brilhantismo, Café Society tem seus méritos. O melhor talvez fique mesmo com o elenco, que se esforça em fazer o melhor possível. Indo além da dupla principal, é preciso citar Steve Carell, que consegue desdobrar seu personagem aos poucos, acrescentando novas camadas ao que inicialmente parece ser apenas uma caricatura de executivo. Anna Camp e Blake Lively também fazem o possível, mas suas participações são pequenas demais para que fique uma impressão mais duradoura.

De maneira geral, eu gosto dos protagonistas atrapalhados e desconectados dos conceitos habituais da sociedade, um papel que Woody Allen costuma manter para si mesmo, mas que encontra um bom intérprete em Jesse Eisenberg. O detalhe é que esse não é exatamente o caso e, em seus desvios, Café Society poderia surpreender e se elevar, mas ele apenas escorrega. Só que, no fundo, não tem problema se o filme não for tudo isso (e ele parece saber disso), já que sempre haverá mais uma tentativa no ano que se segue.

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