Divagações: Wallace & Gromit: The Curse of the Were-Rabbit

O Oscar de Melhor Animação é um prêmio estranho. Em 2006, Hauru no ugoku shiro e Corpse Bride estavam na disputa, mas quem levou a estatue...

O Oscar de Melhor Animação é um prêmio estranho. Em 2006, Hauru no ugoku shiro e Corpse Bride estavam na disputa, mas quem levou a estatueta para casa foi Wallace & Gromit: The Curse of the Were-Rabbit, que é relativamente pouco conhecido por aqui. A produção inglesa, feita em spot motion, tinha a seu favor o fato de contar com personagens já conhecidos – a primeira aparição, A Grand Day Out, foi lançada em 1989 – e que chegavam ao mundo dos longas-metragens já como ícones de relevância cultural. Ainda assim, trata-se de um filme mais singelo que seus concorrentes (o que de forma alguma o desmerece).

A história, escrita e dirigida por Steve Box e Nick Park, é bem divertida e sabe brincar com a narrativa infantil. Wallace (Peter Sallis) e seu cachorro Gromit possuem uma empresa de controle de pestes em uma cidadezinha onde os moradores são extremamente dedicados ao cultivo de vegetais em seus quintais. Basicamente, o trabalho consiste em capturar coelhos, que eles levam para casa e alimentam (e mantêm em condições questionáveis, mas vamos tentar ignorar isso).

Um determinado dia, Wallace – que também vive inventando engenhocas – faz um experimento onde tenta fazer uma lavagem cerebral em um coelho para que ele não goste mais de vegetais. E, não é exatamente uma coincidência, mas um monstro terrível começa a atacar seus estimados clientes sem que ele consiga fazer nada para impedir.

Como se não bastasse, falta pouco para o dia mais importante do ano: a competição de vegetais gigantes, realizada na propriedade da adorável Lady Campanula Tottington (Helena Bonham Carter). Assim, a dupla de protagonistas precisa não só enfrentar a nova ameaça como lidar com a ‘concorrência’ de Victor Quartermaine (Ralph Fiennes), um caçador que está tentando impressionar a nobre dama.

Obviamente, quem realmente tenta resolver todas as encrencas é Gromit, o que faz parte da graça desse tipo de história. Além disso, como um bom exemplar do humor inglês, Wallace & Gromit: The Curse of the Were-Rabbit sabe rir de si mesmo e ser bobo. O filme baseia boa parte de suas piadas mais nas idiossincrasias das pessoas do que na trama, aproveitando para enfatizar características de seu país de maneira bastante caricata, mas, ainda assim, divertida.

Além disso, há muito para ser visto nos detalhes (entre os meus favoritos estão os nomes científicos presentes no livro de monstros). O visual é tremendamente atrelado à técnica de animação e aos materiais utilizados – sim, é possível ver a impressão digital dos animadores nos bonequinhos –, dando à produção um ar datado, mas absolutamente adorável e pessoal. Afinal, você enxerga todo o esforço envolvido.

Para as crianças, trata-se de uma história bonitinha e que funciona. É uma aventura simples, com personagens divertidos e uma reviravolta interessante. Para os adultos, há todo um mundo de nostalgia a ser explorado, isso sem contar as inúmeras referências e piadas que demandam uma interpretação um pouco mais aguçada. Mas há algo mais. O filme tem uma linguagem singela e divertida, que une gente grande e pequena em um clima de otimismo e delicadeza, sem escatologias ou qualquer tipo de grosseria.

Wallace & Gromit: The Curse of the Were-Rabbit, em resumo, é a versão para cinema de uma ‘comfort food’.

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