Divagações: The Lego Movie 2: The Second Part

Vamos tirar uma coisa do caminho: The Lego Movie talvez tenha sido uma das coisas mais interessantes e importantes no cenário de animação...

Vamos tirar uma coisa do caminho: The Lego Movie talvez tenha sido uma das coisas mais interessantes e importantes no cenário de animação americana na última década. É difícil lembrar de outra produção do mesmo período que tenha tido a mesma relevância popular e o mesmo reconhecimento crítico. Ainda que tenha sido injustamente deixado de fora do Oscar naquele ano, o longa-metragem catapultou uma série de filmes e colocou a Warner Animation Group no mapa.

Mesmo assim, pessoalmente, eu nunca achei que uma continuação direta fosse uma boa ideia, preferindo que a franquia migrasse para outros filmes – como The Lego Batman Movie – ainda que ‘importando’ o mesmo tipo de humor e de técnica para outro tipo de história. Afinal, tentar emular o sucesso do filme original talvez fizesse mais mal do que bem.

Digo isso porque boa parte do que torna The Lego Movie tão interessante está nas boas surpresas do filme, que mistura a estética com um subtexto que torna o resultado emocional em algo maior do que estávamos acostumados a ver em uma animação desse tipo. Então, sinto que qualquer tentativa de recapturar essa mágica iria esbarrar no fato de que sabemos exatamente o que esperar.

Pois bem, não é como se os executivos da Warner fossem me escutar, já que o filme que deu o pontapé na franquia foi um sucesso e a continuação conseguiu segurar Phil Lord e Christopher Miller no roteiro – aliás, eles também são os responsáveis pela outra coisa mais interessante no cenário da animação nos últimos anos, Spider-Man: Into the Spider-Verse. Realmente, não havia motivo para não levar o projeto a cabo.

Esses cinco anos de distância entre os lançamentos são reconhecidos dentro de The Lego Movie 2: The Second Part, que segue do ponto em que o filme anterior havia nos deixado. Após uma estranha invasão de criaturas alienígenas que destrói a cidade onde Emmet (Chris Pratt) vive, ele e seus amigos – Lucy (Elizabeth Banks), Batman (Will Arnett), Unikitty (Alison Brie) e MetalBeard (Nick Offerman) – transformam o mundo em um gigantesco deserto pós-apocalíptico à la Mad Max.

A situação fica ainda mais complicada com a chegada da General Mayhem (Stephanie Beatriz), uma emissária de outro mundo que pretende levar o relutante grupo até a rainha Watevra Wa'Nabi (Tiffany Haddish). Isso faz com que Emmet – que lutava para se adaptar à nova vida – seja o responsável por resgatar os demais e impedir um possível evento cataclísmico.

Assim, meu grande medo de que o filme fosse ‘mais do mesmo’ não se mostrou exatamente infundado e, definitivamente, falta o frescor e o senso de maravilhamento do título anterior. Muitos dos elementos que me surpreenderam no primeiro filme – como as referências a cultura pop, as músicas grudentas e a metalinguagem em relação ao fato de serem todos brinquedos – continuam aqui. Porém, dessa vez, você entra na sala de cinema esperando que eles estejam lá, o que torna tudo menos interessante e único.

Para completar, The Lego Movie 2: The Second Part parece preferir jogar seguro. O filme está preso demais às amarras do seu predecessor e talvez acabe sendo um pouco mais bobo e simples do que eu esperava de início, o que é um critério injusto, ainda que inevitável.

Mas isso não quer dizer que o filme deixe de ser extremamente competente no que faz. Visualmente, tudo continua sendo um deleite e há alguma experimentação com texturas, materiais e padrões diferentes. Toda a maneira como os personagens são animados continua me deixando boquiaberto, ainda que o escopo um pouco mais limitado em termos de cenários e de espaços torne o universo um pouco menos vibrante e variado do que eu gostaria. Por sua vez, o uso do 3D continua sendo bacana e aproveita bem a natureza tridimensional do espaço em que os personagens estão. Isso, entretanto, não é exatamente impressionante ou indispensável, mas apenas uma adição interessante.

O roteiro continua bom, mesmo sem todas as surpresas, com um humor para todas as idades e algumas novidades simpáticas, como os vários e divertidos números musicais (os créditos ganharam um tratamento bem legal). Além disso, o filme expande ainda mais a sua meta-narrativa, arriscando-se a falar de coisas diferentes e em um esforço contínuo para quebrar várias expectativas que temos em relação a esse tipo de história, o que inclui questões de representação de gênero e o que consideramos o papel de um herói clássico. Infelizmente, pela própria natureza de sua trama, admito que The Lego Movie 2: The Second Part não me capturou emocionalmente como o original havia feito, mas tenho certeza que ele vai ressoar bastante com algumas pessoas.

Para completar, não tive a oportunidade de ver o filme com o áudio original, já que mais uma vez o Brasil é vitimado pela presunção de que não há espaço para cópias legendadas desse tipo de produção. É uma pena, pois, mesmo tendo uma boa dublagem, bastante coisa se perde na adaptação, já que o humor do filme se usa muito de jogos de palavras. Aliás, até mesmo a métrica das músicas fica prejudicada na tradução. Ou seja, tal como aconteceu com os outros filmes da franquia, essa é uma produção que pretendo rever com o áudio original no futuro.

Assim, ainda que The Lego Movie 2: The Second Part não seja uma novidade bombástica e empolgante, ele é um filme agradável e que não foge muito do que tornou o anterior divertido, devendo agradar quem já gostou dos títulos anteriores. Ao mesmo tempo, eu estava esperando por mais: faltou um pouco de coragem para tratar os de modo diferente ou de amadurecer a discussão.

Não sei se o estúdio pretende continuar a história de Emmet e seus amigos, porém, se essa for uma pretensão real, vai ser necessário um pouco mais de ousadia e risco para transformar a produção em algo verdadeiramente especial.

Outras divagações:
The Lego Movie
The Lego Batman Movie
The Lego Ninjago Movie

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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