Divagações: Lost in London

Sabe quando você passa por uma situação muito maluca e alguém comenta “Nossa, isso daria um filme!”. Pois bem, se você é Woody Harrelson ,...

Sabe quando você passa por uma situação muito maluca e alguém comenta “Nossa, isso daria um filme!”. Pois bem, se você é Woody Harrelson, dá para simplesmente fazer o tal filme (inclusive aumentando alguns pontos).

Lost in London conta a história de um dia infeliz na carreira de um ator estadunidense (Woody Harrelson, interpretando a si mesmo). Em 2002, ele não está em um dos melhores momentos da carreira e participa de uma peça dramática de “pouco sucesso” em Londres. Para completar, ele acaba sendo fotografado por um paparazzo em uma situação que coloca seu casamento em risco.

Assim, após uma discussão com sua esposa, Laura (Eleanor Matsuura), ele precisa esfriar a cabeça pelas ruas da cidade, o que envolve sair para beber com um príncipe árabe (quem nunca, não é mesmo?). Porém, ele acaba se envolvendo em uma briga com seu melhor amigo (Owen Wilson) e com um taxista (Ricky Champ), indo parar na cadeia. O incidente, além de piorar a situação com a esposa, ainda coloca em risco a visita de suas filhas ao set de filmagem de Harry Potter and the Chamber of Secrets.

Dessa forma, o filme é – basicamente – uma sucessão de situações absurdas, que incluem até mesmo uma ligação telefônica para Bono e alucinações envolvendo Willie Nelson, para não falar da falta de noção geral e de uma série de abusos por parte das autoridades. O efeito geral é cômico, mas também há uma sensação de agonia, já que o andamento das coisas e a forma como o longa-metragem foi filmado lembram um pesadelo (nada pesado, mas incômodo mesmo assim).

Aliás, as filmagens foram feitas de uma forma bem curiosa e Lost in London foi anunciado como “o primeiro filme ao vivo do mundo”. Basicamente, a produção foi gravada em ordem, com uma única câmera, enquanto tudo era exibido praticamente em “tempo real” em alguns cinemas selecionados. Ou seja, dá para ver que tudo acontece na pressa e com uma boa dose de improviso, de modo que não dá para exigir demais.

E vamos combinar que, embora isso combine bastante com a história em si, a escolha foi bem arriscada. Inclusive, entre as coisas que não saíram como o esperado está uma cena em que Harrelson precisa ligar para o hotel onde está hospedado, mas não consegue se recordar do número. O diálogo em questão foi improvisado porque outro ator estava atrasado e eles precisavam ganhar tempo. Mas garanto que deu tudo certo!

De maneira geral, Lost in London funciona apenas por causa desse desespero intrínseco à história e a seu modo de produção. Afinal, trata-se de uma história maluca sendo contada de uma maneira divertida e tão louca quanto tudo o que acontece na tela. E, claro, o filme só existe porque Woody Harrelson sabe rir de si mesmo, de sua (falta de) fama, de seus erros, de seus exageros e de seus vícios – ao mesmo tempo em que não minimiza o peso que essas coisas têm em sua vida e o estrago que elas são capazes de fazer.

Com isso, eu me arrisco a dizer que você não precisa ser um fã do ator para ver Lost in London, mas você vai apreciar bem mais se for. Há diversas referências a Cheers e White Men Can't Jump, além de uma menção meio assustadora a Natural Born Killers. Para completar, os diálogos envolvendo Owen Wilson são particularmente inspirados. Assim, o filme é divertido e original, ainda que, no final das contas, não deixe de ser apenas uma grande brincadeira.

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