Divagações: Renfield

Esse semestre tem entregue uma safra generosa de filmes para quem estava sentindo falta de um pouco de diversão descompromissada. Desde seu ...

Renfield
Esse semestre tem entregue uma safra generosa de filmes para quem estava sentindo falta de um pouco de diversão descompromissada. Desde seu primeiro trailer, Renfield parecia ser mais um deles – afinal, não é todos os dias que os talentos de Nicolas Cage para overacting são usados em um filme em que isso faz sentido. Finalmente, ele é o vampiro que seu clássico e memetizado papel em Vampire's Kiss não permitiu, com uma violência cartunesca que parece ser o complemento perfeito para esse tipo de história.

Depois de décadas servindo a Dracula (Nicolas Cage), Robert Renfield (Nicholas Hoult) – um advogado tornado familiar do príncipe das trevas na virada do século XX –, já está cansado dos constantes abusos de seu mestre. Forçados a fugir pelo globo depois da última incursão da igreja contra Dracula, eles se encontram em Nova Orleans, onde Renfield acaba envolvido em um conflito entre uma família criminosa e a polícia local.

Então, inspirado pela impetuosa policial Rebecca (Awkwafina), ele resolve fazer o que considera certo, nem que isso o coloque diretamente contra seu mestre pela primeira vez na vida. Esse processo é repleto de cenas de ação absolutamente exageradas e com uma brutalidade pueril, onde entranhas, membros arrancados e jatos de sangue são frequentes. Ainda que a coreografia seja apenas mediana, isso é perdoável porque esse é um filme de comédia acima de qualquer coisa.

Aliás, a maneira honesta com que Renfield tenta expor estes absurdos é bastante charmosa, de modo que o filme está em seu melhor quando é leve, brincando com sua história e com as expectativas em relação ao gênero, como nas cenas de Dracula em que Bela Lugosi é substituído por Nicolas Cage. Outro exemplo é a caricatural relação de Rebecca – o extremo lógico do arquétipo de policial durona e desbocada – com o resto da força policial; um enorme mural “não resolvam crimes até a hora extra” decora as paredes da delegacia

Porém, o outro lado do filme não é tão interessante, com Renfield fazendo um comentário sobre narcisismo, codependência e relacionamentos abusivos. Sinceramente, não posso dizer que a produção tropeça ou que falta tato – inclusive, Nicholas Hoult vende bem esse comportamento pacato e subserviente do personagem. O problema é que o filme, com seus enxutíssimos 93 minutos, prioriza muito mais a estética do que a substância, de forma que essa parte acaba sofrendo e ficando pouco desenvolvida em comparação com as demais.

Além disso, o grande atrativo certamente é ver Nicolas Cage completamente sem inibições, o que é uma boa surpresa após uma sequência de filmes autoconscientes do ator, como o bem recebido The Unbearable Weight of Massive Talent. Afinal, ainda que seu Dracula seja teatral, dramático e insano, as melhores performances de Cage são completamente acidentais; talvez ele apele um pouco demais para seus trejeitos, mas isso ainda funciona bem para a história.

Renfield não é nenhuma obra de arte, mas ele está muito ciente disso e usa seu tempo para maximizar o nível de diversão. O longa-metragem sabe que não teria fôlego para muito mais do que entrega, então, de modo bastante consciente, para onde deve parar, deixando que o produto final não se dilua em um melodrama desnecessário ou em sequências entediantes. Este não será o filme mais lembrado do ano (e nem mesmo o mais divertido), mas se você curte fontes de sangue e desmembramentos, suponho que será um tempo bem utilizado.

Outras divagações:
The Lego Batman Movie

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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