Divagações: The Super Mario Bros. Movie
5.4.23
Nas últimas três ou quatro décadas houve inúmeras tentativas de levar uma história que nasceu nos videogames para o cinema. De filmes verdadeiramente terríveis, como as infames obras do diretor alemão Uwe Boll, até os recentes blockbusters milionários, sinto que os jogadores de videogame ainda estão em busca do seu santo graal, um filme que é bom por si só, não algo “bacana para um filme de videogame”.
Não sei se The Super Mario Bros. Movie chega com essa promessa, mas não dá para negar que é a tentativa mais honesta e realmente apaixonada que vejo em um longo tempo. Afinal, essa talvez seja a franquia mais famosa da história dos videogames e o longa-metragem conta com o envolvimento direto de Shigeru Miyamoto e de toda a Nintendo. O cenário contrasta fortemente com aquele constrangimento contido que muitas obras baseadas em jogos têm em relação ao seu material original. Ou seja, a produção abraça o fato de que esse é um filme do Mario, trazendo todos os elementos icônicos da série e entregando algo bem diferente do visto em Super Mario Bros, de 1993.
O outro lado da moeda é que a trama é a mais básica possível. Mario (Chris Pratt/Raphael Rossatto) e Luigi (Charlie Day/Manolo Rey) são irmãos encanadores do Brooklyn. Um dia, um cano misterioso acaba os jogando para outro mundo: enquanto Mario vai parar no Reino do Cogumelo, liderado pela bondosa Princesa Peach (Anya Taylor-Joy/Carina Eiras), Luigi acaba nas terras de Bowser (Jack Black/Márcio Dondi), que planeja invadir o reinado de Peach com seu exército de Koopas.
O problema é que, dessa forma, o filme inteiro é somente um veículo para a nostalgia. Ainda que esse seja um pecado comum a várias obras recentes, The Super Mario Bros. Movie é, talvez, o exemplo mais extremo desse fenômeno. Basicamente, toda e qualquer cena do filme serve para mostrar algum pequeno elemento familiar do universo do personagem. Acredite, para alguém com um conhecimento quase enciclopédico do universo Nintendo, há uma quantidade absurda de easter eggs, personagens obscuros a motiffs musicais.
Por mais que ir atrás desses elementos seja uma experiência divertida, isso acaba distorcendo a narrativa, transformando o longa-metragem em uma miscelânea de “lembra disso?”. Enquanto, por exemplo, The Lego Movie e Spider-Man: Into the Spider-Verse foram capazes de apresentar centenas de referências e ainda contar uma boa história, The Super Mario Bros. Movie parece se esquecer de que isso não faz um filme, tendo uma trama com pouquíssima substância e nenhuma surpresa – até mesmo as músicas licenciadas são as mais óbvias para cada situação.
Mas suponho que o filme não tinha grandes pretensões narrativas. Ele é tão honesto ao priorizar a estética em vez da história que é difícil não se convencer de que esse era o objetivo: trazer uma aventura simples do Mario que pega todos esses elementos dos jogos e injeta um senso de nostalgia na veia. Eu vejo mérito nesse propósito, mas entendo que isso talvez reduza o valor da produção para alguns, além de tornar o filme chato para quem não tem nenhum interesse ou simpatia pela série.
A dublagem nacional, que parece ser a opção de, pelo menos, 90% das salas de cinema (mais uma vez reforçando o estigma da animação como coisa de criança, ainda que o filme esteja voltado para os adultos que cresceram com a série), está bastante aceitável. O elenco é competente e profissional, mas alguma coisa se perde no processo, já que a produção foi pensada com vozes menos cartunescas em mente e nossos dubladores acabam fazendo um sotaque mais exagerado do que o necessário.
The Super Mario Bros. Movie é, sim, uma opção divertida para quem já acompanha a série de jogos. A duração curta, o que é uma raridade hoje em dia, é uma boa pedida para quem sente falta de uma coisa leve e rápida.
Embora eu quisesse que a produção fosse algo mais do que uma simples viagem de nostalgia, admito que é refrescante ver como os jogos atingiram uma posição tão prevalente no cenário cultural que é possível fazer um filme que se orgulha de sua origem como um videogame – especialmente um cuja história não é nem um pouco digna de nota. Talvez isso mostre que exista um campo de experimentação para o futuro, já que a Nintendo parece estar empolgada para capitalizar sua imagem fora dos consoles.
Outras divagações:
Teen Titans Go! To the Movies
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Não sei se The Super Mario Bros. Movie chega com essa promessa, mas não dá para negar que é a tentativa mais honesta e realmente apaixonada que vejo em um longo tempo. Afinal, essa talvez seja a franquia mais famosa da história dos videogames e o longa-metragem conta com o envolvimento direto de Shigeru Miyamoto e de toda a Nintendo. O cenário contrasta fortemente com aquele constrangimento contido que muitas obras baseadas em jogos têm em relação ao seu material original. Ou seja, a produção abraça o fato de que esse é um filme do Mario, trazendo todos os elementos icônicos da série e entregando algo bem diferente do visto em Super Mario Bros, de 1993.
O outro lado da moeda é que a trama é a mais básica possível. Mario (Chris Pratt/Raphael Rossatto) e Luigi (Charlie Day/Manolo Rey) são irmãos encanadores do Brooklyn. Um dia, um cano misterioso acaba os jogando para outro mundo: enquanto Mario vai parar no Reino do Cogumelo, liderado pela bondosa Princesa Peach (Anya Taylor-Joy/Carina Eiras), Luigi acaba nas terras de Bowser (Jack Black/Márcio Dondi), que planeja invadir o reinado de Peach com seu exército de Koopas.
O problema é que, dessa forma, o filme inteiro é somente um veículo para a nostalgia. Ainda que esse seja um pecado comum a várias obras recentes, The Super Mario Bros. Movie é, talvez, o exemplo mais extremo desse fenômeno. Basicamente, toda e qualquer cena do filme serve para mostrar algum pequeno elemento familiar do universo do personagem. Acredite, para alguém com um conhecimento quase enciclopédico do universo Nintendo, há uma quantidade absurda de easter eggs, personagens obscuros a motiffs musicais.
Por mais que ir atrás desses elementos seja uma experiência divertida, isso acaba distorcendo a narrativa, transformando o longa-metragem em uma miscelânea de “lembra disso?”. Enquanto, por exemplo, The Lego Movie e Spider-Man: Into the Spider-Verse foram capazes de apresentar centenas de referências e ainda contar uma boa história, The Super Mario Bros. Movie parece se esquecer de que isso não faz um filme, tendo uma trama com pouquíssima substância e nenhuma surpresa – até mesmo as músicas licenciadas são as mais óbvias para cada situação.
Mas suponho que o filme não tinha grandes pretensões narrativas. Ele é tão honesto ao priorizar a estética em vez da história que é difícil não se convencer de que esse era o objetivo: trazer uma aventura simples do Mario que pega todos esses elementos dos jogos e injeta um senso de nostalgia na veia. Eu vejo mérito nesse propósito, mas entendo que isso talvez reduza o valor da produção para alguns, além de tornar o filme chato para quem não tem nenhum interesse ou simpatia pela série.
A dublagem nacional, que parece ser a opção de, pelo menos, 90% das salas de cinema (mais uma vez reforçando o estigma da animação como coisa de criança, ainda que o filme esteja voltado para os adultos que cresceram com a série), está bastante aceitável. O elenco é competente e profissional, mas alguma coisa se perde no processo, já que a produção foi pensada com vozes menos cartunescas em mente e nossos dubladores acabam fazendo um sotaque mais exagerado do que o necessário.
The Super Mario Bros. Movie é, sim, uma opção divertida para quem já acompanha a série de jogos. A duração curta, o que é uma raridade hoje em dia, é uma boa pedida para quem sente falta de uma coisa leve e rápida.
Embora eu quisesse que a produção fosse algo mais do que uma simples viagem de nostalgia, admito que é refrescante ver como os jogos atingiram uma posição tão prevalente no cenário cultural que é possível fazer um filme que se orgulha de sua origem como um videogame – especialmente um cuja história não é nem um pouco digna de nota. Talvez isso mostre que exista um campo de experimentação para o futuro, já que a Nintendo parece estar empolgada para capitalizar sua imagem fora dos consoles.
Outras divagações:
Teen Titans Go! To the Movies
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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