Divagações: Priscilla

Eu não sei muito sobre quem é Priscilla Presley ou mesmo sobre suas conquistas. Mas acredito que isso não é necessário para entender a mensa...

Priscilla
Eu não sei muito sobre quem é Priscilla Presley ou mesmo sobre suas conquistas. Mas acredito que isso não é necessário para entender a mensagem que Priscilla está tentando passar. Sob muitos aspectos, o casal retratado é um exemplo de um determinado tipo de relacionamento, inclusive caindo em vários “clichês” desta dinâmica, o que é enfatizado pela fama, pela riqueza e por outras características específicas deste contexto.

Outra questão relevante é que esta produção tem um ponto de vista e não o esconde: ela é baseada na autobiografia de sua protagonista, que também é creditada como produtora. Por conta disso, o longa-metragem não tem apoio da Elvis Presley Enterprises – ou seja, não espere por muitas músicas com o característico vozeirão – e, ainda em sua fase de roteiro, desagradou a filha do cantor, a já falecida Lisa Marie Presley.

Com roteiro e direção de Sofia Coppola, a história começa no início dos anos 1960 e acompanha a vida da jovem Priscilla Beaulieu (Cailee Spaeny), uma adolescente do Texas que nem entrou no Ensino Médio e vive entediada na Alemanha, para onde seu pai foi transferido no exercício de suas funções como militar. Por meio de conhecidos, ela passa a frequentar a casa de Elvis Presley (Jacob Elordi) no país e os dois logo engatam um namoro, apesar da diferença de idade de 10 anos.

Irritada com os pais e encantada com o relacionamento com um homem bonito, rico e talentoso, Priscilla se deixa levar. Em pouco tempo, ela se vê sozinha em uma casa enorme e em uma nova cidade. Sem nenhum vínculo além de seu namorado famoso, a jovem acaba tendo que conviver exclusivamente com a família, os funcionários e os amigos dele, além de se ver obrigada a seguir as regras dele, inclusive sobre como ela deve se vestir e se sentir.

Assim, embora Priscilla leve apenas o nome de sua protagonista, a verdade é que ela conta a história de um relacionamento, com início, meio e fim. Neste mesmo sentido, também vale dizer que se trata de um drama, e não de um romance. Claro que, sob diversos aspectos, os dois vivem algo mágico e maravilhoso, mas o passar do tempo e a maior maturidade de quem conta a história – em relação a quem a “vive” – fazem com que certos pontos amargos ganhem destaque.

Além disso, é preciso admitir que Cailee Spaeny carrega uma enorme responsabilidade. Ao mesmo tempo em que apresenta um jeito de menina e uma voz delicada – que contrastam enormemente com as presenças masculinas –, ela tenta apresentar o amadurecimento de uma mulher. Sua personagem não é absolutamente ingênua, mas com certeza não tem o calibre emocional que é demandado dela. É um retrato delicado de construir, que está em boas mãos com Sofia Coppola, mas que ainda depende de um público receptivo.

E, obviamente, há um contexto histórico a ser observado. Os protagonistas não têm redes sociais e não discutem relacionamentos tóxicos; eles também têm visões claras (e até mesmo coincidentes) sobre o papel de um homem e de uma mulher em um relacionamento. Mas esta é uma trama de 1960 sendo contada por pessoas que vivem em 2023 – e ambas estas datas são relevantes para que Priscilla seja o filme que é.

Por não se tratar da cinebiografia de um cantor famoso, Priscilla não vem acompanhado de toda a empolgação que estas obras têm trazido. Em contrapartida, também não cai nas mesmas fórmulas narrativas. Assim, este não é um filme que encontra ecos em outras produções similares, mas ele espelha muitas outras histórias conhecidas e bem mais próximas, de avós, mães, tias, amigas e nós mesmas.

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