Divagações: Closer

Quando Closer foi lançado, eu até tinha idade o suficiente para ver o filme e entender sua história (a classificação indicativa no Brasil é...

Closer
Quando Closer foi lançado, eu até tinha idade o suficiente para ver o filme e entender sua história (a classificação indicativa no Brasil é de 14 anos), mas definitivamente não tinha a maturidade necessária para compreender tudo o que estava se passando na tela. Agora, muitos anos depois, posso realmente embarcar nesse conto urbano de seduções e traições.

Com direção de Mike Nichols e roteiro de Patrick Marber – que também escreveu a peça original –, acredito que este longa-metragem costuma ser mais lembrado por seu estilo do que por sua dramaticidade. As perucas coloridas, a iluminação peculiar, os figurinos elegantes, os cenários vazios e as ruas cheias: tudo isso vem facilmente à memória, ainda mais se acompanhado pela característica trilha sonora (que, aliás, não envelheceu tão bem quanto o restante da produção).

Ainda assim, é por meio do drama que Closer realmente sobrevive ao tempo. Alice (Natalie Portman) é uma jovem americana que deseja reconstruir a vida em Londres. Após um acidente, ela conhece Dan (Jude Law), um jornalista que ganha a vida escrevendo obituários, e a conexão entre eles é quase instantânea. Alguns anos depois, Dan conhece Anna (Julia Roberts) e parece disposto a fazer qualquer coisa para a conquistar; no processo, ele inadvertidamente a aproxima de Larry (Clive Owen), um dermatologista que, a princípio, só queria fazer sexo virtual.

Após alguns intervalos de meses, ou até mesmo anos, estes personagens voltam a se cruzar. Cada nova interação traz uma atualização sobre a vida deles, mostrando o que deu errado, o que deu certo e as curvas feitas pelo caminho. Contudo, não é como se eles realmente estivessem desconectados uns dos outros. E o novelo só vai se tornando mais emaranhado com o passar do tempo.

Com isso, Closer explora como quatro indivíduos repletos de falhas conseguem se machucar e machucar as pessoas ao seu redor. No fundo, não há ninguém “bom” ou sequer “certo” na trama: todos são péssimos. Eles parecem se jogar de corpo e alma em relacionamentos, mas nunca confiam de verdade (nem deveriam, dadas as circunstâncias). Eles mentem, sofrem, erram, julgam os outros e, principalmente, jogam com os próprios sentimentos e os alheios. É uma brincadeira de adultos onde todos sempre perdem.

Assim, embora seja um filme sobre relacionamentos, não há muito romance no decorrer da produção. Com cada protagonista focando em si mesmo, o mundo retratado é bastante duro e amargo. Os diálogos são rápidos e provocativos até demais, deixando clara a origem teatral do material, de modo que qualquer humanidade (ou fragilidade) precisa ser expressa por meio de nuances. Ainda bem que o elenco é impecável.

A verdade é que este longa-metragem não é particularmente único ou inovador, mas ele consegue cumprir seu objetivo com excelência a ponto de ser constantemente lembrado; cada peça está no lugar certo. Para completar, histórias sobre pessoas problemáticas e com comportamentos destrutivos parecem encaixar bem com a atual geração, ainda que o tom melancólico não ande tanto em voga. Mesmo vinte anos após seu lançamento, Closer parece algo estranhamente novo.

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