Divagações: Molly’s Game

Apesar das “acusações” de verborrágico e cansativo, Aaron Sorkin tem constantemente escrito alguns dos melhores e mais consistentes rotei...

Apesar das “acusações” de verborrágico e cansativo, Aaron Sorkin tem constantemente escrito alguns dos melhores e mais consistentes roteiros que Hollywood viu nos últimos anos. Sua estreia na direção seguiu o mesmo caminho, novamente contando uma história baseada em acontecimentos reais e com uma protagonista inteligente, mas controversa. Lembrando que Molly's Game foi desenvolvido a partir do livro da própria Molly Bloom e, dessa forma, o enfoque dado à protagonista e sua moralidade deve ser encarado com um grão de sal.

A trama, basicamente, envolve a ascensão e a queda de Molly Bloom (Jessica Chastain). Vinda de uma família de pessoas ricas, inteligentes e de grande sucesso na vida, ela tinha uma carreira relativamente bem-sucedida no esqui até que um acidente a tirou das competições de renome. Antes de ingressar em uma faculdade renomada e seguir a vida, porém, ela resolveu tirar um ano sabático que mudou a sua vida.

O que aconteceu nesse período a levou não apenas a conhecer o pôquer, mas a organizar encontros periódicos entre grandes apostadores – a princípio, tudo dentro da legalidade (ao menos de acordo com ela). Com o tempo, no entanto, ela se envolveu com pessoas perigosas e acabou sendo acusada de crimes federais em um processo envolvendo a máfia russa. O filme conta a história desse processo, por meio da relação de Molly com seu advogado, Charlie Jaffey (Idris Elba).

Essa trajetória, contada por meio de flashbacks, mostra uma transformação interessante da protagonista, algo que Chastain tira de letra. Molly vai de uma jovem ambiciosa para uma mulher de negócios firme, até que começa a escorregar em seus próprios sonhos de grandeza e perde a noção do objetivo de tudo aquilo. Mesmo em um jogo tão arriscado quanto o dela, seus erros se repetem, mostrando falhas em sua visão estratégica que ela tem dificuldades em corrigir.

Mas, por mais que a protagonista seja muito interessante, sua história não deixa de ser um tanto quanto anticlimática – como a “vida real” tende a ser. Por mais que a relação familiar e os atritos com o pai (Kevin Costner) tragam um tempero próprio ao filme, isso não acrescenta muito à trama. Já a relação com alguns dos apostadores mais relevantes (Michael Cera, Chris O'Dowd e outros) serve para levar a trama adiante e mostrar as motivações por trás das decisões da protagonista, com pouco desenvolvimento real dos personagens secundários.

Em resumo, Molly’s Game é totalmente focado em sua personagem principal. Se você – assim como eu – não comprou totalmente a versão dela da história, fica a sensação de que algo importante está faltando. Porém, Aaron Sorkin consegue disfarçar isso muito bem, construindo sua narrativa por meio de uma série de anedotas. O filme tem um bom ritmo e os diálogos não param – para o bem ou para o mal –, mantendo a atenção do espectador focada em cada novo desdobramento da história.

De qualquer forma, como um veículo para Jessica Chastain poder brilhar, Molly’s Game é perfeito e funciona muito bem. Para mim, ao menos, isso já é o suficiente para perdoar a falta de um perfil mais crítico em relação à protagonista.

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