Divagações: Majo no takkyûbin

Uma das coisas mais interessantes nos trabalhos do diretor Hayao Miyazaki é como ele consegue construir diversas de suas histórias a part...

Uma das coisas mais interessantes nos trabalhos do diretor Hayao Miyazaki é como ele consegue construir diversas de suas histórias a partir de premissas absolutamente simples – as quais ele tempera com alguns elementos inusitados. Em Majo no takkyûbin, por exemplo, a protagonista é uma menina que também é uma bruxa, mas seus problemas e seus medos são bem reais. Ou seja, não há nenhum grande vilão ou uma missão delicada que só ela poderia executar.

O filme conta a história de Kiki (Minami Takayama), uma bruxinha de 13 anos que está prestes a encarar um dos momentos mais importantes de sua vida: passar um ano longe dos pais, em uma cidade desconhecida, para aperfeiçoar suas habilidades mágicas. E ela está bem empolgada para escolher uma cidade e viver suas próprias aventuras, sempre na companhia de seu querido gato, Jiji (Rei Sakuma).

Vinda de um lugar pequeno, Kiki escolhe uma cidade litorânea razoavelmente grande para se estabelecer, mas logo descobre que esse pode ser um ambiente hostil. Felizmente, ela é acolhida por uma padeira (Keiko Toda), que disponibiliza seu sótão para que a menina tenha onde morar. Já para estabelecer uma renda, Kiki decide usar de seu principal talento mágico: voar (a presteza da menina, porém, pode ser questionada). É assim que surge seu serviço de entrega aéreo.

Assim, Majo no takkyûbin acompanha o dia a dia da menina nessa nova realidade, em que ela conhece pessoas ótimas, mas também se decepciona com outras. Além de mostrar o amadurecimento da menina, o filme aborda o surgimento de diferentes formas de companheirismo e amizade. Entre os novos amigos de Kiki, por exemplo, estão uma senhorinha que gosta de fazer tortas (Haruko Katô), uma pintora que mora no meio de uma floresta (Minami Takayama) e um menino local que tem adoração por voar (Kappei Yamaguchi).

Tudo isso é contado de uma forma singela e sem pressa, com tempo para a protagonista expressar suas próprias conclusões e crescer com o aprendizado de um dia após o outro. Ao mesmo tempo, não é como se faltasse algo para o público admirar a cada cena: os cenários são absolutamente deslumbrantes.

Fruto de uma pesquisa dos animadores pela Europa, a cidade em que Kiki se estabelece tem elementos de Itália, Portugal, Suécia, entre outros países. Cada uma das ruas por onde ela passa parece ter histórias para contar e há uma série de pequenos detalhes que são retomados ao longo da produção, mostrando a adaptação da protagonista ao local.

Aliás, a qualidade da animação impressiona, mesmo depois de mais de 30 anos do lançamento da produção (o filme é de 1989). Tudo é muito fluído e muito caprichado, demonstrando o tradicional empenho do Studio Ghibli, mesmo em uma obra que – ao menos internacionalmente – é tida como um trabalho “menor” do estúdio.

Para completar, os animadores também decidiram situar a trama nos anos 1950, trazendo um visual bastante específico para os habitantes da cidade (e, também, um zepelim). Dos penteados às roupas, as pessoas são bastante elegantes e parecem estar sempre indo para algum lugar. Mas, ao mesmo tempo, elas ainda não estão com tanta pressa assim e, eventualmente, param para prestar atenção na menina que voa sobre suas cabeças.

Com isso, Majo no takkyûbin consegue ser uma animação adorável e leve. O filme é perfeitamente adequado para crianças e, também, para adultos que buscam por algo relaxante, descompromissado, inocente e bonito, com gostinho de infância.

Outras divagações:
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