Divagações: Bob Trevino Likes It

Bob Trevino Likes It

Existem filmes baseados em grandes acontecimentos e/ou que acompanham a vida de pessoas renomadas. Mas também há aqueles sobre pessoas normais, que fazem coisas comuns e encontram algo bonito no processo, algo que merece ser contado. Bob Trevino Likes It é um destes filmes, sendo adaptado a partir de momentos vividos pela diretora e roteirista Tracie Laymon.

Lily Trevino (Barbie Ferreira) é uma jovem adulta que teve uma infância difícil, mas não é fácil perceber isso à primeira vista. Ela se apresenta como uma pessoa animada e é bastante dedicada a seu trabalho como cuidadora de Daphne (Lauren ‘Lolo’ Spencer). Entretanto, basta acompanhar uma interação dela com o pai, Robert Trevino (French Stewart), para perceber que alguma coisa está errada.

Um dia, Lily decide adicionar o pai como amigo no Facebook, mas acaba entrando em contato com outro Bob Trevino (John Leguizamo). Os dois começam a interagir e, em pouco tempo, desenvolvem uma amizade que é quase como uma relação entre pai e filha. Enquanto Lily se fortalece emocionalmente, Bob faz um caminho similar ao se reaproximar da esposa, Jeanie (Rachel Bay Jones), e criar coragem para enfrentar um chefe abusivo, Harlan (Ted Welch).

Desta forma, Bob Trevino Likes It tem uma história singela, que até parece ser simples demais para um longa-metragem. Mas Tracie Laymon aproveita o desenrolar desse relacionamento para explorar a solidão de todos os envolvidos. Lily, no fundo, é apenas uma menina carente. Bob é um homem que se afundou no trabalho. Daphne é uma mulher lidando com uma mudança profunda. Jeanie é uma mãe enlutada. E Robert é um narcisista que afasta a única pessoa que se importa.

Ao trazer este tema em um misto de comédia e drama, a cineasta demonstra muito carinho por seus personagens – e comprova que levou as sessões de terapia a sério. Em outros contextos, alguém como Lily seria facilmente encarada como uma pessoa com “problemas”, sendo deixada de lado pelos demais por ser inconveniente ou incentivada a buscar algum tipo de “conserto”. Aqui, no entanto, ela é digna de simpatia e mesmo seus exageros parecem (relativamente) justificados.

Nesse sentido, Barbie Ferreira se mostrou uma escolha muito interessante para o papel, sendo capaz de evocar os sentimentos corretos no espectador. Seu olhar simultaneamente desesperado e inocente não desperta pena, mas empatia; afinal, ela está enfrentando tudo o que é jogado em sua direção com tanta dignidade quanto possível. O humor de Bob Trevino Likes It não se constrói por meio de ironia, mas da simpatia e das contradições inerentes ao ser humano.

Pessoalmente, não consigo entender como Lily não desenvolveu uma casca um pouco mais grossa, mas suponho que cada um tenha seus próprios mecanismos de defesa. De qualquer modo, talvez essa vontade de contar uma história “bonitinha” seja justamente o meu maior ponto de incômodo com a produção. Em meus dias mais cínicos, suponho que eu não tenha capacidade de suportar uma produção como essa.

Mas é como se Bob Trevino Likes It soubesse disso. Ao retratar pessoas “quebradas” e mostrar que todos somos assim, o filme pede um pouco de graça para si mesmo e promete trazer algum tipo de conforto. E eu acho que ele é bem-sucedido nisso.

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