Divagações: Goya’s Ghosts
22.4.10Quando o filme começa, você pode pensar que Francisco Goya (Stellan Skarsgård) era um homem realmente perturbado. Afinal, o que pode explicar gravuras tão grotescas quanto aquelas? De repente, no entanto, você se depara com os quadros de Goya. Aquelas obras que ele era pago para fazer. Lindas, detalhadas... Enfim, obras de um grande artista. Onde foi parar aquele artista perturbado?
Na verdade, Goya era simplesmente um artista sensível que viveu em tempos perturbados. Sua bondade e delicadeza eram tamanhas que ele se torna coadjuvante do filme, dando lugar a Lorenzo (Javier Bardem) e Inés (Natalie Portman). Torturador e torturada, ambos conhecidos do pintor.
O filme se passa na Espanha, na época da Santa Inquisição. Inés é uma bela e educada moça que não gosta de carne de porco. Lorenzo é um religioso tão rigoroso quanto vaidoso e que não pôde deixar de notá-la. Quando Inés é levada para prestar esclarecimentos e não retorna, sua família implora a Goya que interceda. O pintor sempre busca o que é certo e justo, não conseguindo refrear a sede de vingança da família, que teve consequências profundas no futuro de Inés, Lorenzo e da pequena Alicia, nascida na prisão.
Trata-se de uma história triste, contada por gente de classe. Milos Forman (Amadeus) é o diretor e roteirista, função em que é acompanhado por Jean-Claude Carrière (Belle de jour). O objetivo maior é arrancar lágrimas e indignação, mas, para um resultado realmente efetivo, é necessário que o espectador seja pego desprevenido. Em certos pontos, infelizmente, o filme tem aquele aspecto de que deve ser assistido por obrigação, em sala de aula.
Isso pode ser uma heresia (com o perdão do trocadilho) quando se pensa no elenco de peso e nas atuações de qualidade. Mas nem mesmo os dois personagens encarnados com maestria por Natalie Portman chegam a convencer no meio de tantas coincidências trágicas envolvendo esses três personagens (a propósito, a maquiagem é meio trágica).
Assim sendo... Vale a pena ver Goya's Ghosts ou não? É difícil dizer. Se não estiver passando nada melhor na televisão, recomendo. Se você quer saber mais sobre o pintor ou o período histórico, também (não é muito aprofundado, mas vale). Agora, não chega a ser uma grande obra. É monótono e triste. Enfim, o público mais indicado é aquele formado pelos fãs incondicionais de Natalie. É o tipo de filme que ela faz porque gosta.
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