Divagações: Pocahontas

Como contei durante minhas divagações sobre Hercules , tive uma fase não muito Disney em minha vida. Lembro-me de ter assistido Pocahont...

Como contei durante minhas divagações sobre Hercules, tive uma fase não muito Disney em minha vida. Lembro-me de ter assistido Pocahontas, mas também fui (e continuo sendo) muito afetada pelas críticas que os adultos faziam da obra. No geral, o filme não me marcou, por mais que a música tenha feito bastante sucesso e constantemente atiçasse minha curiosidade para rever a animação.

Passado na região onde atualmente está a Virgínia (Estados Unidos), o filme conta a história do romance entre um soldado inglês, John Smith (Mel Gibson), e Pocahontas (Irene Bedard/Judy Kuhn), filha do chefe indígena Powhatan (Russell Means) e prometida do guerreiro Kocoum (James Apaumut Fall). A trama acontece no século XVII, durante o início da colonização britânica na região, quando exploradores ainda buscavam por ouro.

Segundo historiadores, contudo, Pocahontas era uma menina de 10 anos com tendências pacifistas e Smith era um senhor de meia idade que foi salvo da morte por ela e tornou-se seu professor de inglês; os dois se tornaram amigos, mas nunca tiveram um romance. Além disso, por mais que a moça se esforçasse, ela não conseguiu evitar muito derramamento de sangue e seu povo sofreu duramente com a colonização.

Ao colocar isso quero dizer que, por mais que se trate de uma versão romanceada e infantilizada, o filme foge muito de suas origens. O design de personagens transformou a protagonista em uma mulher adulta, independente e poderosa (e maquiada?), enquanto seu suposto namorado se tornou um galã dos mais corajosos.

Por sua vez, a culpa da violência acaba recaindo sobre a ignorância de índios e soldados, com o segundo grupo sendo instigado pelo vilão, o cruel e interesseiro governador Ratcliffe (David Ogden Stiers). Outra questão que me incomoda é a comunicação, mas admito que essa simplificação foi para o bem da duração do filme, que tem menos de 1h30min e não cansa em nenhum momento.

Também não quero dizer que a produção foi totalmente descuidada. Mesmo sendo recente, foi um desafio para a Disney colocar um amor inter-racial nas telas (sim, ainda há muito preconceito nesse mundo!). Alguns acontecimentos reais também estão retratados e, além disso, o estúdio teve particular preocupação com as vozes, escalando atores com ascendência indígena para os papéis.

Como era de se esperar, a animação em si é muito bem feita e, nesse caso, destaca-se com aspectos realistas e uma paleta de cores que valoriza a cultura de Pocahontas. As formas e tonalidades ainda funcionam muito bem com as músicas, que surgem nos momentos certos, não atrapalham o andamento da história e tem letras muito bonitas – todas devidamente adaptadas para evitar ofender quem quer que seja. Em um mundo cor-de-rosa, Pocahontas seria um filme maravilhoso.

Obviamente, já aprendi que não posso esperar fidelidade histórica em uma animação da Disney. Pocahontas se baseia muito mais no mito que nos fatos e entrega com eficiência suas mensagens de paz e amor ao próximo. Contudo, ainda espero por uma adaptação mais realista e digna desse momento histórico que muitos preferem simplesmente ignorar.

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