Divagações: The Disappearance of Eleanor Rigby - Them
7.5.15
Embarcar em um projeto ambicioso pode valer a pena, mas nem sempre. Os resultados de The Disappearance of Eleanor Rigby: Them, por exemplo, deixaram um gosto insosso com as bilheterias, a crítica e as premiações. Ninguém desgostou por completo da produção, mas ela era tão grandiosa que simplesmente não havia a necessidade de tanto.
Explico: o filme, na verdade, envolve três produções levemente distintas. The Disappearance of Eleanor Rigby: Her conta a história de Eleanor Rigby (Jessica Chastain), uma mulher que abandonou o marido e decidiu recomeçar a vida sem contar para ele sobre o que pretendia fazer. Já The Disappearance of Eleanor Rigby: Him traz Conor Ludlow (James McAvoy), um homem em busca de sua esposa desaparecida, que ainda a ama, mas não consegue expressar bem seus sentimentos – e que está prestes a falir.
Os dois querem encontrar um sentido maior para a vida e as motivações dos protagonistas não ficam claras a princípio, mas os detalhes do relacionamento vão sendo revelados aos poucos. É o momento de começar a segurar as lágrimas.
Na parte dela há pais carinhosos (Isabelle Huppert e William Hurt), uma irmã maluquinha (Jess Weixler) e uma professora-confidente (Viola Davis). Já ao lado dele estão um pai distante (Ciarán Hinds) e um amigo-sócio (Bill Hader). Por fim, The Disappearance of Eleanor Rigby: Them une essas duas histórias em um único filme.
Dizem que a ordem em que se assiste as duas primeiras produções influencia na maneira como os personagens são percebidos – mas essa não é uma opção para quem vê a opção combinada. Contudo, acredito que não seja exatamente um problema, já que ela traz a percepção do diretor e roteirista Ned Benson, que se esforçou durante muito tempo para transformar esse projeto em realidade.
A ideia, convenhamos, é boa. O filme trata de um relacionamento, há certo mistério e os atores são muito bons. O problema é a execução. O romance entre os protagonistas não fica muito claro – eles deveriam se amar, afinal! – e o ritmo é muito lento e irregular. Talvez, individualmente, essa irregularidade seja suavizada, mas a verdade é que não é legal acompanhar dramas alheios tão de perto.
O detalhe é que essa é justamente a maior qualidade de The Disappearance of Eleanor Rigby: Them. São pessoas normais vivendo tristezas comuns da vida, mas com uma dificuldade maior de superação. Sob certos aspectos, é mais fácil criar uma identificação com os coadjuvantes (nenhum deles bem desenvolvido dramaticamente) que com os protagonistas, mas a humanidade de ambos é inegável.
Jessica Chastain, obviamente, é a grande atração. Ela atua com paixão e é a única que move a história, apoiada por um peso dramático maior desde o princípio. Já James McAvoy não tem muito o que mostrar com um personagem que fica sempre à sombra dos acontecimentos – mesmo quando ele resolve agir, algo acontece que o faz perder destaque em prol dela.
Triste, corrosivo e belo em essência. Cheio de boas intenções, The Disappearance of Eleanor Rigby: Them não entrega tudo o que promete, mas funciona bem. É uma produção que ganharia com um diretor mais experiente, um roteiro enxuto e uma ênfase maior no trabalho dos atores. Funcionaria até como uma peça de teatro, mas dificilmente conseguiria sucesso comercial como uma trilogia.
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