Divagações: Mimi wo sumaseba

Ver os filmes do Studio Ghibli fora de ordem dá nisso! Neko no ongaeshi é uma produção muito legal, mas o filme faz muito mais sentido ...

Ver os filmes do Studio Ghibli fora de ordem dá nisso! Neko no ongaeshi é uma produção muito legal, mas o filme faz muito mais sentido para quem já assistiu Mimi wo sumaseba. É interessante que um filme como esse, que faz referência a diversas obras da companhia, tenha rendido ‘frutos indiretos’, digamos assim.

Mimi wo sumaseba conta uma história contemporânea. É raro ver uma família japonesa vivendo em uma casa apertada, discutindo assuntos familiares e pensando no futuro dos filhos. Mas tudo isso está presente nessa produção que, ao mesmo tempo, não deixa de ter uma boa dose de fantasia.

Shizuku Tsukishima (Youko Honna) é uma adolescente que gosta muito de ler e de se divertir com suas amigas. Um dia, ela fica curiosa quando encontra um gato no trem e acaba o perseguindo, parando apenas na loja de antiguidades de Shiro Nishi (Keiju Kobayashi), um velhinho que a encanta com histórias sobre a estátua de um gato chamado The Baron (Shigeru Tsuyuguchi). Por coincidência, ele também é o avô de Seiji Amasawa (Issei Takahashi), um jovem violinista que estuda na mesma escola que ela – e pelo qual a menina nutre uma inexplicável irritação.

Embora exista uma boa dose de inocência e uma protagonista juvenil, o filme não é exatamente direcionado para crianças ou jovens adolescentes – ainda que não os afaste de forma alguma. É uma história sobre um período de incertezas da vida, sobre amadurecimento emocional, percepção de mundo e as primeiras escolhas profissionais. Ao mesmo tempo, também é um romance leve e constrangido, exatamente como um primeiro amor deve ser.

Com roteiro de Hayao Miyazaki, o filme foi o único longa-metragem dirigido pelo animador Yoshifumi Kondô, falecido em 1998. Juntos, os dois conseguem garantir que uma história cheia de pequenos detalhes dramáticos não se transforme em uma produção triste para adultos. Mimi wo sumaseba é cheio de vida e esperança! É um filme que provoca até certa nostalgia, mesmo quando você não se identifica diretamente com as situações vividas pelos personagens.

Aliás, a sensibilidade da produção é seu maior ponto forte. A história é bonitinha, mas não é fantástica e poderia passar despercebida em muitas produções menos cuidadosas. O filme, contudo, aposta em sua protagonista, que leva cada dia com grande intensidade e cria metas a todos os momentos. Mas ela é humana e, eventualmente, pode se sentir desanimada – apenas para levantar a cabeça novamente e continuar seguindo em frente.

A animação é de qualidade e muito atenta aos detalhes, com cenários absolutamente realísticos. A propósito, esse filme é o primeiro do Studio Ghibli a utilizar composição digital. Em uma cena caracterizada por muitos elementos (muitos mesmo!), todos foram animados da maneira tradicional, mas foram combinados com o auxílio da tecnologia. Essa também foi a primeira produção no Japão a utilizar sistema de som Dolby Digital.

Mimi wo sumaseba tem um bom ritmo, um roteiro absolutamente certeiro, um visual atemporal (ainda que retrate bem uma época) e uma direção sensível. Isso é algo dificilmente encontrado em filmes com atores, resultando em uma verdadeira pérola da animação.

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