Divagações: Deadpool
9.2.16
Quando falamos em grandes projetos passionais de atores e diretores já visualizamos um filme grandioso ou experimental, muito longe do que seria considerado rentável pelos padrões da indústria. Mas e quando esse projeto é um filme de super-herói? Ainda que não estejamos mais no ápice dos filmes de combatentes mascarados, não existem muitos motivos para um estúdio se mostrar tão resistente com a possibilidade de iniciar uma nova franquia lucrativa. Então, por que demorou tanto para Deadpool receber o sinal verde da Fox?
Acho que a resposta está no fato de que Deadpool é o primeiro longa-metragem mais popular de super-heróis com uma classificação etária R (menores de 17 anos só podem ir ao cinema acompanhados por um adulto responsável). Ainda que produções como Watchmen e Blade tenham exibido um nível similar de violência e sexualidade, não há como compará-los com um filme que está diretamente ligado a uma das franquias mais lucrativas da Fox, formada por produções estritamente PG-13. Não fosse pela ótima resposta do público a sequência 'vazada' em 2014, talvez Deadpool nunca saísse do papel.
A essa altura, quem não conhece quadrinhos pode estar se perguntando quem diabos é Deadpool e porque Ryan Reynolds foi tão enfático em tentar fazer esse filme funcionar. Meio que incorporando todos os problemas e qualidades dos quadrinhos dos anos 1990, ele foi criado como uma espécie de anti-herói sacana, completamente insano e de certo modo ciente de que era apenas um personagem de quadrinhos. Apesar de não ser exatamente considerado uma obra prima, não há como negar que Deadpool conquistou alguns fãs fiéis que se divertiam com seu exagero descompromissado e suas constantes quebras da quarta parede.
O filme, apesar de fazer algumas concessões para simplificar a salada narrativa dos quadrinhos, ainda coloca Wade Wilson (Ryan Reynolds) como um mercenário falastrão e bem humorado que se vê imbuído de superpoderes após fazer parte de uma experiência meio suspeita na tentativa de curar um câncer terminal. Apesar de ter sobrevivido, Wade fica completamente deformado e jura vingança contra Ajax (Ed Skrein), outro sujeito dotado de poderes e que supostamente poderia reverter o processo. Wade, então, assume a alcunha de Deadpool e sai por aí retalhando gente até chegar a seu objetivo, ainda que sob a vista grossa dos X-Men Colossus (Stefan Kapicic) e Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand).
O negócio é que Reynolds nasceu para esse papel. Ele é exatamente o que Deadpool representa nos quadrinhos e se redime pela terrível adaptação do personagem em X-Men Origins: Wolverine, em que entrava mudo e saía calado. Aqui, o personagem tem espaço para ser justamente o que o torna interessante; não tem medo de fazer piadas ruins, de ser por vezes ridículo e nem tem a pretensão de ser um herói. Deadpool sabe que está fazendo tudo por motivos egoístas e mesquinhos e que é só um cara que mata gente para conseguir o que quer. Ainda que a relação com sua noiva Vanessa (Morena Baccarin) tente dar uma camada de empatia ao personagem, não existe realmente redenção.
Ainda assim, tudo que os fãs queriam está aqui. Palavrões, violência, bons coadjuvantes, algumas referências ao universo Marvel, um humor escrachado e uma trilha sonora matadora, que – assim como em Guardians of the Galaxy – tem certa vida própria e dá tom ao filme. As ligações com o resto do universo dos mutantes é bem feita e também rende boas risadas, apesar da computação gráfica do Colossus parecer um pouco datada para os padrões atuais.
Porém, por mais que o filme consiga atingir tudo que precisaria ser, dá pra dizer que Deadpool joga seguro, sendo exatamente o filme que esperávamos e nada mais do que isso. O roteiro é básico e até brinca com alguma experimentação narrativa, mas se perde um pouco até o final, tornando-se meio genérico. O vilão é só um sujeito ruim sem muitas motivações e com um visual desinteressante, a própria química entre Wade e Vanessa é meio truncada e nem sempre empolga – mas não é como se pudéssemos exigir demais de um personagem que não é exatamente conhecido por seu peso dramático.
Não acho que Deadpool vai desagradar aqueles que tenham um mínimo de expectativas para o filme, porém, não sei se ele é capaz de atingir a fatia do público que não teve contato anterior com o personagem. Mesmo assim, em uma época com adaptações questionáveis e mudanças radicais na essência de personagens icônicos, não se pode criticar uma obra por ser excessivamente fiel a suas fontes. Ainda que Deadpool não se firme para a posteridade, provavelmente será lembrado com carinho, sendo uma das melhores transposições que o cinema já teve de uma história em quadrinhos, o que talvez sirva para apagar todo o péssimo histórico que Ryan Reynolds tem com o tema.
Acho que a resposta está no fato de que Deadpool é o primeiro longa-metragem mais popular de super-heróis com uma classificação etária R (menores de 17 anos só podem ir ao cinema acompanhados por um adulto responsável). Ainda que produções como Watchmen e Blade tenham exibido um nível similar de violência e sexualidade, não há como compará-los com um filme que está diretamente ligado a uma das franquias mais lucrativas da Fox, formada por produções estritamente PG-13. Não fosse pela ótima resposta do público a sequência 'vazada' em 2014, talvez Deadpool nunca saísse do papel.
A essa altura, quem não conhece quadrinhos pode estar se perguntando quem diabos é Deadpool e porque Ryan Reynolds foi tão enfático em tentar fazer esse filme funcionar. Meio que incorporando todos os problemas e qualidades dos quadrinhos dos anos 1990, ele foi criado como uma espécie de anti-herói sacana, completamente insano e de certo modo ciente de que era apenas um personagem de quadrinhos. Apesar de não ser exatamente considerado uma obra prima, não há como negar que Deadpool conquistou alguns fãs fiéis que se divertiam com seu exagero descompromissado e suas constantes quebras da quarta parede.
O filme, apesar de fazer algumas concessões para simplificar a salada narrativa dos quadrinhos, ainda coloca Wade Wilson (Ryan Reynolds) como um mercenário falastrão e bem humorado que se vê imbuído de superpoderes após fazer parte de uma experiência meio suspeita na tentativa de curar um câncer terminal. Apesar de ter sobrevivido, Wade fica completamente deformado e jura vingança contra Ajax (Ed Skrein), outro sujeito dotado de poderes e que supostamente poderia reverter o processo. Wade, então, assume a alcunha de Deadpool e sai por aí retalhando gente até chegar a seu objetivo, ainda que sob a vista grossa dos X-Men Colossus (Stefan Kapicic) e Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand).
O negócio é que Reynolds nasceu para esse papel. Ele é exatamente o que Deadpool representa nos quadrinhos e se redime pela terrível adaptação do personagem em X-Men Origins: Wolverine, em que entrava mudo e saía calado. Aqui, o personagem tem espaço para ser justamente o que o torna interessante; não tem medo de fazer piadas ruins, de ser por vezes ridículo e nem tem a pretensão de ser um herói. Deadpool sabe que está fazendo tudo por motivos egoístas e mesquinhos e que é só um cara que mata gente para conseguir o que quer. Ainda que a relação com sua noiva Vanessa (Morena Baccarin) tente dar uma camada de empatia ao personagem, não existe realmente redenção.
Ainda assim, tudo que os fãs queriam está aqui. Palavrões, violência, bons coadjuvantes, algumas referências ao universo Marvel, um humor escrachado e uma trilha sonora matadora, que – assim como em Guardians of the Galaxy – tem certa vida própria e dá tom ao filme. As ligações com o resto do universo dos mutantes é bem feita e também rende boas risadas, apesar da computação gráfica do Colossus parecer um pouco datada para os padrões atuais.
Porém, por mais que o filme consiga atingir tudo que precisaria ser, dá pra dizer que Deadpool joga seguro, sendo exatamente o filme que esperávamos e nada mais do que isso. O roteiro é básico e até brinca com alguma experimentação narrativa, mas se perde um pouco até o final, tornando-se meio genérico. O vilão é só um sujeito ruim sem muitas motivações e com um visual desinteressante, a própria química entre Wade e Vanessa é meio truncada e nem sempre empolga – mas não é como se pudéssemos exigir demais de um personagem que não é exatamente conhecido por seu peso dramático.
Não acho que Deadpool vai desagradar aqueles que tenham um mínimo de expectativas para o filme, porém, não sei se ele é capaz de atingir a fatia do público que não teve contato anterior com o personagem. Mesmo assim, em uma época com adaptações questionáveis e mudanças radicais na essência de personagens icônicos, não se pode criticar uma obra por ser excessivamente fiel a suas fontes. Ainda que Deadpool não se firme para a posteridade, provavelmente será lembrado com carinho, sendo uma das melhores transposições que o cinema já teve de uma história em quadrinhos, o que talvez sirva para apagar todo o péssimo histórico que Ryan Reynolds tem com o tema.
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