Divagações: Tudo por um Pop Star

Lembro que a primeira vez em que ouvi o nome de Thalita Rebouças foi em uma reportagem que dizia que é possível viver de literatura no Br...

Lembro que a primeira vez em que ouvi o nome de Thalita Rebouças foi em uma reportagem que dizia que é possível viver de literatura no Brasil. Na ocasião, ela era tida como uma autora de sucesso de livros infantojuvenis – algo que só cresceu desde então. Tanto que Tudo por um Pop Star, baseado no segundo de seus mais de 20 livros, é a terceira obra que ela vê adaptada para os cinemas, após É Fada! e Fala Sério, Mãe!. Por mais que alguns possam torcer o nariz, vamos combinar que não é pouca coisa.

O grande mérito de Rebouças é conseguir dialogar diretamente com seu público, sem subestimá-lo. E, embora que algumas das premissas pareçam bobas, é preciso admitir que ela consegue brincar com clichês e tropos de uma forma engraçada e sem ofender ninguém (ou quase, mas vamos falar disso depois). Além disso, confesso que logo nos primeiros minutos de Tudo por um Pop Star fui automaticamente transportada para os meus 12 anos (a parte divertida deles, diga-se de passagem).

Na história, acompanhamos três amigas – Gabi (Maisa Silva), Manu (Klara Castanho) e Ritinha (Mel Maia) – que são muito fãs de uma boyband chamada Slavabody Disco Disco Boys. Assim, quando a banda anuncia um show no Rio de Janeiro, elas fazem de tudo para conseguir ver seus ídolos, incluindo viajar 200 quilômetros de Fusca, participar de um concurso por ingressos, tentar entrar de penetras, fingir desmaios e por aí vai.

Nessa aventura, elas são parcialmente acompanhadas por uma prima maluquinha de Manu, Babete (Giovanna Lancellotti), e acabam colocando a própria amizade em risco em mais de uma ocasião. Além disso, elas precisam lidar com a incompreensão de seus próprios pais, com um grupo de meninas metidas da escola e com um youtuber de opiniões questionáveis, Billy Bold (Felipe Neto). Tudo por uma oportunidade para ver Slack (João Guilherme Ávila), Julius (Isacque Lopes) e Michael (Victor Aguiar) – aliás, como só o primeiro é brasileiro, ele é o único que tem diálogos.

Por mais que as protagonistas não sejam exatamente exemplos a serem seguidos, o sentimento geral é de que só se é adolescente uma vez na vida. Elas estão apaixonadas por meninos que estão obviamente dublando as canções (não sei se isso foi intencional, porém...) e fazem parte de uma banda com um nome bem bobo (meu trocadilho favorito foi “os lava-jato”, mas meus ouvidos podem ter inventado essa).

Assim, Tudo por um Pop Star é um filme sobre não desistir dos seus sonhos e, ao mesmo tempo, é uma ode às bobagens que fazemos quando jovens. Para completar, tendo três protagonistas de personalidades tão diferentes, todo mundo pode se identificar com alguma delas em algum grau (eu, inclusive, diria que sou uma Ritinha com toques de Gabi).

Em meio a essa atmosfera de positividade, o ponto mais problemático da produção é o retrato de uma pessoa gay feito por Felipe Neto. Ainda que seja um personagem pequeno, é verdade que a afetação como piada é mais um desserviço às lutas da comunidade do que qualquer outra coisa. Ainda assim, parece que a produção tentou minimizar a questão: a graça reside mais no fato dele se passar por um crítico ‘intelectual’ e cheio de critérios quando, na verdade, ele gosta de uma boyband. De qualquer modo, poderíamos ter simplesmente ficado sem essa.

De qualquer forma, em meio a devaneios adolescentes, uma grande determinação e uma esperança verdadeiramente resiliente, Tudo por um Pop Star surge como um filme fofo e, ao menos para mim, nostálgico. Ele é divertido, apresenta três jovens atrizes com potencial e explora (com humor e sem julgamentos) um sentimento de desespero que todo fã já deve ter sentido pelo menos uma vez na vida. Quisera eu ter a coragem (e a cara-de-pau) de Gabi, Manu e Ritinha!

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