Divagações: Rocketman
30.5.19
Após o estrondoso sucesso de Bohemian Rhapsody, as cinebiografias de estrelas da música voltaram com força total aos cinemas. Tudo bem que o tema nunca exatamente saiu de moda, mas, ao mesmo tempo, não há como culpar os produtores de Hollywood por quererem uma fatia desse bolo.
Esse adendo é importante porque considero basicamente impossível falar de Rocketman sem passar pelo menos ao lado da obra sobre Freddie Mercury. Afinal, o diretor de Rocketman, Dexter Fletcher, foi justamente aquele que foi convocado às pressas para terminar o longa-metragem, depois da demissão de Bryan Singer. E, bem, não há como negar que ambos os filmes compartilham muito do mesmo DNA.
Na superfície, Rocketman é bastante convencional em sua narrativa – e similar a Bohemian Rhapsody –, contando a ascensão meteórica de Elton John (Taron Egerton) ao estrelato. A história aborda sua infância, seus problemas familiares, a relação conturbada com os pais, sua sexualidade, sua parceria com o letrista Bernie Taupin (Jamie Bell) e seus problemas com drogas e álcool.
Por essa ótica, o filme traz todos os principais clichês do gênero, incluindo montagens de turnê, o músico se provando para um produtor cínico e a descida ao abismo do vício enquanto ele afasta todos ao seu redor. Se o longa-metragem fosse apenas isso, eu não teria nenhum receio em dizer que se trata de um filme medíocre, que apenas surfa na onda de um grande sucesso. Mas, felizmente, ele é bem mais do que isso.
Não se contentando apenas com uma narrativa convencional, Rocketman mistura a biografia com elementos de musicais e uma dose de surrealismo e fantasia. Esses elementos ajudam a dar peso e significado às canções do músico, além de quebrarem a monotonia de uma história relativamente básica e aliviarem um pouco a necessidade de criar uma dramatização realista dos fatos.
Sem muito apego à cronologia, a produção mistura a ordem de músicas e acontecimentos para acentuar o peso emocional, realizando também sequências deslumbrantes de dança. Essa estrutura mais solta dá frescor e injeta interesse na história, tornando o resultado infinitamente mais interessante do que aconteceria em uma produção que ficasse apenas no feijão com arroz.
Além disso, como o filme conta com a participação criativa do próprio Elton John, existe uma visão bastante interessante do que cada uma das músicas representa para ele e para certos momentos de sua vida. Aliás, ter a oportunidade de experienciar isso é algo bem valioso. E, felizmente, mesmo contando com a presença do cantor na produção, o filme não soa panfletário ou autoindulgente demais, o que é um problema que eu percebo fortemente em Bohemian Rhapsody, por exemplo, que joga todos os excessos da banda nas costas de Freddie Mercury, pintando os demais membros em uma luz bem mais favorável.
Aqui, Elton John parece exercer certa autocrítica e nada é escondido (porém, suponho que eventualmente seja atenuado). O visual inventivo também ajuda bastante a mostrar essas situações de modo instigante, sem recorrer aos mesmos recursos de sempre.
Nesse cenário, a escolha por Taron Egerton se mostrou bem acertada. Ele é um bom cantor e dá extrema credibilidade ao papel sem precisar de um dublador, mesmo que a transformação física não seja lá muito impressionante. Certamente, é um trabalho competente e que funciona perfeitamente para o que o filme quer passar, sem tentar imitar a voz de Elton John ou ser caricatural e exagerado (bem, não mais que o exagero intrínseco ao próprio personagem). O resto do elenco, por sua vez, é bem mais apagado – talvez com exceção de Richard Madden, que interpreta o produtor e agente musical John Reid. Porém, como o pivô central do filme é a vida de Elton John, esse é um pecado a ser relevado.
Assim, Rocketman é um bom filme tanto para quem já era fã do cantor quanto para quem só queria ver um musical interessante. Ainda que ele não escape completamente das armadilhas do gênero e soe meio passado em algumas das suas escolhas, o longa-metragem continua sendo divertido e empolgante, fazendo jus à carreira de um ícone do pop. Se o próprio Elton John é glamouroso e extravagante, um filme sobre ele não poderia ser diferente, e neste quesito, Rocketman é um sucesso. Espero que a coragem da equipe para inovar realmente consiga trazer um pouco mais de criatividade para um tema que é tão assolado por velhas fórmulas.
Outras divagações:
Eddie the Eagle
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Esse adendo é importante porque considero basicamente impossível falar de Rocketman sem passar pelo menos ao lado da obra sobre Freddie Mercury. Afinal, o diretor de Rocketman, Dexter Fletcher, foi justamente aquele que foi convocado às pressas para terminar o longa-metragem, depois da demissão de Bryan Singer. E, bem, não há como negar que ambos os filmes compartilham muito do mesmo DNA.
Na superfície, Rocketman é bastante convencional em sua narrativa – e similar a Bohemian Rhapsody –, contando a ascensão meteórica de Elton John (Taron Egerton) ao estrelato. A história aborda sua infância, seus problemas familiares, a relação conturbada com os pais, sua sexualidade, sua parceria com o letrista Bernie Taupin (Jamie Bell) e seus problemas com drogas e álcool.
Por essa ótica, o filme traz todos os principais clichês do gênero, incluindo montagens de turnê, o músico se provando para um produtor cínico e a descida ao abismo do vício enquanto ele afasta todos ao seu redor. Se o longa-metragem fosse apenas isso, eu não teria nenhum receio em dizer que se trata de um filme medíocre, que apenas surfa na onda de um grande sucesso. Mas, felizmente, ele é bem mais do que isso.
Não se contentando apenas com uma narrativa convencional, Rocketman mistura a biografia com elementos de musicais e uma dose de surrealismo e fantasia. Esses elementos ajudam a dar peso e significado às canções do músico, além de quebrarem a monotonia de uma história relativamente básica e aliviarem um pouco a necessidade de criar uma dramatização realista dos fatos.
Sem muito apego à cronologia, a produção mistura a ordem de músicas e acontecimentos para acentuar o peso emocional, realizando também sequências deslumbrantes de dança. Essa estrutura mais solta dá frescor e injeta interesse na história, tornando o resultado infinitamente mais interessante do que aconteceria em uma produção que ficasse apenas no feijão com arroz.
Além disso, como o filme conta com a participação criativa do próprio Elton John, existe uma visão bastante interessante do que cada uma das músicas representa para ele e para certos momentos de sua vida. Aliás, ter a oportunidade de experienciar isso é algo bem valioso. E, felizmente, mesmo contando com a presença do cantor na produção, o filme não soa panfletário ou autoindulgente demais, o que é um problema que eu percebo fortemente em Bohemian Rhapsody, por exemplo, que joga todos os excessos da banda nas costas de Freddie Mercury, pintando os demais membros em uma luz bem mais favorável.
Aqui, Elton John parece exercer certa autocrítica e nada é escondido (porém, suponho que eventualmente seja atenuado). O visual inventivo também ajuda bastante a mostrar essas situações de modo instigante, sem recorrer aos mesmos recursos de sempre.
Nesse cenário, a escolha por Taron Egerton se mostrou bem acertada. Ele é um bom cantor e dá extrema credibilidade ao papel sem precisar de um dublador, mesmo que a transformação física não seja lá muito impressionante. Certamente, é um trabalho competente e que funciona perfeitamente para o que o filme quer passar, sem tentar imitar a voz de Elton John ou ser caricatural e exagerado (bem, não mais que o exagero intrínseco ao próprio personagem). O resto do elenco, por sua vez, é bem mais apagado – talvez com exceção de Richard Madden, que interpreta o produtor e agente musical John Reid. Porém, como o pivô central do filme é a vida de Elton John, esse é um pecado a ser relevado.
Assim, Rocketman é um bom filme tanto para quem já era fã do cantor quanto para quem só queria ver um musical interessante. Ainda que ele não escape completamente das armadilhas do gênero e soe meio passado em algumas das suas escolhas, o longa-metragem continua sendo divertido e empolgante, fazendo jus à carreira de um ícone do pop. Se o próprio Elton John é glamouroso e extravagante, um filme sobre ele não poderia ser diferente, e neste quesito, Rocketman é um sucesso. Espero que a coragem da equipe para inovar realmente consiga trazer um pouco mais de criatividade para um tema que é tão assolado por velhas fórmulas.
Outras divagações:
Eddie the Eagle
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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