Divagações: Dark Phoenix
6.6.19
Como roteirista, Simon Kinberg já é um nome complicado. Por mais que ele tenha sido o sujeito que mais trabalhou nessa nova leva de filmes dos X-Men e pareça ser um cara genuinamente apaixonado pela franquia, seus resultados são, no mínimo, irregulares. Ao longo da carreira, ele fez desde coisas divertidas, como o próprio X-Men: Days of Future Past, até bombas, como o reboot Fantastic Four.
Assim, mesmo tendo experiência com a franquia em questão, não acho que Kinberg estava preparado para estrear na direção com o que possivelmente é o último filme dos mutantes como os conhecemos (depois da saída pela esquerda de Bryan Singer). Além da grande responsabilidade que a franquia envolve, trata-se de uma história com pompa e circunstância demais para funcionar com personagens recém-introduzidos, com os quais o público não tem investimento emocional suficiente.
Outras circunstâncias também não ajudam nesse cenário. Dark Phoenix é uma espécie de remake de X-Men: The Last Stand – curiosamente, também escrito por Kinberg –, que foi o filme mais detestado da franquia por um longo período (até perder o posto para X-Men Origins: Wolverine, o campeão hours concours na categoria tosqueira). Isso sem contar que a nova produção é a continuação direta de X-Men: Apocalypse, também mergulhado em um mar de mediocridade. E, para completar, o lançamento do longa-metragem foi marcado para pouco tempo após a estreia de coisas ótimas no gênero, como Avengers: Endgame e até mesmo o quase esquecido Shazam!.
Passado em 1992, anos depois dos eventos da produção anterior, Dark Phoenix traz uma situação mais próxima ao primeiro filme dos X-Men. Novatos como Scott Summers (Tye Sheridan) e Jean Gray (Sophie Turner) dividem espaço com veteranos como Hank McCoy (Nicholas Hoult) e a heroína-tornada-vilã-tornada-heroína Raven (Jennifer Lawrence), todos sob a liderança do Professor Charles Xavier (James McAvoy).
No filme, os atos heroicos do grupo os colocaram nas graças do governo norte-americano, abrindo caminho para uma paz frágil entre humanos e mutantes. Porém, as coisas mudam quando um acidente durante uma missão de resgate coloca Jean em contato com uma estranha força espacial, que amplifica seus poderes e a coloca na mira de uma raça alienígena liderada por Vuk (Jessica Chastain).
Com um clima mais pessoal e centrado nos personagens, Dark Phoenix é interessante para a franquia como um todo, mas falha em estabelecer a expectativa adequada para o que se propõe a ser o capítulo final na saga. A produção é muito contida e o senso de escala é reduzido demais para uma ameaça que se diz tão grande. Mesmo as lutas raramente passam de umas escaramuças de rua, ainda que o destino na humanidade como um todo esteja em jogo. Assim, há mais um aspecto de filme intermediário que de uma conclusão épica.
A despeito disso tudo, preciso elogiar o bom trabalho de coreografia e os bons efeitos especiais. São eles que fazem com que até mesmo cenas meio irrelevantes sejam visualmente interessantes e usem bem os poderes dos seus personagens. Sem o bonecão de computação gráfica que foi o vilão do filme anterior, as lutas têm mais peso e, finalmente, Nightcrawler (Kodi Smit-McPhee) consegue mostrar um pouco a que veio ou do que é capaz.
Dessa forma, Dark Phoenix talvez fosse mais aceitável se o filme tivesse se segurado mais próximo dos quadrinhos e trabalhado sobre a parte psicológica com força. Logan, inclusive, mostrou muito bem que você não precisa de nada bombástico para aposentar um personagem querido.
Entretanto, a série já havia dado um tiro no pé ao usar (e usar mal) os famosos antagonistas da saga da Fênix em X-Men: First Class. Assim, resta a Vuk o papel de uma Emma Frost genérica, sem o carisma e o gravitas que a tornaram uma personagem amada nos quadrinhos e até mesmo a mentora de uma nova geração de X-Men.
Além disso, apesar de ter simpatizado com os personagens apresentados no filme anterior, o pouco tempo de tela e o elenco inexperiente não ajudaram a estabelecer um elo emocional com a equipe – especialmente quando Sophie Turner é basicamente obrigada a carregar o filme nas costas, algo que ela não consegue fazer muito bem. Inclusive, até mesmo os veteranos da série, especialmente Jennifer Lawrence e Michael Fassbender, parecem estar atuando no automático.
Mas não é como se fosse possível culpá-los, já que seus papéis estão patinando há tempo. Os filmes de X-Men têm carecido imensamente de desenvolvimento de personagem e o público já cansou de ver a mesma ladainha vindo de Magneto desde o primeiro filme. O roteiro continua encontrando desculpas para colocá-lo nos mesmos lugares, em um círculo perpétuo que não permite ao personagem crescer ou evoluir. Isso torna os acontecimentos previsíveis, já nada do que acontece é capaz de mudar o status quo. E nem mesmo o fim de tudo parece mudar isso.
Ainda que Dark Phoenix seja superior à bagunça que é X-Men: Apocalypse, ele não é exatamente capaz de dar novo fôlego aos mutantes. A produção tem alguns elementos legais, boas lutas, uma boa trilha sonora e não faz nada de muito errado – só não é nem um pouco memorável. Isso praticamente garante que um potencial novo filme, já sob as asas da Disney, descarte tudo o que sobrou da versão da Fox.
Nunca o poema de T.S. Elliot se fez tão verdadeiro para uma franquia de blockbusters. Esse mundo acaba, não com uma explosão, mas com um suspiro.
Outras divagações:
X-Men
X2
X-Men: The Last Stand
X-Men: First Class
X-Men: Days of Future Past
X-Men: Apocalypse
The Wolverine
Logan
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Assim, mesmo tendo experiência com a franquia em questão, não acho que Kinberg estava preparado para estrear na direção com o que possivelmente é o último filme dos mutantes como os conhecemos (depois da saída pela esquerda de Bryan Singer). Além da grande responsabilidade que a franquia envolve, trata-se de uma história com pompa e circunstância demais para funcionar com personagens recém-introduzidos, com os quais o público não tem investimento emocional suficiente.
Outras circunstâncias também não ajudam nesse cenário. Dark Phoenix é uma espécie de remake de X-Men: The Last Stand – curiosamente, também escrito por Kinberg –, que foi o filme mais detestado da franquia por um longo período (até perder o posto para X-Men Origins: Wolverine, o campeão hours concours na categoria tosqueira). Isso sem contar que a nova produção é a continuação direta de X-Men: Apocalypse, também mergulhado em um mar de mediocridade. E, para completar, o lançamento do longa-metragem foi marcado para pouco tempo após a estreia de coisas ótimas no gênero, como Avengers: Endgame e até mesmo o quase esquecido Shazam!.
Passado em 1992, anos depois dos eventos da produção anterior, Dark Phoenix traz uma situação mais próxima ao primeiro filme dos X-Men. Novatos como Scott Summers (Tye Sheridan) e Jean Gray (Sophie Turner) dividem espaço com veteranos como Hank McCoy (Nicholas Hoult) e a heroína-tornada-vilã-tornada-heroína Raven (Jennifer Lawrence), todos sob a liderança do Professor Charles Xavier (James McAvoy).
No filme, os atos heroicos do grupo os colocaram nas graças do governo norte-americano, abrindo caminho para uma paz frágil entre humanos e mutantes. Porém, as coisas mudam quando um acidente durante uma missão de resgate coloca Jean em contato com uma estranha força espacial, que amplifica seus poderes e a coloca na mira de uma raça alienígena liderada por Vuk (Jessica Chastain).
Com um clima mais pessoal e centrado nos personagens, Dark Phoenix é interessante para a franquia como um todo, mas falha em estabelecer a expectativa adequada para o que se propõe a ser o capítulo final na saga. A produção é muito contida e o senso de escala é reduzido demais para uma ameaça que se diz tão grande. Mesmo as lutas raramente passam de umas escaramuças de rua, ainda que o destino na humanidade como um todo esteja em jogo. Assim, há mais um aspecto de filme intermediário que de uma conclusão épica.
A despeito disso tudo, preciso elogiar o bom trabalho de coreografia e os bons efeitos especiais. São eles que fazem com que até mesmo cenas meio irrelevantes sejam visualmente interessantes e usem bem os poderes dos seus personagens. Sem o bonecão de computação gráfica que foi o vilão do filme anterior, as lutas têm mais peso e, finalmente, Nightcrawler (Kodi Smit-McPhee) consegue mostrar um pouco a que veio ou do que é capaz.
Dessa forma, Dark Phoenix talvez fosse mais aceitável se o filme tivesse se segurado mais próximo dos quadrinhos e trabalhado sobre a parte psicológica com força. Logan, inclusive, mostrou muito bem que você não precisa de nada bombástico para aposentar um personagem querido.
Entretanto, a série já havia dado um tiro no pé ao usar (e usar mal) os famosos antagonistas da saga da Fênix em X-Men: First Class. Assim, resta a Vuk o papel de uma Emma Frost genérica, sem o carisma e o gravitas que a tornaram uma personagem amada nos quadrinhos e até mesmo a mentora de uma nova geração de X-Men.
Além disso, apesar de ter simpatizado com os personagens apresentados no filme anterior, o pouco tempo de tela e o elenco inexperiente não ajudaram a estabelecer um elo emocional com a equipe – especialmente quando Sophie Turner é basicamente obrigada a carregar o filme nas costas, algo que ela não consegue fazer muito bem. Inclusive, até mesmo os veteranos da série, especialmente Jennifer Lawrence e Michael Fassbender, parecem estar atuando no automático.
Mas não é como se fosse possível culpá-los, já que seus papéis estão patinando há tempo. Os filmes de X-Men têm carecido imensamente de desenvolvimento de personagem e o público já cansou de ver a mesma ladainha vindo de Magneto desde o primeiro filme. O roteiro continua encontrando desculpas para colocá-lo nos mesmos lugares, em um círculo perpétuo que não permite ao personagem crescer ou evoluir. Isso torna os acontecimentos previsíveis, já nada do que acontece é capaz de mudar o status quo. E nem mesmo o fim de tudo parece mudar isso.
Ainda que Dark Phoenix seja superior à bagunça que é X-Men: Apocalypse, ele não é exatamente capaz de dar novo fôlego aos mutantes. A produção tem alguns elementos legais, boas lutas, uma boa trilha sonora e não faz nada de muito errado – só não é nem um pouco memorável. Isso praticamente garante que um potencial novo filme, já sob as asas da Disney, descarte tudo o que sobrou da versão da Fox.
Nunca o poema de T.S. Elliot se fez tão verdadeiro para uma franquia de blockbusters. Esse mundo acaba, não com uma explosão, mas com um suspiro.
Outras divagações:
X-Men
X2
X-Men: The Last Stand
X-Men: First Class
X-Men: Days of Future Past
X-Men: Apocalypse
The Wolverine
Logan
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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