Divagações: Guns Akimbo

Cuidado com quem você xinga na internet. Embora tenha muitos elementos bizarros, Guns Akimbo encontrou uma saída bastante crível para expli...

Guns Akimbo
Cuidado com quem você xinga na internet. Embora tenha muitos elementos bizarros, Guns Akimbo encontrou uma saída bastante crível para explicar a situação de seu protagonista. Um cara meio depressivo e que se acha esperto (se ele fosse realmente inteligente não teria o emprego que tem e nem precisaria pedir ajudas constantes ao colega) resolveu soltar seu lado violento de uma maneira aparentemente inócua: arrumando confusão online. O problema é quando uma gangue perigosa resolve ir atrás dele na “vida real”.

Mas eu estou me adiantando. Guns Akimbo é mais um filme que se perdeu em meio à confusão que foi 2020. A produção chegou a estrear em vários lugares antes da pandemia de covid-19, ainda que com uma recepção morna. No Brasil, o longa-metragem acabou sendo lançado em outubro de 2020, totalmente sem estardalhaço. Quem não acompanha a carreira de Daniel Radcliffe (ou, pelo menos, não viu suas estranhas fotos vestido a caráter), provavelmente não faz a menor ideia do que se trata.

Com roteiro e direção de Jason Howden, este é um daqueles filmes de ação muito violentos e feitos para ser “cool” – algo que poderia entrar no mesmo bolo de Kick-Ass ou The Suicide Squad. Mas eu já aviso que a intenção não corresponde exatamente ao resultado. O visual que parece sempre lembrar alguma coisa, as diversas reviravoltas e o claro esforço com frases de efeito e momentos “empoderadores” acabam enfraquecendo a produção, que carece de uma identidade própria.

Miles (Daniel Radcliffe) é um cara sem graça, com um emprego chato e uma ex-namorada (Natasha Liu Bordizzo) que ele se arrepende de ter perdido. Para desestressar, ele ofende pessoas na internet e se convence de que está fazendo algo de legal com isso (por achar que elas merecem, talvez). Porém, ele acaba sendo identificado por Riktor (Ned Dennehy), um maníaco que criou um perigoso (e muito popular) reality show online onde os participantes lutam até a morte. Como vingança, Riktor fixa cirurgicamente armas nas mãos de Miles e coloca uma de suas principais jogadoras, Nix (Samara Weaving), na cola do rapaz.

O que se segue é uma perseguição bizarra e implacável, onde Miles e Nix correm para todos os cantos acompanhados por drones um tanto quanto incômodos – afinal, isso está sendo transmitido e ambos se tornam celebridades. No processo, ela desperdiça uma quantidade absurda de munição, ao mesmo tempo em que ele precisa lidar com um contador limitado e com o fato de não poder usar as mãos de forma efetiva (sim, há piadas com banheiros, calças e o medo de atirar no próprio pinto).

E, embora o humor seja barato e as frases de efeito sejam meramente engraçadas, Guns Akimbo consegue entregar sequências de ação interessantes, com bons ângulos de câmera e ideias bem executadas. Tudo é terrivelmente estilizado e clichê, mas não posso dizer que estava esperando algo muito diferente – ou seja, faltou algo que me surpreendesse, mas não é como se fosse uma decepção real. Talvez se o vilão fosse um pouco mais interessante... Mas não é como se existisse uma fórmula mágica.

De qualquer modo, caso você não seja uma velha mal-humorada (como, aparentemente, é o meu caso), é provável que Guns Akimbo renda bons momentos de diversão. Faça uma pipoca, junte os amigos e finja que a pandemia nunca aconteceu. Escapismo por meio da violência objetificada é um bom caminho (e eu nem estou sendo irônica).

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