Divagações: Dune: Part Two

Mesmo depois de um sólido primeiro filme, ainda havia algo na obra de Frank Herbert que aparentava inescrutável: o épico galático parecida ...

Dune: Part Two
Mesmo depois de um sólido primeiro filme, ainda havia algo na obra de Frank Herbert que aparentava inescrutável: o épico galático parecida ter diminuído em escopo ao ser tirado da vasta imaginação para ser colocado nos confins de uma tela. Não me entenda mal, eu gostei de Dune: Part One, mas não vi os lampejos de brilhantismo necessários para situar estes filmes no mesmo patamar de importância para o cinema que os livros tiveram para o gênero.

Mas Dune: Part Two talvez tenha me provado errado. Poder, finalmente, assistir a obra nos cinemas trouxe um arrependimento retroativo, já que fui obrigado a ver a primeira parte desta história no conforto do lar por conta da pandemia de covid-19, em uma televisão bem menos impressionante do que uma tela IMAX.

Obviamente, eu notei que a produção de Denis Villeneuve de 2021 era muito bonita, contudo, foi Dune: Part Two que finalmente me fez sentir que essa é uma experiência épica, daquelas que fazem valer a pena sair de casa. O filme legitimamente transforma a obra apenas com a força da sua primazia técnica, afinal, ainda que se possa argumentar que a narrativa sempre será melhor nas páginas dos livros, há algo que só é possível nos cinemas – e é preciso admitir que existe um grande valor nisso.

Com uma história politicamente densa, cheia de jargões e terminologias, e um universo nem sempre bem explicado pelos filmes, Dune: Part One sofria o calvário de aclimatizar seu espectador a um milhão de coisas diferentes, perdendo mais tempo com sua exposição do que com seus personagens. Assim, qualquer síntese que eu faça sobre a trama vai perder muito do seu nuance, mas vou tentar situar as coisas mesmo assim.

Seguindo adiante na história de Paul Atreides (Timothée Chalamet), há aqui a culminação da guerra contra o barão Harkonnen (Stellan Skarsgård) pelo controle de Arrakis. Cada vez mais próximo de Chani (Zendaya), Paul tem de se dividir entre a vingança desejada contra os assassinos de seu pai e a sua nova vida entre os fremen.

Além disso, ele precisa lidar com as profecias de salvação que parecem recair sobre a sua cabeça e o colocam como o messias dos nativos do planeta. Com a intervenção direta do imperador (Christopher Walken) sobre o conflito e a ascensão de Feyd-Rautha Harkonnen (Austin Butler) como o novo governador de Arrakis, cabe a Paul decidir o seu destino e o futuro tanto de sua casa quanto do próprio império da humanidade.

Felizmente, tirada aqui a necessidade de explicar tanta coisa, a sequência é bem mais feliz em duas frontes: apresentar seus momentos de maior intensidade e gravidade emocional, e investir completamente no espetáculo visual. Assim, ela é o merecido pagamento por todo o investimento narrativo da primeira parte.

O espetáculo entregue, com sequências lindas e inventivas, tem um visual muito seguro de si e um maior foco nos aspectos “esotéricos” do mundo, dando ao filme uma textura muito própria. Isso traduz bem o universo imaginado por Herbert, misturando uma boa fotografia e, especialmente, um brilhante trabalho de design de produção, que genuinamente trouxe esse mundo à vida, com arquiteturas e climas variados aos planetas retratados.

O trabalho da equipe de som foi igualmente excepcional, fazendo algum tempo que não via um filme tão impactante neste aspecto. Destaco tanto a ótima trilha de Hans Zimmer quanto o trabalho de design de som, que pontua de modo fantástico toda a trama, sendo mais um argumento para ver este filme nos cinemas.

Não que o filme seja só técnica. Ele tem uma trama mais pessoal do que o anterior e trabalha bem a sua mensagem central sobre os perigos da fé cega. Para quem temia que se tratasse de uma grande barriga para a conclusão da história – na já confirmada terceira parte dessa história – fico feliz em dizer que Dune: Part Two consegue fechar de modo satisfatório a sua trama central e ser uma adaptação muito competente do primeiro livro da série.

Entretanto, a produção não abre mão de já semear para a continuação, inclusive talvez de um modo bem mais direto e empolgante do que os livros fizeram, acertando o ponto de ser capaz de se segurar sozinha, mas deixando todo mundo com vontade de ver um pouco mais. Assim, Dune: Part Two é uma sequência que constrói e melhora boa parte das coisas mostradas no filme anterior, como um Star Wars: Episode V - The Empire Strikes Back de nossos tempos.

Aliás, o longa-metragem tem o potencial de firmar esse universo na mente de muitos fãs de ficção-científica que ainda não tiveram a disposição de encarar os livros. Ainda que esse não seja um filme perfeito, seus poucos defeitos – como uma duração excessiva e um ritmo e tom um pouco irregulares no primeiro ato – não reduzem suas qualidades. Assim, minha recomendação é excessivamente simples: se você teve algum interesse em Dune: Part One, Dune: Part Two é imperdível.

Outras divagações:
Arrival
Blade Runner 2049
Dune: Part One

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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