Divagações: Robot Dreams

Robot Dreams
Um pouco antes de apertar o botão de play, eu reli a sinopse de Robot Dreams e passei os olhos por algumas opiniões simples de outras pessoas que assistiram à produção pela mesma plataforma. Nesse momento, eu soube que estava prestes a ver algo triste, bem triste.

O que eu não sabia é que eu logo iria duvidar dessa impressão ao encontrar uma animação de traços simples (mas caprichados e atentos aos detalhes) e sem diálogos. Há uma ou outra informação que demanda linguagem – algo escrito, por exemplo –, mas a produção se sustenta com base em expressões e música sem muitos problemas. E essa comunicação aparentemente “fácil” não impede que o filme seja complexo.

Robot Dreams conta a história de um cachorro que vive sozinho em Nova York. Em meio a uma rotina vazia, ele percebe que precisa de um amigo e, para isso, decide comprar um robô. Os primeiros meses são excelentes e fazem com que tudo seja melhor, até que um imprevisto faz com que o cachorro precise abandonar o robô em uma praia.

O que torna o filme interessante é justamente o que acontece após essa separação. Os dois protagonistas sofrem de forma diferente e vivenciam a distância de acordo com as limitações impostas a eles. Cada um tem informações distintas e preenche os vazios de acordo com elas, em uma jornada que fala sobre amizade, solidão, mudança, luto, superação e outras coisas mais. Sim, é triste, mas também não é uma tragédia – é algo que parece muito real.

Ou seja, Robot Dreams é um filme que explora justamente as emoções de uma separação que acontece inesperadamente e sem o controle das partes; o que não quer dizer que não exista culpa ou trauma. O fato de não haver diálogos e dos protagonistas não serem humanos apenas facilita a identificação, pois retira elementos que poderiam distanciar as pessoas da situação vivida. Em um dos textos que li, alguém chama a produção de “fábula” e eu concordo.

Mas é claro que o meio atrapalha um pouco e o diretor Pablo Berger teve algumas dificuldades em manter a minha atenção focada na tela – suponho que eu teria lido os quadrinhos originais de Sara Varon em menos de 1h43, que é a duração do filme. Ao mesmo tempo, sinto que a música acrescentou uma camada importante a essa história e não sei como o papel traria o mesmo peso emocional.

Outro aspecto que enriquece essa história é a escolha de uma Nova York dos anos 1980 como cenário. Isso serve tanto para adicionar elementos visuais divertidos (como referências a outros filmes) quanto para situar os personagens em um contexto quase mágico, que não existe mais e é digno de nostalgia. Obviamente, isso foge da estratégia de “universalização” da experiência, mas também ajuda a colocar limitações bastante específicas.

Além disso, fica claro que Robot Dreams só poderia existir como uma animação. Quando os personagens se perdem em devaneios ou vivem as coisas com as emoções à flor da pele, há exageros e absurdos que até poderiam ser construídos com efeitos visuais, mas que parecem mais verossímeis quando há uma manutenção da mesma linguagem visual, sem interrupções.

Assim, dependendo do momento em que sua vida estiver, uma produção como essa pode facilmente levar às lágrimas. Mesmo sendo protagonizado por um robô e um cachorro que não falam e não possuem nomes, Robot Dreams é um filme sobre algo muito humano e muito profundo.

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