Divagações: The Phoenician Scheme

The Phoenician Scheme
Suponho que poucos cineastas da atualidade tenham uma estética tão característica (e tão conhecida) quanto Wes Anderson. Em muitos casos, isso é interpretado de uma forma reducionista, como se o diretor estivesse limitado a um padrão de cores e enquadramentos, o que não é necessariamente verdade.

The Phoenician Scheme, por exemplo, é uma produção com uma paleta um tanto quanto sóbria – ainda que não sempre –, mas é inegável que se trata de uma obra de Anderson. Desde a primeira cena, somos transportados para um mundo meio absurdo, com diálogos bastante característicos e desdobramentos pouco convencionais. É mais do que o visual, ainda que ele tenha muita responsabilidade.

Desta vez, acompanhamos Zsa-zsa Korda (Benicio Del Toro), um trambiqueiro de sucesso que está dando andamento a um projeto muito ambicioso. Após mais uma tentativa de assassinato, ele decide nomear sua única filha, a noviça Liesl (Mia Threapleton), como sua herdeira – mesmo tendo outros nove filhos. Para que possa assumir a fortuna, entretanto, ela deve partir com o pai em uma missão complicada: tentar achar investidores para cobrir um rombo financeiro em seu plano.

Enquanto os dois viajam na companhia do professor e secretário Bjorn (Michael Cera), fica claro que Liesl não está muito interessada nos planos do pai e possui sua própria agenda, sempre buscando pistas sobre o assassinato da mãe. Desde o começo, o principal suspeito é justamente um dos principais parceiros financeiros, seu tio Nubar (Benedict Cumberbatch). 

Com isso, The Phoenician Scheme usa sua premissa para levar os protagonistas a diferentes cenários, onde eles encontram com todo o tipo de figura. Há um príncipe árabe (Riz Ahmed), empreendedores norte-americanos que adoram basquete (Tom Hanks e Bryan Cranston), um dono de uma casa noturna (Mathieu Amalric), um capitão de navio (Jeffrey Wright) e uma prima/noiva (Scarlett Johansson). 

Caso você esteja particularmente interessado no elenco, vou acrescentar que achei bem divertidas as participações especiais vistas em sequências que acontecem no além (pois é!). Elas incluem nomes como Bill Murray, Willem Dafoe, F. Murray Abraham, Charlotte Gainsbourg e outros, mas sempre no esquema “piscou-perdeu”.

De qualquer modo, The Phoenician Scheme não é particularmente inovador e nem um dos longas-metragens mais interessantes de Anderson, mas ele é engraçado. O elenco entrega diálogos absurdos de forma seca, como se nada demais estivesse acontecendo, e os temas profundos que permeiam a obra (corrupção, família e religiosidade, por exemplo) ajudam a alimentar a sátira. Isso sem contar que nunca fica claro o que exatamente está acontecendo.

Ao mesmo tempo, há algo mágico acontecendo na tela, por meio do convívio entre os personagens. O que estamos acompanhando, na verdade, é uma daquelas jornadas em que ninguém encontra exatamente aquilo que está buscando, mas todos saem diferentes ao final (e há uma resolução inesperadamente satisfatória). Algo que também típico do cineasta, eu diria.

Ou seja, The Phoenician Scheme pode até não ser uma obra-prima brilhante e revolucionária, mas acredito que o filme merecia mais atenção do que recebeu. Espero que, com o tempo, ele consiga ir além do público cativo de Anderson.

Outras divagações:
The Royal Tenenbaums
The Life Aquatic with Steve Zissou
Fantastic Mr. Fox
Moonrise Kingdom
The Grand Budapest Hotel
Isle of Dogs
The French Dispatch
Asteroid City

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