Divagações: Fargo

Depois de assistir a diversos filmes mais recentes dos irmãos Coen , resolvi ver (ou talvez rever, já que tenho vagas lembranças) esse “clá...

Depois de assistir a diversos filmes mais recentes dos irmãos Coen, resolvi ver (ou talvez rever, já que tenho vagas lembranças) esse “clássico” chamado Fargo. Provavelmente, é uma das melhores coisas que eles já fizeram e, sem dúvida, é o melhor exemplo do estilo Coen de fazer filmes.

Fargo tem esse nome porque boa parte da história (mas não toda) acontece em uma cidade da Dakota do Norte que leva esse nome. Bom, ao menos o começo acontece lá. Eu, particularmente, gosto mais do nome Brainerd (cidade do Minnesota onde acontecem coisas mais divertidas, ao menos no filme), mas concordo que Fargo é mais forte e dá mais respeito.

Enfim, o filme é sobre a brilhante ideia de um homem chamado Jerry Lundegaard (William H. Macy). Ele tem uma vidinha muito sem graça com sua mulher e filho e está um tanto quanto enrolado financeiramente. Para dar uma modificada na situação, ele precisa de dinheiro para investir em um negócio que considera ótimo. Como seu sogro e patrão (Harve Presnell) é rico, ele aposta em duas frentes. A primeira – pedir diretamente – parece destinada ao fracasso. Então ele logo apela para a segunda e contrata dois bandidos (Steve Buscemi e Peter Stormare) para sequestrar sua própria mulher (Kristin Rudrüd com um saco na cabeça em 97% do filme).

O problema, então, surge nas formas redondinhas da policial grávida Marge Gunderson, interpretada por Frances McDormand (ótima como sempre e merecedora do Oscar pelo papel). Como a única pessoa mostrada no filme que é competente naquilo que faz, ela vai aos poucos juntando as peças e chegando mais perto do que está realmente acontecendo. Ela está sempre logo atrás do acontecimento, mas o espectador nunca fica no escuro. É constante a tensão a respeito do que ela deve fazer em seguida – e, de repente, daquilo que é melhor ela não fazer com aquele barrigão.

Certo, então o que faz Fargo ser um filme tão bom? Apesar do tenebroso subtítulo em português (Uma Comédia de Erros), não se trata de uma comédia (pode ser considerado um humor negro, embora eu deteste o termo), mas há muitos erros envolvidos. A resposta está no nome dos envolvidos. Ethan e Joel Coen têm estilo. Os dois escreveram, dirigiram (só Joel está nos créditos) e produziram (dessa vez, só Ethan aparece). Quando uma pessoa sabe filmar com estilo e produz filmes com características únicas, já é algo fantástico (e raro). Agora, imagine o que acontece quando são duas mentes fantásticas unidas! Acontece Fargo.

Ao mesmo tempo em que faz um retrato da vida interiorana dos Estados Unidos, o filme mostra vidas vazias através de um roteiro esperto e cheio de detalhes. Só de descrever dá vontade de assistir novamente para tentar captar mais detalhes e momentos interessantes. Se você ainda não viu, aproveite qualquer oportunidade que aparecer. É um filme em um milhão.

RELACIONADOS

0 recados