Divagações: Hop

Vou admitir, nunca gostei desses filmes sazonais... Sempre me soou como mero oportunismo, e como forma de mercantilizar datas que, naturalme...

Vou admitir, nunca gostei desses filmes sazonais... Sempre me soou como mero oportunismo, e como forma de mercantilizar datas que, naturalmente, já têm até a sua ultima porção de decência sugada pelo mercado. Sim, sim, não me acusem de bolchevique nem peguem suas tochas e ancinhos, sei que existem histórias que merecem ser contadas, independente do setting e que, mesmo assim, esses feriados podem gerar verdadeiros clássicos do cinema! Infelizmente não posso ter certeza se Hop é um destes filmes. Não me entendam mal, o filme não é necessariamente péssimo, mas é, digamos, dispensável.

Para ilustrar o meu ponto, instituiremos aqui uma mera fábula teórica:

Nos últimos tempos, a Appstore da Apple tem sido um espaço extremamente fervilhante e cheio de novas ideias, portanto, uma forma original e interessante de apresentar e divulgar certos produtos. Para propagandear Rio, o maior “rival conceitual” do filme em questão, a produtora resolveu apelar para Angry Birds (se você não sabe do que eu estou falando, Angry Birds é basicamente o maior fenômeno nos jogos casuais desde Pac Man). Hop, por sua vez, escolheu Doodle Jump, um jogo interessante, mas que decididamente já perdeu o seu lugar ao sol.

Acho que esta é uma analogia bastante contundente: Hop é o Doodle Jump do cinema. Tá, é até legal quando você assiste e, talvez, se fosse lançado em outro momento teria feito mais sucesso. Mas com tantas opções com mais personalidade, porque ligaríamos para esse filme?

Acho que o maior responsável por isto é o diretor Tim Hill, o homem por grandes pérolas do cinema como Garfield: A Tail of Two Kitties e Alvin and the Chipmunks (os quais guardam grandes similaridades com Hop). Se você gosta desse tipo de coisa – uma questão pessoal, afinal – o filme é um prato cheio. Mas pra quem simplesmente não consegue engolir CG interagindo com gente somada a uma história bobinha, Hop só consegue incomodar.

Sobre a história, pense em The Santa Clause, filme sempre presente no feriado de final de ano, mas... Passado na páscoa. Inclusive, o roteirista de The Santa Clause 2, Cinco Paul, é quem escreve Hop. O que acontece é que um sujeito comum e, nesse caso, excessivamente sem graça, Fred O'Hare (James Marsden), encontra com um ser lendário em que sempre acreditou, E.B. (Russell Brand), o filho do famoso coelho da páscoa. Ele acaba por eventualmente tomar o seu lugar e o suceder em seu trabalho (antes que alguém me condene, isso não é nenhum spoiler, pois tudo é dito logo no início do filme).

Ou seja, a premissa é bastante primária, assim como a execução, incluindo alguns clichês sobre buscar os seus sonhos e coisas do tipo. Os personagens são excessivamente planos e caricatos, o que chega a irritar em certas partes do filme. Então, não espere por nenhuma surpresa. Mesmo com alguns visuais legais e musicas interessantes, Hop é uma daquelas obras com um apelo exclusivamente infantil e incapaz de conseguir tirar mais do que bocejos do espectador adulto.

Esse resultado é, de certa forma, um retrocesso para a Illumination Entertainment. Depois de Despicable Me, uma obra mais original e que decididamente tinha os seus méritos, apelar para um filme que repete as mesmas ideias que já vimos dezenas de vezes e que não acrescenta nada só para aproveitar o clima de páscoa é um pouco vergonhoso. Enfim, Hop é um “filme marshmallow”, pode até agradar a garotada, mas que você sabe que não terá nenhuma surpresa por detrás daquela embalagem bonita e colorida.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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