Divagações: VIPs

Antes de falar do filme propriamente dito, queria fazer uma observação sobre uma questão que observei nos dois últimos lançamentos de filmes...

Antes de falar do filme propriamente dito, queria fazer uma observação sobre uma questão que observei nos dois últimos lançamentos de filmes nacionais e que me incomodou muito. Afinal, qual é o problema em escalar um ator diferente para encarnar o protagonista mais jovem? Convenhamos que Deborah Secco não convencia como colegial em Bruna Surfistinha (e eu ainda me lembro de como ela era em Confissões de Adolescente). No caso de Wagner Moura em VIPs acho que a situação ficou ainda pior. Colocar uma franja e depois tirar não faz a transição da adolescência para a vida adulta ficar mais natural. Pelo contrário, faz o jovem parecer caricato e forçado – mesmo quando o ator é bom.

Enfim, já deu para perceber que VIPs não figura na minha lista de Melhores do Ano (o quanto antes a gente começa a pensar nessas coisas, melhor). Fui assistir ao filme com expectativas um pouco elevadas, já que o filme tem um dos artistas mais atuantes (e menos irritantes) do cinema nacional, Wagner Moura, e também porque a história original me interessava. Na verdade, continua me interessando: então, se alguém quiser me dar o livro da Mariana Caltabiano de presente, eu aceito.

O filme conta a história de Marcelo (Wagner Moura), um rapaz meio deslocado na escola (e atormentado, também) que descobre ter um talento especial para imitar as pessoas. Inicialmente, ele não sabe muito bem para que usar essa habilidade, mas ela vai se mostrando útil com o passar do tempo. Seu maior sonho é ser piloto de avião e, para isso, ele procura começar por baixo, em um aeroclube na fronteira do Brasil com o Paraguai. Lá, ele aprende a pilotar, mas não vai muito longe. O caminho é atravessar a fronteira e assumir uma nova identidade para crescer em outros ramos na companhia de Baña (Juliano Cazarré). Ainda bem que, quando a coisa dá errado, sempre dá para voltar para os braços da mãe, Silvia (Gisele Fróes). É só nesse momento que Marcelo começa a planejar o golpe que o tornou famoso, quando se passou pelo dono da Gol e acabou dando entrevista ao vivo para Amaury Jr. (que no filme interpreta a si mesmo).

Imagino que a coisa toda poderia ter um enfoque mais divertido, algo como Catch Me If You Can, mas a escolha foi por fazer um apanhado geral da vida do golpista ao invés de retratar apenas sua história mais conhecida. Isso é válido e perfeitamente aceitável, até porque ele se mete em cada buraco que isso merecia aparecer – o detalhe é que, assim, ele fica sendo VIP por bem pouco tempo. Além disso, o filme fica em cima do muro na hora de definir seu protagonista. Ele é mentalmente perturbado ou um grande golpista? Ao deixar essa questão em aberto da maneira como o faz, o filme acaba perdendo sua própria credibilidade para contar essa história. Não se trata de não julgar o personagem, mas de não compreendê-lo.

Mas não fique decepcionado! VIPs conta uma história bastante interessante e sabe montá-la direitinho para que você mantenha os olhos grudados na tela (vantagem clara de ter um protagonista camaleão). Quem não conhece ou não se lembra do ocorrido provavelmente vai sair curioso da sala de cinema. Além disso, o elenco é excelente. Ou seja, tirando essa minha cisma com filme que não honra o título e com roteiros em cima do muro, está tudo certo. Coisa pouca, né?

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