Divagações: Persepolis
1.11.11
Animação. Em preto e branco. Guerra no Irã. Filme baseado em quadrinhos. Digamos que essas características não costumam combinar muito bem entre si, mas elas estão todas presentes em Persepolis e o filme é realmente muito bom.
Baseado na história autobiográfica escrita e desenhada por Marjane Satrapi, Persepolis acompanha toda a história da protagonista, desde a infância até o amadurecimento na vida adulta. Nesse período, ela passa de menina curiosa a adolescente deslocada, de jovem apaixonada a depressiva, até se estabelecer e encontrar uma identidade própria. Ao mesmo tempo em que essa personagem se desenvolve, ela é tomada pelo contexto que a cerca, incluindo a queda de regimes, revoluções populares e conflitos bélicos.
Marji Satrapi (Gabrielle Lopes Benites, na infância, e Chiara Mastroianni, na adolescência e vida adulta), no entanto, não é uma menina comum. Filha de pais comunistas, ela convive com a política desde cedo, chegando a perseguir coleguinhas que eram filhos de rivais políticos de seus pais e a competir com amigos sobre quem tem um parente preso por motivos políticos a mais tempo. Nesse contexto, passa a admirar muito seu tio Anouche (François Jerosme) e sua avó (Danielle Darrieux). Ainda assim, ela tem uma infância feliz. No entanto, a medida que os anos passam, a repressão contra as liberdades individuais diminui e Marji vai estudar na Europa. Nessa nova realidade, ela confronta a si mesma e a realidade de seu país, adquirindo novas perspectivas.
O filme é originalmente em francês (com pitadas de inglês, persa e alemão), o que até faz sentido dentro do contexto da protagonista. Resultado de uma parceria entre França e Estados Unidos, Persepolis ganhou alguns prêmios em festivais pelo mundo afora e chegou a concorrer ao Oscar de Melhor Animação em 2008. Além disso, o filme também foi o representante oficial da França para a categoria de Melhor Filme Estrangeiro, embora não tenha conquistado uma indicação.
Essa boa recepção se deve principalmente ao conteúdo da obra, uma vez que ela não apresenta grandes avanços na área da animação. Aliás, o filme é visualmente bastante simples, pois respeita a identidade do material original, inclusive com a adoção do preto e branco dominante (apenas a personagem do tempo ‘presente’ é colorida). No decorrer da obra, a direção da própria Marjane Satrapi e de Vincent Paronnaud fortalece o clima nostálgico e crítico. Essas características reforçam o fato de que não se trata de um filme para crianças, muito pelo contrário. Nos Estados Unidos, por exemplo, Persepolis foi classificado como PG-13, recomendando atenção aos pais devido a imagens violentas, referência a sexo, alguns palavrões e breve uso de drogas (nada muito pesado, fique tranquilo).
Para assistir Persepolis não é necessário conhecer a história do Irã em detalhes, mas é preciso ter alguma noção sobre o que o país viveu nas últimas décadas. O filme é bastante didático com relação aos revezes políticos, embora seja um tanto quanto parcial (algo mais do que esperado em uma autobiografia, afinal de contas). Quem deseja conhecer um pouco mais sobre o país tem aqui uma boa e interessante introdução.
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