Livros: Conversas com Scorsese

O tamanho pode até assustar, mas as fotos, a diagramação leve e o texto fluido fazem com que a leitura de Conversas com Scorsese passe...

O tamanho pode até assustar, mas as fotos, a diagramação leve e o texto fluido fazem com que a leitura de Conversas com Scorsese passe sem você notar. Eu, aliás, fiz a minha em doses homeopáticas e agora estou triste que o livro tenha acabado – mesmo que, na minha escrivaninha, a pilha de livros ainda não lidos esteja enorme.

Publicado no Brasil pela editora Cosac Naify, o livro tem 520 páginas (o que inclui um índice remissivo bem completo) perfeitamente conduzidas pelo estudioso de cinema, documentarista, resenhista e, nesse caso, entrevistador Richard Schickel. O formato de pergunta e resposta pode parecer cansativo quando passado para um livro, mas a intimidade que existe entre os dois faz com que o diálogo transcorra de maneira natural, às vezes até fugindo um pouco do tema em benefício da conversa. Inclusive, por já possuir uma relação de amizade com Martin Scorsese, Schickel conduz tudo em um bom ritmo e possibilita que o diretor se abra mais sobre pontos delicados de sua vida e carreira.

E que carreira! Scorsese praticamente começou a fazer cinema na infância, quando desenhava enquadramentos sequenciais – hábito que mantém até hoje. Em Conversas com Scorsese, esse passado é retratado aos poucos, uma vez que as entrevistas são ordenadas cronologicamente de acordo com a produção do diretor e cada capítulo se refere a um filme. De I Call First a Shutter Island, todos os longas-metragens estão presentes (inclusive os documentários) e sempre há um pouco da própria história de Scorsese. Além disso, o final do livro também inclui conversas sobre pontos específicos da atuação como diretor de cinema: atores, música, montagem, entre outros. Hugo aparece apenas no posfácio, embora outros projetos do diretor – Silence, em especial – tenham mais espaço.

Ainda assim, esse não é um livro exclusivamente sobre Martin Scorsese. Na verdade, é praticamente a expressão de um ponto de vista sobre a história do cinema. Para o diretor, cada enquadramento ou movimento de câmera tem um significado e o que outros fizeram é extremamente importante. Dificilmente uma página passará sem que haja duas ou três (ou quatro ou cinco) menções a filmes que Scorsese viu na juventude ou redescobriu na fase adulta. É um passeio por westerns, dramas, censuras, filmes do neorrealismo italiano e experiências russas com montagem. Mesmo quem já tem uma boa base sobre o assunto vai ter dificuldades em acompanhar todas as referências do diretor e do entrevistador.

Conversas com Scorsese tem um preço um pouco salgado, mas vale a pena pela qualidade do material (tanto física quanto em conteúdo). A leitura dá vontade de rever os filmes e de conhecer coisas novas, além de trazer novas perspectivas para o trabalho do diretor. É uma obra para quem aprecia cinema inteligente e bem pensado, um livro para iniciados que desejam continuar aprendendo – sempre.

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