Livros: Conversas com Scorsese
5.3.12
O tamanho pode até assustar, mas as fotos, a diagramação leve e o
texto fluido fazem com que a leitura de Conversas com Scorsese passe sem você
notar. Eu, aliás, fiz a minha em doses homeopáticas e agora estou triste que o
livro tenha acabado – mesmo que, na minha escrivaninha, a pilha de livros ainda
não lidos esteja enorme.
Publicado no Brasil pela editora Cosac Naify, o livro tem 520 páginas (o que inclui
um índice remissivo bem completo) perfeitamente conduzidas pelo estudioso de
cinema, documentarista, resenhista e, nesse caso, entrevistador Richard Schickel. O formato
de pergunta e resposta pode parecer cansativo quando passado para um livro, mas
a intimidade que existe entre os dois faz com que o diálogo transcorra de
maneira natural, às vezes até fugindo um pouco do tema em benefício da
conversa. Inclusive, por já possuir uma relação de amizade com Martin Scorsese,
Schickel conduz tudo em um bom ritmo e possibilita que o diretor se abra mais
sobre pontos delicados de sua vida e carreira.
E que carreira! Scorsese praticamente começou a fazer cinema na
infância, quando desenhava enquadramentos sequenciais – hábito que mantém até
hoje. Em Conversas com Scorsese, esse passado é retratado aos poucos, uma vez
que as entrevistas são ordenadas cronologicamente de acordo com a produção do
diretor e cada capítulo se refere a um filme. De I Call First a Shutter Island, todos os longas-metragens estão presentes (inclusive os documentários) e sempre há um pouco da
própria história de Scorsese. Além disso, o final do livro também inclui
conversas sobre pontos específicos da atuação como diretor de cinema: atores, música,
montagem, entre outros. Hugo aparece apenas no posfácio, embora outros projetos
do diretor – Silence, em especial – tenham mais espaço.
Ainda assim, esse não é um
livro exclusivamente sobre Martin Scorsese. Na verdade, é praticamente a
expressão de um ponto de vista sobre a história do cinema. Para o diretor, cada
enquadramento ou movimento de câmera tem um significado e o que outros fizeram
é extremamente importante. Dificilmente uma página passará sem que haja duas ou
três (ou quatro ou cinco) menções a filmes que Scorsese viu na juventude ou
redescobriu na fase adulta. É um passeio por westerns, dramas, censuras, filmes
do neorrealismo italiano e experiências russas com montagem. Mesmo quem já tem
uma boa base sobre o assunto vai ter dificuldades em acompanhar todas as
referências do diretor e do entrevistador.
Conversas com Scorsese tem um preço um pouco salgado, mas vale a pena
pela qualidade do material (tanto física quanto em conteúdo). A leitura dá
vontade de rever os filmes e de conhecer coisas novas, além de trazer novas
perspectivas para o trabalho do diretor. É uma obra para quem aprecia cinema
inteligente e bem pensado, um livro para iniciados que desejam continuar
aprendendo – sempre.
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