Divagações: Séptimo

Já faz algum tempo que cinema argentino virou sinônimo de “filme com Ricardo Darín ”. Ele realmente trabalha bastante e consegue marcar p...

Já faz algum tempo que cinema argentino virou sinônimo de “filme com Ricardo Darín”. Ele realmente trabalha bastante e consegue marcar presença em todo o tipo de produções. No caso de Séptimo, um ator mais novo provavelmente seria mais convincente no papel, mas Darín não faz feio e consegue segurar bem uma história que depende, basicamente, da sua interpretação.

Escrito e dirigido por Patxi Amezcua, que assina o roteiro ao lado de Alejo Flah, o filme acompanha o desespero de um pai, Sebastián (Darín), que perdeu seus filhos (Abel Dolz Doval e Charo Dolz Doval) enquanto as crianças desciam as escadas do prédio, vindas do apartamento no sétimo andar. Em pouco tempo, a falta de segurança do prédio favorece o surgimento de inúmeras possibilidades a respeito do que aconteceu com as crianças.

A situação é um tanto quanto absurda e parece pedir por uma explicação fantasiosa, mas Séptimo consegue manter (tanto quanto possível) os pés no chão. As soluções dadas pelo filme parecem bem razoáveis e o andamento do sequestro segue de acordo com o que se esperaria de uma ocasião como essa. Talvez o final seja um pouco forçado demais, mas não vou entregar nada.

Para garantir o clima de tensão e manter o suspense, Amezcua se foca – literalmente – em Ricardo Darín. A câmera segue o ator tão de perto que os cenários de Buenos Aires passam rapidamente e a cidade só fica realmente visível nas tomadas aéreas. O pai desesperado não parece enxergar um palmo além do nariz, com a profundidade de campo pequena utilizada em boa parte do filme; um recurso eficiente, mas um pouco óbvio e cansativo demais.

A mãe das crianças, Delia (Belén Rueda), o porteiro do prédio, Miguel (Luis Ziembrowski), e o vizinho que também é inspetor de polícia, Rosales (Osvaldo Santoro), são os únicos personagens além do protagonista que ganham um pouco mais de tempo de tela e alguma profundidade. Ainda assim, o mistério está todo nas mãos de Sebastián, que também é quem negocia com os sequestradores e enfrenta pressões externas ao caso. Sinceramente, é um pouco demais para parecer realmente natural.

Aliás, Séptimo é repleto de recursos óbvios. Além dos citados anteriormente, o filme apresenta Buenos Aires como uma cidade violenta logo na abertura, com chamadas de rádio anunciando índices assustadores, mas parece esquecer disso logo após efetuado o sequestro, quando o resto do mundo deixa de ser importante. Os moradores do prédio, as ligações telefônicas para o amigo que tem todos os contatos e o raciocínio dos personagens em busca por soluções também seguem caminhos fáceis.

Não que o filme não tenha seus méritos. Darín está em ótima companhia no elenco e fazia muito tempo que eu não via um suspense mais puro, sem estar oculto por elementos de filmes de ação. É uma opção de cinema mais comercial e tecnicamente muito boa – fotografia impecável, edição caprichada, mixagem de som de acordo –, mesmo que isso implique em um conteúdo mais raso e algumas pontas soltas. Patxi Amezcua, com certeza, poderia entregar algo melhor, mas não chegou a fazer feio.

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