Divagações: Zardoz

Se existem gêneros cinematográficos mais propícios a envelhecer mal, acredito que a ficção científica deva estar no topo dessa lista. Zar...

Se existem gêneros cinematográficos mais propícios a envelhecer mal, acredito que a ficção científica deva estar no topo dessa lista. Zardoz pode parecer uma produção trash atualmente – a ponto de ser citado como um dos 100 filmes ruins mais divertidos por John Wilson, criador do Golden Raspberry Award –, mas na época de seu lançamento (1974), recebeu uma indicação ao Bafta e outra em um festival especializado. Não foram grandes ovações, é verdade, mas elas provam que o filme não passou em branco.

Em um futuro distante, Zed (Sean Connery) acredita ter sido escolhido por seu Deus, Zardoz (Niall Buggy), para matar, procriar e controlar a população. Os humanos não passam de seres ignorantes e a sociedade como conhecemos não existe mais. Contudo, ele passa a desconfiar das motivações dessa criatura divina e acaba entrando em contato com uma comunidade esclarecida e evoluída tecnologicamente. Nesse ambiente próspero e controlado, os humanos são imortais e ele vira objeto de estudo para May (Sara Kestelman), de discórdia para Consuella (Charlotte Rampling) e de rancor para Friend (John Alderton).

Um ponto interessante dessa história é que cada personagem tem motivações próprias. Com o decorrer do filme, todos acabam crescendo e suas personalidades se tornam mais claras, o que é bem diferente do que costumamos ver atualmente, quando todos os personagens ficam óbvios nos primeiros 30 minutos de projeção. Seguindo o mesmo ritmo, os conceitos são apresentados de uma maneira superficial, mas constante, ficando mais complexos com o passar do tempo – mas não exija muito.

Obviamente, para embarcar em Zardoz, é preciso levar em consideração que a produção já tem certa idade, de modo que a tecnologia do futuro foi imaginada com uma perspectiva dos anos 1970. Além disso, os figurinos e penteados tem uma clara influência do movimento hippie. Eles são bem engraçados e acabaram virando o grande apelo do filme com o tempo, afinal, é o Sean Connery jovem (44 anos), barbudo, com de rabo de cavalo preto, peito peludo e sunga vermelha!

Claro que, por mais interessante que a história tente ser, não é possível ignorar os defeitos da produção. Problemas de continuidade, marcações absurdas, ângulos de câmera que não favorecem os atores, entre outros elementos, deixam claro o baixo orçamento. Inclusive, dizem que o diretor e roteirista John Boorman teve dificuldades para encontrar seu protagonista, sendo que Connery aceitou porque estava difícil arrumar trabalho após ter abandonado o papel de James Bond (nove anos depois, ele acabou voltando para Never Say Never Again).

De qualquer modo, Zardoz é uma boa alternativa para quem deseja assistir um filme com um grupo de amigos. Vão rolar muitas risadas, comentários inapropriados, momentos de vergonha alheia e discussões filosóficas. Há quem diga que a produção merece um remake com um orçamento maior, mas suponho que Hollywood continuaria receosa com uma história como essa. Além disso, não percebo um bom motivo para refazer algo que está tão bom da maneira como já existe. Defeitos a parte, o filme consegue apresentar conceitos interessantes, é referenciado com grande frequência e merece ser descoberto constantemente por novos públicos.

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