Divagações: Creed II

ATENÇÃO: O texto abaixo contém spoilers sobre o filme. Em 2015, com Creed , Ryan Coogler conseguiu reviver uma franquia que era uma coi...

ATENÇÃO: O texto abaixo contém spoilers sobre o filme.

Em 2015, com Creed, Ryan Coogler conseguiu reviver uma franquia que era uma coisa do passado, trazendo um toque moderno, mas sem perder o que a tornava especial aos olhos dos fãs. Tudo bem que Rocky Balboa já tinha ensaiado a volta do “Rockyverso” 10 anos antes, mas, ainda assim, isso não foi nada perto da boa sacada de passar a tocha para frente justamente com o filho de um dos personagens mais icônicos da série.

A aposta deu certo e Creed recebeu uma continuação, mas, infelizmente, a produção ficou fora das mãos de Coogler, sendo dirigido pelo bem menos experiente Steven Caple Jr. E a diferença dessa mudança é bastante perceptível, tornando Creed II muito mais um Rocky VIII do que uma sequência orgânica dos temas do filme anterior.

Alguns anos se passaram depois da estreia de Adonis Johnson (Michael B. Jordan) nos ringues profissionais. Se antes ele era um desconhecido que lutava para se provar e ser digno do legado de seu pai, agora ele é um lutador no ápice da carreira, desfrutando de um bom relacionamento com Bianca (Tessa Thompson), com quem ele pretende se casar, e com seu treinador, o famoso Rocky Balboa (Sylvester Stallone). Porém, após conquistar o título dos pesos-pesados, Adonis é desafiado por Viktor Drago (Florian Munteanu), filho de Ivan Drago (Dolph Lundgren) – o homem que matou seu pai em uma luta realizada mais de duas décadas antes.

O que se segue é a velha fórmula dos filmes da franquia, com lutas, montagens de treinamento, conversas motivacionais e tudo mais que já é familiar. Porém, se esses elementos são tão universalmente reconhecidos nesse tipo de produto, por que então eu me senti tão insatisfeito com os resultados?

Quer dizer, não acho que Creed II seja um filme ruim, mas ele é tão claramente inferior ao seu antecessor que não é difícil comparar esse filme com Rocky IV – que muitos consideram como o mais fraco da série clássica (ignorando completamente Rocky V, pois não conheço ninguém que tenha algum apreço). A comparação acontece justamente porque a produção se contenta em jogar seguro e apresentar esses mesmos clichês, tendo um entendimento muito superficial do que torna os outros filmes interessantes. Em Creed, tivemos uma história bastante humana sobre origem, legado e até mesmo sobre mortalidade e velhice. E apesar de ser um filme de boxe, não era apenas isso, coisa que talvez Creed II seja.

Nele, falta espírito e humanidade, e sobra previsibilidade. Você sabe, desde o momento em que Adonis passa a agir como um adolescente mimado, que ele vai perder. Assim, o protagonista precisa reaprender a ser humilde – o que envolve ter uma grande montagem de treinamento – para, depois, derrotar um adversário que antes era impossível. E é exatamente isso que acontece, com desvios aqui ou ali. Mas em nenhum momento você sente que o filme é muito ousado ou corajoso.

Oras, em certo momento, até mesmo me vi torcendo pelo “vilão”, pois seu arco narrativo era bem mais interessante e ele parecia merecer muito mais a vitória do que o protagonista, de modo que legitimamente acharia um spin-off focado em Viktor Drago algo interessante de se ver. Inclusive, ele representa bem melhor o espírito da série, onde um azarão pode vir do meio de uma situação miserável e vencer com base no trabalho duro e esforço, ideal que Creed II parece não respeitar.

Ok, o filme é divertido, a trilha sonora é boa (porém, pouco inspirada) as lutas são bem coreografadas e há bastante tensão. Temos alguns bons momentos emocionais, sobretudo aqueles com Sylvester Stallone, porém, nada é realmente digno de nota. Desse modo, o filme funciona muito bem como duas horas de diversão descompromissada no cinema, mas não vai além disso – o que é um enorme desperdício, já que o longa-metragem poderia ser tão mais. Ao longo da sessão, fica claro que existem alguns temas bem interessantes que poderiam ser melhor explorados, como as diferentes relações de paternidade (ponto em comum a diversos dos seus personagens).

Em relação ao futuro da franquia, não sei se há muito como seguir a partir daqui. O filme queimou tão rapidamente seu combustível que não tenho certeza se é possível aumentar o escopo e criar conflitos sem apelar para algum desfecho ridículo – e, levando em conta o histórico desses filmes, não é algo que me parece tão improvável assim. Só espero que, se isso acontecer, a série consiga encerrar a sua narrativa de um modo que faça jus a toda a história que a antecedeu.

Outras divagações:
Rocky
Creed

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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