Divagações: The Meyerowitz Stories (New and Selected)
24.10.17
Existem controvérsias sobre o fato de Adam Sandler ser ou não um bom ator. Embora eu ache muitas de suas comédias realmente irritantes, admito que ele já apareceu em alguns filmes charmosos – como 50 First Dates – e que sua presença em dramas definitivamente não é incômoda (algo que não se pode dizer de muitos outros comediantes). Dito isso, apenas complemento que The Meyerowitz Stories (New and Selected) exemplifica como Sandler consegue entregar uma performance dramática com alguma leveza, dando um ar simultaneamente atrapalhado, cansado, deslocado e melancólico para ser personagem.
No longa-metragem, Jean (Elizabeth Marvel), Danny (Sandler) e Matthew (Ben Stiller) são três meios-irmãos, todos filhos de Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman), um escultor que atualmente é casado com Maureen (Emma Thompson), que nunca teve filhos. Os três tiveram infâncias difíceis e culpam o pai por muitas das coisas que aconteceram em suas vidas. Jean, a mais negligenciada durante a infância, é a que mais o ajuda durante a velhice. Danny, o único que havia apresentado tendências artísticas, largou o piano, mas agora acompanha os primeiros dias de sua filha, Eliza (Grace Van Patten) na faculdade de cinema. Por fim, Matthew é o filho favorito, mas que se sente trocado por uma versão paternal idealizada de si mesmo.
A princípio, os três são apresentados como pessoas muito diferentes e distantes entre si, tendo encontros esparsos e uma relação meramente educada. No entanto, a organização de uma exibição em homenagem a Harold, a possibilidade de venda da casa onde eles passaram (ao menos em parte) a infância e uma internação do patriarca – tudo quase ao mesmo tempo – acaba forçando uma convivência e os aproxima física e psicologicamente. Com traumas de todos os tipos e recalques infantis, The Meyerowitz Stories acaba se tornando um apanhado de comportamentos que seriam engraçados se não fossem tão genuinamente tristes.
A produção tem roteiro e direção de Noah Baumbach, que é praticamente especializado em retratar conflitos interiores de pessoas comuns. Aqui, ele foge um pouco de seu escopo habitual ao englobar os cinco principais indivíduos dessa família (os filhos recebem mais atenção, mas o pai e sua esposa também têm seus momentos). O papel de Dustin Hoffman, aliás, é também o conflito catalisador da trama, de modo que ele entrega muito menos resposta do que poderia, apresentando uma atuação ao mesmo tempo sutil, intrigante e, convenhamos, irritante (ainda que na medida certa).
Com relação aos filhos, eles possuem problemas com elementos em comum, mas é perceptível que interagiram de maneiras diferentes com as mesmas pessoas – inclusive as mães uns dos outros – e que cada um reagiu de sua própria maneira. Ou seja, o texto da produção é, de maneira geral, muito bem trabalhado e inteiramente focado nos personagens. Ao longo do filme também há alguns momentos dissonantes aqui e ali, ainda assim, eles funcionam justamente pela própria natureza do filme, servindo para acrescentar pequenos absurdos e desconfortos comuns a própria vida.
The Meyerowitz Stories, dessa maneira, é um daqueles filmes delicados, que podem tocar uma pessoa no fundo do coração – especialmente quando há uma identificação em algum grau. Ao mesmo tempo, no entanto, essa não é uma obra fácil, pois lida com personagens difíceis e situações onde há muitas saídas, mas o caminho mais lógico nem sempre é a opção escolhida.
Outras divagações:
Frances Ha
While We're Young
No longa-metragem, Jean (Elizabeth Marvel), Danny (Sandler) e Matthew (Ben Stiller) são três meios-irmãos, todos filhos de Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman), um escultor que atualmente é casado com Maureen (Emma Thompson), que nunca teve filhos. Os três tiveram infâncias difíceis e culpam o pai por muitas das coisas que aconteceram em suas vidas. Jean, a mais negligenciada durante a infância, é a que mais o ajuda durante a velhice. Danny, o único que havia apresentado tendências artísticas, largou o piano, mas agora acompanha os primeiros dias de sua filha, Eliza (Grace Van Patten) na faculdade de cinema. Por fim, Matthew é o filho favorito, mas que se sente trocado por uma versão paternal idealizada de si mesmo.
A princípio, os três são apresentados como pessoas muito diferentes e distantes entre si, tendo encontros esparsos e uma relação meramente educada. No entanto, a organização de uma exibição em homenagem a Harold, a possibilidade de venda da casa onde eles passaram (ao menos em parte) a infância e uma internação do patriarca – tudo quase ao mesmo tempo – acaba forçando uma convivência e os aproxima física e psicologicamente. Com traumas de todos os tipos e recalques infantis, The Meyerowitz Stories acaba se tornando um apanhado de comportamentos que seriam engraçados se não fossem tão genuinamente tristes.
A produção tem roteiro e direção de Noah Baumbach, que é praticamente especializado em retratar conflitos interiores de pessoas comuns. Aqui, ele foge um pouco de seu escopo habitual ao englobar os cinco principais indivíduos dessa família (os filhos recebem mais atenção, mas o pai e sua esposa também têm seus momentos). O papel de Dustin Hoffman, aliás, é também o conflito catalisador da trama, de modo que ele entrega muito menos resposta do que poderia, apresentando uma atuação ao mesmo tempo sutil, intrigante e, convenhamos, irritante (ainda que na medida certa).
Com relação aos filhos, eles possuem problemas com elementos em comum, mas é perceptível que interagiram de maneiras diferentes com as mesmas pessoas – inclusive as mães uns dos outros – e que cada um reagiu de sua própria maneira. Ou seja, o texto da produção é, de maneira geral, muito bem trabalhado e inteiramente focado nos personagens. Ao longo do filme também há alguns momentos dissonantes aqui e ali, ainda assim, eles funcionam justamente pela própria natureza do filme, servindo para acrescentar pequenos absurdos e desconfortos comuns a própria vida.
The Meyerowitz Stories, dessa maneira, é um daqueles filmes delicados, que podem tocar uma pessoa no fundo do coração – especialmente quando há uma identificação em algum grau. Ao mesmo tempo, no entanto, essa não é uma obra fácil, pois lida com personagens difíceis e situações onde há muitas saídas, mas o caminho mais lógico nem sempre é a opção escolhida.
Outras divagações:
Frances Ha
While We're Young
0 recados