Divagações: The Mountain Between Us
26.10.17
Preciso admitir que The Mountain Between Us não é exatamente o meu tipo de filme. Apesar de enxergar valor nesses dramas/romances edificantes, frequentemente me pego pensando o que esse tipo de obra tem realmente a dizer, o que é capaz de acrescentar – e a resposta geralmente não é muita coisa. Porém, The Mountain Between Us se destacava pelo bom elenco e pelo que pareciam bons valores de produção, saindo do clichê do drama urbano e dando uma pegada maior de homem contra a natureza, então, talvez o filme fosse capaz de me surpreender. Infelizmente não foi o que aconteceu.
Ben Bass (Idris Elba) é um médico neurocirurgião com um paciente o esperando para um procedimento. Alex Martin (Kate Winslet) é uma fotojornalista em direção ao próprio casamento. Mesmo sendo completos estranhos, o destino dos dois se cruza quando uma tempestade eminente cancela os seus voos, forçando os dois a fretarem um avião em direção a Nova York. Contudo, um acidente no caminho derruba o pequeno bimotor em uma cadeia de montanhas cobertas de neve. Feridos e sozinhos, os dois se esforçam para sobreviver em meio à imensidão gelada.
De início, toda essa parte de luta pela sobrevivência me chamou a atenção e, pessoalmente, achei ela bem executada. As paisagens das montanhas ao norte dos Estados Unidos no meio do inverno são tão intimidadoras quanto bonitas, o que dá um tom de realidade para a situação, ainda mais com a boa direção que sabe explorar bem o ambiente, com panorâmicas bem aplicadas e um bom senso de escala. Infelizmente, não vemos as marcas físicas desse martírio, pois, apesar dos ferimentos convincentes, o filme não dá ênfase em mostrar as consequências da fome e do frio. Essa característica, apesar de não acrescentar muito ao arco dramático do filme, tira um pouco do peso da jornada e atrapalha um pouco a percepção de tempo do público.
Apesar disso, no fundo, The Mountain Between Us é um filme sobre a interação entre seus personagens. Enquanto Ben é metódico e bastante fechado, Alex é impulsiva e, basicamente, a força motriz por trás da jornada. Como é previsível, os opostos acabam se atraindo e a situação extrema os torna muito mais próximos, com o drama dando lugar a um romance água-com-açúcar bastante previsível e que, provavelmente, é a parte mais desinteressante do filme (além de esticar sua duração em uns bons 20 minutos). Apesar de romances inter-raciais sempre serem bem-vindos em Hollywood, neste caso específico, toda a trama parece ser bem desnecessária, pois apenas o companheirismo e o apoio fraternal entre os protagonistas já teriam sido suficientes para dar a carga emocional necessária ao filme.
Vale acrescentar que o cachorro do piloto (que não tem nome) é uma figura a parte, que acompanha toda a jornada do par pelas montanhas e pode gerar algumas reações conflitantes nos espectadores. Entendo que existem alguns que podem gostar da presença do animal no filme, criando uma empatia e realmente se importando com sua sobrevivência, porém, eu não sou o maior fã de animais domésticos do mundo e me incomodei com a maneira artificial com que ele é inserido no roteiro. Mais de uma vez, eu me perguntei porque os personagens não haviam devorado o bicho em uma situação de extrema fome.
Colocando as decisões dos personagens à parte, The Mountain Between Us não é exatamente ruim, mas é um filme completamente sem substância e que não traz nada de novo senão a sua ambientação. É um entretenimento competente e que pode ser bacana para quem gosta do gênero e não procura por nada mais pretensioso. Inclusive, talvez seja uma boa opção para assistir a dois em uma tarde chuvosa – mas, em meio a tanta coisa com mais personalidade nos cinemas no momento, essa parece ser uma opção bastante secundária.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Ben Bass (Idris Elba) é um médico neurocirurgião com um paciente o esperando para um procedimento. Alex Martin (Kate Winslet) é uma fotojornalista em direção ao próprio casamento. Mesmo sendo completos estranhos, o destino dos dois se cruza quando uma tempestade eminente cancela os seus voos, forçando os dois a fretarem um avião em direção a Nova York. Contudo, um acidente no caminho derruba o pequeno bimotor em uma cadeia de montanhas cobertas de neve. Feridos e sozinhos, os dois se esforçam para sobreviver em meio à imensidão gelada.
De início, toda essa parte de luta pela sobrevivência me chamou a atenção e, pessoalmente, achei ela bem executada. As paisagens das montanhas ao norte dos Estados Unidos no meio do inverno são tão intimidadoras quanto bonitas, o que dá um tom de realidade para a situação, ainda mais com a boa direção que sabe explorar bem o ambiente, com panorâmicas bem aplicadas e um bom senso de escala. Infelizmente, não vemos as marcas físicas desse martírio, pois, apesar dos ferimentos convincentes, o filme não dá ênfase em mostrar as consequências da fome e do frio. Essa característica, apesar de não acrescentar muito ao arco dramático do filme, tira um pouco do peso da jornada e atrapalha um pouco a percepção de tempo do público.
Apesar disso, no fundo, The Mountain Between Us é um filme sobre a interação entre seus personagens. Enquanto Ben é metódico e bastante fechado, Alex é impulsiva e, basicamente, a força motriz por trás da jornada. Como é previsível, os opostos acabam se atraindo e a situação extrema os torna muito mais próximos, com o drama dando lugar a um romance água-com-açúcar bastante previsível e que, provavelmente, é a parte mais desinteressante do filme (além de esticar sua duração em uns bons 20 minutos). Apesar de romances inter-raciais sempre serem bem-vindos em Hollywood, neste caso específico, toda a trama parece ser bem desnecessária, pois apenas o companheirismo e o apoio fraternal entre os protagonistas já teriam sido suficientes para dar a carga emocional necessária ao filme.
Vale acrescentar que o cachorro do piloto (que não tem nome) é uma figura a parte, que acompanha toda a jornada do par pelas montanhas e pode gerar algumas reações conflitantes nos espectadores. Entendo que existem alguns que podem gostar da presença do animal no filme, criando uma empatia e realmente se importando com sua sobrevivência, porém, eu não sou o maior fã de animais domésticos do mundo e me incomodei com a maneira artificial com que ele é inserido no roteiro. Mais de uma vez, eu me perguntei porque os personagens não haviam devorado o bicho em uma situação de extrema fome.
Colocando as decisões dos personagens à parte, The Mountain Between Us não é exatamente ruim, mas é um filme completamente sem substância e que não traz nada de novo senão a sua ambientação. É um entretenimento competente e que pode ser bacana para quem gosta do gênero e não procura por nada mais pretensioso. Inclusive, talvez seja uma boa opção para assistir a dois em uma tarde chuvosa – mas, em meio a tanta coisa com mais personalidade nos cinemas no momento, essa parece ser uma opção bastante secundária.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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