Divagações: Kick-Ass 2
17.10.13
O primeiro Kick-Ass foi uma excelente surpresa para os fãs de quadrinhos. Com uma pegada mais pesada, violenta e realista (mas sem perder o exagero) o filme conseguia ao mesmo tempo desconstruir e parodiar o universo dos super-heróis – que, na época, era apenas a ‘nova grande tendência’ do cinema.
A sua sequência, porém, chegou sem muito alarde, chamando pouca atenção e conquistando uma bilheteria mediana. Dessa forma, ela só estará desembarca em nosso país com mais de três meses de atraso em relação ao lançamento americano (ao menos, estamos melhores que a Argentina, onde o filme chega diretamente para em DVD e Blu-Ray). No entanto, não acho que essa recepção morna faça jus ao filme, já que Kick-Ass 2 é, do seu próprio modo, tão bom quanto o primeiro.
Três anos se passaram da morte de Big Daddy (Nicolas Cage) e Dave Lizewski (Aaron Taylor-Johnson) aposentou o uniforme de Kick-Ass, tentando viver sua vida de estudante normalmente. Já Mindy Macready (Chloë Grace Moretz), mesmo tentando se adaptar, não consegue se livrar da sombra de Hit-Girl e sofre para achar o seu lugar entre as garotas do colegial. Assim, quando Chris D'Amico (Christopher Mintz-Plasse) retorna se autodenominando como The Motherfucker, o primeiro supervilão do mundo, cabe a eles e a outros aspirantes a heróis – como o coronel Stars and Stripes (Jim Carrey) – impedir que o vilão concretize seus planos de vingança.
A partir dessa premissa, Kick-Ass 2 rompe com a direção estabelecida por Matthew Vaughn no primeiro filme, o que pode desagradar aos que esperavam algo bem parecido com o antecessor. Porém, Jeff Wadlow entrega um filme que funciona de sua própria maneira, sendo inferior ao original em diversos pontos, mas superior em muitos outros, contudo, sem descaracterizar completamente os elementos que tornavam Kick-Ass um filme interessante.
Agora, a história perde um pouco de seu tom mais pessoal e a crítica um pouco irônica que permeava o primeiro filme também é bastante reduzida. O público passa a se identificar menos com protagonista, que se torna um personagem mais difícil, regredindo um pouco do status previsamente estabelecido e sendo largamente ofuscado pela personagem de Chloë Grace Moretz. Ela, apesar da idade, ainda é muito fofa e assume um papel central na trama, tornando-se bem mais tridimensional e passando por situações e dilemas interessantes (mesmo que um pouco estereotipadas, admito).
Além disso, o clima de exagero que marcou o final do último filme (e desagradou muita gente) retorna e é presença constante durante toda a trama, sobretudo na megalomania do vilão The Motherfucker e de seus comparsas, com destaque para a halterofilista Olga Kurkulina que interpreta Mother Russia, responsável por algumas das melhores sequências de todo o filme.
A violência, que sempre foi um ponto de destaque, ficou um pouco mais contida, mesmo que esteja presente durante todo o filme. Porém, sinto que essa banalidade tenha nos anestesiado para cenas que deveriam ter um impacto emocional maior, uma vez que, ao menos teoricamente, este filme trata a morte e as consequências das ações dos personagens de modo muito mais pesado, mesmo sem a crueza de seu antecessor.
No final das contas, Kick-Ass 2 tem tudo para agradar quem gostou do primeiro, já que, como dito anteriormente, ele continua tendo “meninas bonitas, super-heróis, diálogos rápidos, gente fazendo coisas idiotas, muitas armas e referências a masturbação”. Ainda que resolva abrir mão de um pouco de sua profundidade, em momento algum o filme deixa de entreter.
Outras divagações:
Texto: Vinicius Ricardo Tomas
Edição: Renata Bossle
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