Divagações: Neko no Ongaeshi

Nem só de Hayao Miyazaki vive o Studio Ghibli ! Neko no Ongaeshi , por exemplo, tem a atuação do famoso diretor apenas como produtor exe...

Nem só de Hayao Miyazaki vive o Studio Ghibli! Neko no Ongaeshi, por exemplo, tem a atuação do famoso diretor apenas como produtor executivo (embora digam que a ideia original também seja dele). Comandado por Hiroyuki Morita, o filme é baseado nos quadrinhos de Aoi Hiiragi e tem roteiro de Reiko Yoshida.

Haru (Chizuru Ikewaki) é uma adolescente atrapalhada, mas de bom coração que, em um gesto impulsivo, acaba salvando um gato que estava prestes a ser atropelado. O detalhe é que esse felino específico era o príncipe Lune (Takayuki Yamada), que acaba se tornando o noivo de Haru mesmo contra a vontade da menina. Desesperada com a graça concedida pelo rei dos gatos (Tetsurô Tanba), ela procura a ajuda de outros bichanos, o misterioso Baron (Yoshihiko Hakamada) e seu ajudante Muta (Tetsu Watanabe).

Com movimentos não muito fluidos, a animação deve causar certo estranhamento para quem está acostumado com um ‘padrão Disney de qualidade’. A verdade é que, originalmente, a obra seria um curta-metragem, mas o pessoal do estúdio se empolgou e resolveu fazer um longa-metragem para a televisão. Como o andamento estava bom, resolveram, por fim, lançar a obra nos cinemas. Ou seja, em nenhum momento existiu um orçamento digno de um grande lançamento, mas a história e o esforço da equipe superaram expectativas.

Aproveitando alguns personagens já utilizados pelo estúdio em papéis menores (ou quase isso), Neko no Ongaeshi não procura ser uma obra profunda ou com grandes significados ocultos. Se há loucura na obra, eu diria que ela lembra Lewis Carroll – apenas troque o coelho por muitos gatos.

Não me entendam mal: gatos falando, estabelecendo monarquias e andando sobre duas patas não são coisas que eu tomaria como ‘normais’, mas acredito que elas podem fazer parte de uma animação sem grandes problemas. Nesse caso, elas adquirem um aspecto bizarro por serem percebidas pelo olhar assustado da relutante protagonista que, apesar de cansada de sua própria rotina, não chegou a pedir por uma aventura.

A moral da história também merece atenção. Ao contrário da maior parte dos contos de fada, onde as meninas sonham com um príncipe e se deixam envolver ao primeiro evento mágico que aparece, Haru não quer que outros tomem as decisões por ela. Ela é boba, ignora bons conselhos e se encanta com o mundo dos gatos, mas sente o perigo de casar com alguém que não conhece e de ser afastada de sua família. Mesmo tendo problemas no ‘mundo real’, ela quer voltar a viver com sua mãe e a frequentar a escola. No final das contas, esse é praticamente um anti-conto de fadas.

Ok. A animação não é das melhores, as proporções são estranhas, os personagens não têm o melhor design do mundo e os cenários deixam a desejar. O Studio Ghibli poderia ter feito algo muito melhor, mas, ainda assim, Neko no Ongaeshi é absolutamente adorável. É um filme que cumpre sua proposta e tem uma estrutura muito bem demarcada, contando uma história que funciona perfeitamente. Quem não gosta de gatos deve encarar como um bom entretenimento, mas quem já tem um carinho pelos bichinhos deve encontrar motivos para muitos ‘owns’ involuntários.

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