Divagações: There's Something About Mary

No final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, os irmãos Bobby e Peter Farrelly representavam a salvação da comédia no cinema. Isso se ...

No final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, os irmãos Bobby e Peter Farrelly representavam a salvação da comédia no cinema. Isso se deriva, em parte, de Dumb & Dumber, lançado em 1994 (e quase se perdeu por causa de Kingpin). Ainda assim, foi com There's Something About Mary que eles se alçaram definitivamente ao estrelato como produtores, diretores e roteiristas. Esse período de auge não foi dos mais extensos, é preciso admitir, mas foi legal enquanto durou.

Mas não se deixe enganar. Por mais que tenha elementos de romance e um protagonista masculino típico das comédias românticas, esse filme valoriza muito mais o cômico, criando uma heroína totalmente irreal, idealizada (dentro de uma perspectiva um tanto quanto machista) e parte de uma premissa absurda (o que é aceitável, afinal, trata-se de uma comédia).

Mary (Cameron Diaz) é uma moça muito bonita e bem-sucedida que teve um breve romance com Ted (Ben Stiller) na adolescência. Como a situação entre os dois nunca teve um encerramento adequado, ele decide buscá-la e, para isso, contrata Healy (Matt Dillon), um cara metido a detetive. O problema é que Healy também se apaixona por Mary e acaba se juntando a outro candidato ao coração da moça, Tucker (Lee Evans), para impedir que ela e Ted fiquem juntos.

Para mostrar o quanto Mary é fantástica, o filme a mostra com um padrasto negro (Keith David), um irmão com deficiência mental (W. Earl Brown) e uma vizinha idosa e carente de atenção (Lin Shaye). Todos esses personagens são estereotipados e as piadas beiram o mal gosto, mas não há nada muito pesado, afinal, o objetivo é justamente valorizar o comportamento politicamente correto da protagonista. Ao mesmo tempo, ela sempre troca de roupa em frente a uma janela aberta e é evidenciado que não parece gostar muito de usar sutiã.

Objetificações a parte, essa mulher ‘perfeita’ tem suas próprias considerações sobre como seria o namorado ideal – e são as escolhas dela que dão os direcionamentos para o rumo da história. Assim, There's Something About Mary é interessante principalmente por não explorar a figura da mulher ridiculamente apaixonada, mas por abusar comicamente dos comportamentos masculinos ‘aguçados’ pela figura de uma mulher considerada praticamente inalcançável. É preciso admitir que essa é uma perspectiva que não se vê todos os dias no cinema.

Por mais que seja pautado por uma sucessão de atitudes absurdas realizadas pelos coadjuvantes, o filme só funciona tão bem (e ele é engraçado até hoje) porque o roteiro é repleto de bons diálogos. A maior parte das piadas físicas – e, em especial, as que envolvem o cachorro – chegam a ser constrangedoras de tão bobas, mas o charme geral permanece. E ninguém consegue esquecer a cena com o gel de cabelo!

There's Something About Mary é uma comédia que marcou uma geração. Não é um grande filme e acredito que talvez não seja lembrado em 10 ou 15 anos (por mais que esteja resistindo na memória há quase duas décadas), principalmente porque suas piadas estão envelhecendo. Ainda assim, é boa a sensação de dar risada daquelas mesmas bobagens... É uma pequena vitória do saudosismo.

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