Divagações: Beware the Gonzo
27.10.15
Para uma jornalista, como é o meu caso, um título como Beware the Gonzo chama a atenção e traz um sorriso ao rosto. O filme segue esse princípio, fazendo referências leves à prática jornalística e a Hunter S. Thompson, mas não sai muito disso. Acima de tudo, essa é uma comédia típica sobre uma high school estadunidense, sendo importante acrescentar que se trata de uma escola particular e que todos os personagens são ricos e mimados (embora os protagonistas disfarcem melhor).
Tudo começa quando Eddie 'Gonzo' Gilman (Ezra Miller) tenta fazer reportagens investigativas para o jornal da escola, mas acaba encontrando resistência por parte de seu editor, Gavin Reilly (Jesse McCartney). Ele, então, junta um grupo de colegas com características destoantes e faz um folhetim concorrente, denunciando tudo o que está errado no lugar – e atraindo a ira do diretor (James Urbaniak).
Entre seus principais parceiros no colégio estão o nerd vítima de bullying, Scott Marshall Schneeman (Edward Gelbinovich); a menina estranha sem amigos, Ming Na (Stefanie Y. Hong); o tarado com preferências excêntricas, Rob Becker (Griffin Newman); e a garota com fama de vagabunda, Evie Wallace (Zoë Kravitz). O detalhe é que, quando eles percebem que estão fazendo algo especial, as coisas começam a sair de controle e a ideia pode se virar contra eles.
Com roteiro e direção de Bryan Goluboff, Beware the Gonzo é repleto de boas ideiais, mas é rodeado de pontos não muito satisfatórios. Como Goluboff tem mais experiência como roteirista, isso é esperado e acho que ele se saiu razoavelmente bem para um diretor iniciante – mas talvez não tenha sido o suficiente para o estúdio, já que não assina mais nada desde então. Na minha opinião, o principal problema é a forma como o protagonista se comunica com o público. A narrativa é similar demais ao que vimos em Easy A, por exemplo (um filme lançado no mesmo ano), mas nem de longe é tão legal. A ideia já não era das mais inovadoras para começar, de modo que ser tão ofuscado por outra produção para o mesmo público deve ter atrapalhado um bocado.
De qualquer modo, a longo prazo o filme se beneficiou pela fama do elenco. Ezra Miller participou de vários filmes de destaque e está criando uma carreira sólida no cinema independente. Por sua vez, Zoë Kravitz está tentando marcar presença da maior quantidade de franquias possível, chamando atenção à força. Os dois são talentosos e funcionam bem em seus papeis, embora eu acredite que seria muito mais legal se Lenny Kravitz realmente interpretasse o pai da moça.
Com um protagonista idealista demais e um tanto quanto retrógrado – ele acha que o jornal impresso é mais interessante que a internet –, Beware the Gonzo tem um objetivo interessante e defende suas causas. O problema é que isso parece ser mais importante que o filme em si e persiste um gosto amargo de que algo está sendo enfiado goela abaixo para o espectador. Não que a mensagem não seja válida – pelo contrário –, mas talvez o filme seja parecido demais com seu próprio protagonista, um menino que prefere perder os amigos, mas não a notícia.
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