Divagações: Horns
8.10.15
Em meio a uma onda de filmes realistas, ver as imagens de Daniel Radcliffe em Horns, com chifres saindo da testa, parecia ao mesmo tempo absurdo e fantástico – com o perdão do trocadilho. Faltava ao cinema um sopro de imaginação que trouxesse elementos inesperados, algo capaz de deixar o público realmente curioso.
No filme, somos apresentados a Ig Perrish (Radcliffe), um rapaz que está sendo fortemente acusado pelo assassinato de sua namorada, Merrin Williams (Juno Temple). Ele alega inocência, mas a opinião pública não está a seu favor – nem mesmo seus pais (James Remar e Kathleen Quinlan) acreditam em sua versão dos fatos. Ao seu lado estão apenas seu irmão, Terry (Joe Anderson), seu melhor amigo e advogado, Lee (Max Minghella), e uma amiga de infância que tem uma queda por ele, Glenna Shepherd (Kelli Garner).
Tudo está indo de mal a pior até que surge um par de chifres em sua testa. O detalhe é que eles possuem algum tipo de propriedade mágica que faz com que as pessoas simplesmente se sintam impelidas a dizer verdades ocultas na frente de Ig. Dotado deste poder e absolutamente descrente na justiça, ele resolve fazer suas próprias investigações.
Ao mesmo tempo em que as revelações surgem, começamos a ter vislumbres do relacionamento do casal, que estava junto praticamente desde a infância. As lembranças mostram não apenas os bons momentos, mas também detalhes do último dia de vida de Merrin, indicando que as coisas não estavam exatamente andando às mil maravilhas.
Todo esse contexto é muito interessante e o andamento de Horns vai bem até que... Não são apenas chifres, mas toda uma iconografia relacionada ao diabo – com direito a cobras, um tridente e até asas. E as coisas começam a ficar nebulosas. Afinal, ele não estava fazendo a coisa certa em querer investigar? Mas porque ele começou a agir de uma forma criminosa sendo inocente? Um crucifixo surge em oposição a tudo isso, mas nada parece possuir um significado religioso real. A partir desse ponto, nada mais faz sentido.
É triste pensar que algo se perdeu em um filme que tinha tudo para dar certo. Ao trabalhar a tensão e explicar melhor o que está acontecendo com o protagonista (ele é um anjo caindo do céu porque perdeu sua fé?), muito poderia ter sido amenizado. A verdade é que, na medida em que aumentam os efeitos especiais, menor é a credibilidade da trama. Não há nada errado em caminhar em direção ao fantástico, mas é preciso que tudo seja embasado e faça sentido dentro daquele universo.
Para completar, o elenco envolvido com Horns é bem competente e merecia um encerramento melhor para todo o mistério. Juno Temple conseguiu expressar os segredos e mistérios de sua personagem de modo a facilitar bastante as coisas para Daniel Radcliffe, que é quem efetivamente precisa segurar a trama. Os coadjuvantes também entregam boas performances, assim como o elenco infantil que aparece em sequências de flashback.
No final das contas, faltou ao diretor Alexandre Aja um pouco da sutileza necessária para fazer de Horns um filme de mistério com elementos sobrenaturais – em oposição a um filme de terror adolescente ou a um mistério kitsch. Não era uma missão fácil e ele conseguiu segurar as pontas durante boa parte do tempo, o que não impediu que tudo desmoronasse em direção a um final previsível, chato e desconfortavelmente cômico.
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