Divagações: Kung Fu Panda 4

Uma história velha como o tempo: depois de um inesperado sucesso, um filme original se torna uma franquia e recebe uma série de continuações...

Kung Fu Panda 4
Uma história velha como o tempo: depois de um inesperado sucesso, um filme original se torna uma franquia e recebe uma série de continuações que, de um modo ou de outro, concluem a jornada narrativa dos seus personagens, “acabando” com uma conclusão lógica. Mas, vários anos depois, executivos movidos pela bancarrota criativa e pela incapacidade de emplacar uma nova obra se sentem obrigados a trazer estes personagens de volta, forçando uma regressão narrativa que degrada o desenvolvimento pretérito. Pois é, se aconteceu com Toy Story, Kung Fu Panda não seria imune à maldição.

Apesar da série estar longe de ser a minha favorita da Dreamworks, acredito que ela tem seus bons momentos e o segundo filme, principalmente, está entre as coisas mais legais do estúdio. Inclusive, como o terceiro longa-metragem já fica um pouco para trás, era realmente melhor ter terminado a história nesse ponto. Mas isso não impediu que Po (Jack Black/Lúcio Mauro Filho) voltasse aos cinemas.

Depois de ter passado os últimos três filmes aprendendo a ser o dragão guerreiro e entendendo seu papel e seu passado, Po agora tem que... se aposentar. Obrigado por seu mestre Shifu (Dustin Hoffman/Leonardo Camillo) a passar o manto para frente e se tornar um líder espiritual, Po resiste à mudança e sai em uma última jornada em busca de The Chameleon (Viola Davis/Taís Araújo), uma vilã que quer trazer de volta adversários do passado. Para cumprir sua missão, o panda recebe a ajuda de Zhen (Awkwafina/Danni Suzuki), uma talentosa ladra que mora na cidade dominada pela feiticeira.

Com uma narrativa central que não se comunica bem com seus personagens e suas histórias pessoais, uma direção extremamente convencional (salvo uma única cena de combate no final do filme) e nenhuma ambição, Kung Fu Panda 4 é a epítome do desnecessário. O detalhe é que não aquele “desnecessário, mas tecnicamente competente” que tivemos com Toy Story 4, mas um tipo que em momento algum se justifica, parecendo ir contra toda a filosofia da série.

Eu até perdoaria a produção se ela fosse só uma viagem de nostalgia para revisitar os personagens mais icônicos depois de quase uma década, porém ela sequer se compromete com isso, eliminando vários deles logo no começo da história e deixando seu rol de vilões (que, vale enfatizar, são o gancho central da história) completamente sem diálogos. Apenas Tai Lung (Ian McShane/Sérgio Fortuna) tem algum semblante de personalidade, mas ainda assim não tem peso ou serventia na história.

Aliás, embora não possa comentar muito a respeito da dublagem internacional, posso dizer que a brasileira permanece sendo de medíocre para baixo. Lúcio Mauro Filho, apesar de ser um ator razoável, não tem o mesmo timing cômico de Jack Black e não injeta a energia que o humor do filme demanda. Já Danni Suzuki está surpreendentemente bem, apesar da personagem em si não colaborar. Por fim, a performance de Taís Araújo é bem fraca e até mesmo amadora, o que esvazia a personalidade da antagonista.

Como eu não esperava muito de Kung Fu Panda 4, também não posso dizer que fiquei desapontado. Eu sabia que esse era um filme destinado a produzir mais falhas do que acertos, considerando o histórico da Dreamworks. Nem mesmo o excepcional Puss in Boots: The Last Wish salvou o estúdio dos seus problemas, com Ruby Gillman, Teenage Kraken tendo sido apenas mais ou menos e outras produções recentes, como a sequência de Megamind, sendo consideradas bombas colossais.

Ao mesmo tempo, não tenho dúvidas de que o carisma de Jack Black e a força que a franquia ainda tem possam produzir resultados positivos nas bilheterias internacionais. Como um filme para um público bem mais novo, ele até funciona, sobretudo porque troca a ação de seus antecessores por um humor meio besta. Mas, se você for ao cinema esperando qualquer coisa com mais substância, Kung Fu Panda 4 está bem longe disso. Suponho que, mesmo os curiosos, podem muito bem esperar para ver o filme em casa.

Outras divagações:
Kung Fu Panda 2
Kung Fu Panda 3

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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