E se a Marvel resolvesse fazer um filme de terror? Algo com muita violência, vários sustos e uma trilha sonora impactante, mas, ainda assim, inegavelmente uma produção sobre um super-herói? E se chamassem Sam Raimi – um diretor com experiência nesses dois mundos – para dirigir? Tudo isso parece muito estranho, mas eu suponho que não há um lugar melhor para coisas esquisitas que em um longa-metragem chamado Doctor Strange in the Multiverse of Madness.

Eu (obviamente) não sei como essa proposta surgiu, mas a verdade é que o estúdio costuma chamar diretores com características bem fortes para comandar suas produções e, de um modo ou de outro, todos acabam deixando suas marcas. Ainda que pareça existir uma fórmula na forma como essas histórias são contadas e exista uma conexão entre todos os filmes (e séries), os melhores dele se destacam justamente por possuírem uma identidade. A estratégia, contudo, não é livre de riscos.

Doctor Strange in the Multiverse of Madness, por exemplo, não consegue me convencer por completo. Eu levei vários sustos e realmente me surpreendi com algumas sequências; até que a mágica se quebrou, eu estava rindo do que não devia e a produção virou uma grande galhofa aos meus olhos. Em parte, o horror meio cômico e exagerado é intencional, mas ele não caiu como deveria e atrapalhou minha conexão com a história justamente quando ela deveria ganhar intensidade.

De qualquer modo, o longa-metragem se passa pouco após os acontecimentos de WandaVision e Spider-Man: No Way Home – caso você não tenha visto um deles, eu recomendo dar uma boa olhada antes de ir ao cinema (especialmente WandaVision). E se você tem uma base mais ampla em relação ao universo cinematográfico da Marvel, esse conhecimento será proveitoso (em outras palavras: não comece por aqui ou você não vai entender nada).

Em resumo, Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) está vivendo sua vida quando encontra uma garota misteriosa, America Chavez (Xochitl Gomez), que alega ter a capacidade de viajar entre os multiversos (outro nome para realidades paralelas). Como a menina está sendo perseguida por uns monstros bizarros, ele decide pedir a ajuda de Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) para resolver a situação, mas acaba descobrindo que a “mandante” dos ataques é ela mesma, que está interessada em ir a outro multiverso.

Com isso, temos uma verdadeira batalha entre dois heróis muito poderosos e já conhecidos do público, o que é algo bem interessante considerando que os vilões geralmente surgem e desaparecem a cada filme (na minha humilde opinião, os melhores são justamente aqueles que não envolvem computação gráfica e que continuam aparecendo aqui e ali). Wanda, aliás, é a grande estrela de Doctor Strange in the Multiverse of Madness, pois é a única personagem com uma motivação real (os demais estão meramente fugindo dela) e por alternar entre seu uniforme de feiticeira (?) e uma homenagem a Carrie (!).

Ainda que o longa-metragem como um todo não tenha me convencido, essa (tentativa de) mudança de tom e o fato dele não se preocupar em apresentar muitas novidades (elas existem, mas não demandam um aprofundamento) têm seus méritos.

Afinal, trata-se de um grande exercício narrativo, criando um conflito entre duas grandes forças e vendo o que acontece, ao mesmo tempo em que se despeja uma grande quantidade de referências, vindas de diferentes lugares. Poderia ser mais arriscado visualmente e pegar com mais força as características do terror? Poderia e seria uma ótima ideia, mas vai ficar para uma próxima.

Doctor Strange in the Multiverse of Madness é o filme maluquinho que se propôs a ser. Nem tudo funciona, mas há várias coisas interessantes e a quebra de ritmo sempre vale a pena para que se saiba que há outros caminhos a serem percorridos. Tenho certeza de que esse será o filme favorito de alguém por aí.

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