Divagações: A Serious Man

Pela primeira vez desde que comecei a escrever nesse blog resolvi ler outras resenhas de um filme antes de escrever sobre as minhas próprias...

Pela primeira vez desde que comecei a escrever nesse blog resolvi ler outras resenhas de um filme antes de escrever sobre as minhas próprias impressões. Não sei se foi o sono, o cansaço ou a burrice, mas, quando A Serious Man terminou, a pergunta que ficou no ar foi: “E o que eles quiseram dizer com isso?”.

Outros metidos a entendidos como eu disseram que trata-se de uma obra reflexiva sobre religião. Claro, esse é um tema bastante presente – principalmente através das figuras dos três rabinos e suas maneiras de aconselhar. Mesmo assim, para mim, o dilema não é bem esse.

No filme, acompanhamos o dia a dia do professor Lawrence ‘Larry’ Gopnik (Michael Stuhlbarg, ótimo). Ele é um homem de meia idade, casado, com dois filhos, que mora em uma boa casa e que está prestes a se estabelecer como professor em uma universidade. Todas essas coisas começam a desabar sozinhas, sem que Larry faça qualquer esforço para segurá-las. Só para piorar, seu irmão Arthur (Richard Kind) está encrencado com a polícia e depende dele para ter onde morar.

O que irrita no filme é a personalidade passiva de Larry. Ele apenas segue as regras da sociedade (e da religião) sem qualquer traço de vontade própria. É essa falta de vitalidade que faz com que sua filha tenha uma personalidade irritante, seu filho use drogas, sua esposa o troque por um amigo da família etc.. Tudo o que ele quer, na verdade, é ser reconhecido como um homem sério, mas ninguém o percebe tamanha é a sua nulidade.

Para mim, esse é o real tema do filme. Tanto é que as únicas cenas em que Larry toma atitudes importantes durante o filme não são mais do que sonhos do personagem. Não é somente a religião que ele questiona, é a ele mesmo e todos os aspectos da sua vida. Afinal, quem é reconhecido como “um homem sério” é o homem que está tendo um caso com sua mulher (e com dinheiro vindo de uma fonte questionável).

O filme todo é muito sutil. Não só em seu protagonista, mas em cenários e figurinos. Todas as mulheres são estranhamente parecidas (talvez seja por serem todas judias, embora o mesmo não aconteça com os homens) e as diferenças estão nos detalhes. Isso incomoda, principalmente quando o espectador estiver procurando por mais cor e um ritmo mais acelerado.

Outro motivo de estranhamento são as constantes palavras em hebraico. É perceptível que a intenção era justamente essa (preciso dizer que a direção é dos irmãos Coen?), mas isso é enfatizado para quem está acostumado com legendas para tudo. Nesses momentos, os significados são perceptíveis pelo contexto e pelas ações dos personagens – algo que não deixa de ser bastante interessante.

Ao final, sobra apenas a sensação de vazio e incompreensão. Pode ser o sono, o cansaço ou a burrice. Esse é um filme difícil e com um público bem específico. Também sobra uma dúvida: o que aconteceu com o velho da historinha contada no início do filme? Um desses entendidos que andei pesquisando disse que é uma fábula tipicamente judaica e que resume os dilemas do protagonista. Achei válido.


Obs.: Na minha pesquisa encontrei muitas resenhas que diziam, diziam, diziam e não diziam nada. Espero que as minhas tenham pelo menos um pouco de conteúdo real.

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