Divagações: Biutiful
11.2.11Quando eu soube de Biutiful, achei que o diretor Alejandro González Iñárritu iria arrasar. A presença constante em prêmios só aumentava minha espectativa, mas – ao mesmo tempo – o filme não estava levando nada para casa. Tirando um ou outro prêmio da crítica, mas nada muito relevante. O filme aguentou até a última peneirada e figurou entre os indicados para Melhor Filme Estrangeiro no Oscar desse ano, mas não é o favorito. Ainda assim, conseguiu emplacar outra indicação: Melhor Ator para Javier Bardem.
Mesmo concorrendo como representante do México, a história se passa na Espanha, mais precisamente em Barcelona. Javier Bardem é Uxbal. Ele cria sozinho seus dois filhos, já que a mãe das crianças, Marambra (Maricel Álvarez), tem problemas psicológicos e é viciada em álcool. A situação financeira da família é péssima e Uxbal trabalha negociando com os imigrantes ilegais. Ele faz desde a negociação de salários até a intermediação com a polícia, mas sofre porque tem sentimentos e não gosta de explorar as pessoas. Para ganhar um extra, ele utiliza seu dom para se comunicar com pessoas recém-falecidas que ainda não conseguiram se libertar da vida na Terra. A vida já seria ruim o suficiente se ele não descobrisse que está prestes a morrer, mas esse conhecimento era necessário para que ele próprio não deixasse assuntos pendentes.
Nem preciso dizer que a maior parte das pessoas que viram o filme o definiram como “triste” e que muitas choraram. A temática por si só já é trágica, ainda mais aliada à pobreza extrema e à crueldade das relações humanas. Sinceramente, se você está triste ou não anda se sentindo bem consigo mesmo, não vá ver Biutiful. Mesmo que, apesar de tudo, o filme seja lindo.
Lindo em um sentido poético, claro. Tudo o que o filme mostra é feio: as paredes, as casas, os ambientes, as ruas e até as pessoas. Só a neve se salva. A Espanha retratada está bem longe da imagem de “país de primeiro mundo” que temos, principalmente porque o que vemos é a Espanha dos imigrantes e dos marginalizados. Ao contrário das novelas e dos próprios filmes de Hollywood, não há espaço para a alta sociedade em Biutiful, pois ela está longe demais até para conviver com esse universo.
Ainda que se passe em meio a tanta pobreza e desgraça, o filme tenta manter o foco também em outros assuntos como a família e a morte. O diretor, Alejandro González Iñárritu, consegue manter esse equilíbrio com um trabalho extremamente delicado. Seu estilo particular de narração está mais uma vez presente, tornando Biutiful um filme ainda mais intrigante, marcante e triste. Por sua vez, Javier Bardem completa o conjunto, trazendo uma atuação contida, mas capaz de mostrar toda a carga emocional de um homem em um olhar, um pequeno gesto ou uma entonação de voz. Mesmo não sendo o favorito, ele mereceu a indicação ao Oscar – a primeira na categoria de Melhor Ator por um trabalho totalmente em espanhol. Biutiful, sem dúvida, não seria um filme tão bom sem a parceria desse competente ator e do poético diretor.
Então, porque o filme não está sendo tão premiado quanto o esperado? Talvez os concorrentes sejam simplesmente melhores ou a estética “terceiro mundana” não agrade muito, há ainda a possibilidade da tristeza não estar na moda. Resumindo: não sei. Resta apenas esperar para ver se o filme será lembrado em cinco ou dez anos. Afinal, isso costuma ser mais importante que um simples aviso de “vencedor do Oscar”.
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