Divagações: Anna Karenina (2012)

Quando eu li pela primeira vez o livro de Tolstói  em que esse filme se baseia, provavelmente era muito nova para entendê-lo em toda a su...

Quando eu li pela primeira vez o livro de Tolstói em que esse filme se baseia, provavelmente era muito nova para entendê-lo em toda a sua profundidade – aliás, talvez eu ainda seja. Contudo, não pude deixar de ficar absolutamente encantada com cada detalhe, com os costumes, as regras da sociedade e os comportamentos. Ainda apaixonada pelo livro, vi a adaptação de 1997, mas ela não me conquistou.

O filme conta a história de Anna Karenina (Keira Knightley), uma bela mulher que casou muito jovem, tem um filho pequeno e vive uma posição respeitável na sociedade ao lado de seu marido, Karenin (Jude Law). Após uma viagem para Moscou, ela encontra um jovem oficial do exército, Vronsky (Aaron Taylor-Johnson), que a encanta profundamente. O rapaz, contudo, está prestes a se comprometer com sua sobrinha, Kitty (Alicia Vikander), que, por sua vez, acabou de recusar a proposta de casamento de Levin (Domhnall Gleeson).

Encarnada por Sophie Marceau, Vivien Leigh e Greta Garbo, a protagonista é uma das mulheres mais fortes – e mais sensíveis – da literatura. Assim, a escalação de Keira Knightley me deu frio na barriga, mesmo que ela e o diretor Joe Wright trabalhem bem em parceria. Por mais que existam quase trinta adaptações da obra – entre filmes para o cinema e séries de televisão –, um fracasso poderia criar uma aversão de Hollywood pela trama, que já não é muito popular em suas características intrínsecas.

Embora não possa ser chamada de um grande sucesso, Anna Karenina conseguiu chamar a atenção e se sair bem. A produção, inclusive, conquistou o Oscar na categoria de Melhor Figurino – por mais que as mangas constantemente caídas de Keira Knightley me incomodem, isso funciona bem na caracterização da personagem. As cores das roupas também representam um elemento bem interessante e merecem a atenção do público.

O filme, aliás, é repleto de pequenos detalhes que fazem toda a diferença. A narração é realizada como se a Rússia do século XIX fosse um teatro com cenários particularmente elaborados. Os atores se movem de um a outro deixando clara a presença dos bastidores, chegando inclusive a usá-los para a ação. Isso é bastante interessante e chama a atenção, mas também quebra um pouco a imersão na história, ficando mais difícil para o espectador embarcar naquele universo.

Outro aspecto curioso é o ritmo forte de algumas cenas, tanto em aspectos sonoros quanto coreográficos (reparem nas sequências envolvendo Matthew Macfadyen e seu ambiente de trabalho). Dá até para dizer que Anna Karenina beira o musical e, convenhamos, isso combinaria bem com o lado mais teatral da produção. O único aspecto que o afasta do gênero é a falta de brilho do elenco, já que todas as direções estão voltadas para Keira Knightley e Aaron Taylor-Johnson efetivamente não convence no papel de um grande conquistador.

A propósito, é possível dizer que, ao invés de se expressar somente em palavras, o diretor resolver levar algumas camadas de complexidade para os aspectos visuais do filme. Isso deixa a obra muito mais interessante cinematograficamente, embora confunda os mais apegados ao texto.

De uma forma contraditória, essas pequenas coisas são mais facilmente perceptíveis por quem sabe o que está prestes a acontecer, deixando o filme mais próximo aos admiradores da obra original. Particularmente, eu gostei de ter essa oportunidade de me encantar novamente com uma história já conhecida, ainda que de uma forma completamente distinta. Anna Karenina é um filme pare ser aproveitado em todos os seus aspectos, merecendo ser visto e revisto diversas vezes.

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